14.09.2016
A PERGUNTA FUNDAMENTAL
Salmo 15
1 Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? 2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, 4 que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, 5 que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado!
A chave da sabedoria
Quando criança, nós queremos respostas para tudo. É a forma que logo encontramos de descobrir o mundo. Quando crescemos, nós aprendemos que a pergunta certa é mais importante do que a resposta certa. Isto porque a resposta certa para a pergunta errada é a resposta errada. Experimente, por exemplo, comprar um carro, contratar alguém, ajudar um amigo, escolher um curso, uma profissão ou se casar sem fazer as perguntas certas.
Perguntar a coisa certa faz toda a diferença. Digamos que, na cabeça dele, o jovem tenha encontrado a esposa certa. Ele chega pro pai e pergunta: “Pai, ela não é linda?”. O pai responde: “Realmente, ela é uma moça muito bonita.” Resposta certa ou errada? Errada. Na verdade, o jovem estava perguntando o seguinte: “Pai, o que o senhor acha de eu casar com ela?”
A pergunta errada sempre nos levará a uma resposta errada, mesmo que a resposta seja certa. Por isso que o pai sábio, à pergunta errada do filho, reformularia a questão, dando uma resposta certa: “Filho, realmente, ela é muito bonita, mas ela é uma moça piedosa? Seria uma boa mãe? Você a vê como uma auxiliadora idônea? Os planos dela para o futuro encaixam-se com os seus? Quais são os planos de vocês? Vocês já oraram sobre o assunto? Etc.”
Saber fazer a pergunta certa é a chave da sabedoria.
O Salmo 15 trata da pergunta certa; trata, aliás, da pergunta fundamental. De todas as perguntas que alguém poderia fazer na vida, a que lemos no verso 1 é a fundamental.
Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?
Quem poderá viver e desfrutar da presença de Deus? Essa é a pergunta fundamental: quem é a pessoa salva? Agora, cuidado! A proposta do salmista não é oferecer uma prescrição para a salvação, mas apresentar uma descrição da pessoal que foi salva.
Charles R. Swindoll nos informa que, certa vez, Benjamim Franklin intitulou o Salmo 15 de “O Salmo do cavalheiro”. Para o estadista norte-americano, esse Salmo representa o padrão de vida pelo qual todo cavalheiro deveria pautar o seu caminhar. No entanto, o Salmo 15 ficaria melhor descrito como “O Salmo do cristão”. Não por apontar o caminho através do qual alguém agradará o Senhor e assim poderá obter salvação, mas por informar o fruto de vida que alguém que o tenha encontrado agora produz.
O Salmo 14, que nós estudamos na semana passada, revelou que havia dois grupos de pessoas em Israel: o “dos malfeitores” e o “dos justos” (Sl 14.4-5). O primeiro grupo havia abandonado a lei – eles não aprendiam nem oravam -, já o segundo era o dos remanescentes fieis, o grupo daqueles que mantiveram viva a fé em Israel. O Salmo de hoje, Salmo 15, ensina que os justos se destacam dos malfeitores pelas suas obras. Ouçam as palavras do profeta Malaquias e vejam como o nosso Salmo tem esta conotação:
Ml 3.17-18 | 17 “No dia em que eu agir”, diz o Senhor dos Exércitos, “eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece. 18 Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem.
O salvo em Jesus Cristo se destaca dos demais por causa de suas obras de justiça. Assim é que a vida do justo é pautada pelas respostas à pergunta fundamental: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?” (Sl 15.1). Portanto, o que a pergunta fundamental revela sobre a vida do justo?
1. A pergunta fundamental revela o desejo dos justos
Sl 15.1 | Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?
Este salmo era assustador para os judeus. Diz-se que o rabino Gamaliel o lia, chorando, com a pergunta: “É preciso fazer tantas coisas assim para se salvar?”. O Talmude, código das leis judaicas, diz: “estes onze preceitos resumem os 613 mandamentos da Torá de Moisés” (Torá é a palavra para “Lei”). Para os doutores da Lei, portanto, o Salmo 15 contém onze recomendações que a pessoa deve seguir para agradar a Deus.
Observações à interpretação dos judeus
Não há 613 mandamentos na Lei. Os judeus “descobriram” este número pelo seu hábito de fazer “jogadinhas” e “pegadinhas” com a Escritura. Achavam que o corpo humano tinha 248 ossos, e assim “acharam” 248 mandamentos positivos. Como o ano tem 365 dias, “acharam” 365 mandamentos negativos. Somando positivos e negativos chega-se aos 613 mandamentos.
“Habitar no santuário” e “morar no santo monte” (v. 1) são paralelismos para designar a morada no céu, na presença de Deus. A pergunta para eles é: como fazer para ser salvo? Há onze respostas, todas apontando para o que se devia fazer ou não fazer. O conceito de salvação judaico (também de muitos outros hoje em dia) é por obras, não por fé. É o da salvação pela bondade e pela retidão pessoal.
A questão do ponto de vista do Novo Testamento
Como Jesus viu esta questão? O moço rico (Mt 19.16-30, Mc 10.17-31 e Lc 18.18-30) lhe fez a pergunta do Salmo 15: “que bem farei para herdar a vida eterna?” (Mt 19.16). Jesus mandou guardar os mandamentos (genérico e não os dez) e ele pergunta “quais” (Mt 19.17-18). Jesus cita mandamentos de relacionamento horizontal (homem e homem), como o caso do Salmo 15 (Mt 19.18-19). O moço diz que sempre os guardou. Mas lhe faltava algo, ele sabe (Mt 19.20).
Mt 19.18-20 | 18 “Quais?”, perguntou ele. Jesus respondeu: “‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, 19 honra teu pai e tua mãe’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’”. 20 Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?”
O que, afinal, ainda lhe faltava?
Jesus responde, nos três casos, mandando-o vender tudo e segui-lo (Mt 19.21, Mc 10.21 e Lc 18.22). Os três evangelistas foram bem precisos: é preciso seguir a Jesus acima de qualquer outro valor.
Voltando ao Salmo 15, na perspectiva do Novo Testamento
O Novo Testamento é a palavra final de Deus (Hb 1.1-2). Ele completa o Antigo. Nós somos regidos pela palavra de Jesus e não pela de Moisés ou de algum profeta (Mt 17.3-5). É o Novo Testamento que responde nossas perguntas.
A questão de Salmo 15.1 foi reformulada pelo moço rico e respondida por Jesus: segue-me. Não é o que fazemos ou o que deixamos de fazer. É a quem seguimos. Quem segue a Jesus morará com Deus. Isto se chama salvação pela graça, por meio fé em Cristo (Ef 2.8). O judeu não via isto. Nós vemos. Por causa de Jesus. Graças a ele estamos salvos.
Na perspectiva do Novo Testamento, portanto, a pergunta do salmista não prescreve uma condição, mas descreve um desejo: desfrutar de Deus para todo o sempre. Davi deixou isso muito claro no Salmo a seguir.
Sl 16.5,11 | 5 Senhor, tu és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro. […] 11 Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita.
A pergunta fundamental revela o desejo do justo; isto é: a alegria plena da presença de Deus. Quem assim não deseja a Deus não pode dizer que é salvo.
Agora, como vive o justo? de que forma ele se destaca do ímpio? Veremos a seguir.
2. A pergunta fundamental remete ao destaque dos justos
Sl 15.1-5 | 1 Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? 2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, 4 que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, 5 que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado!
De acordo com o nosso Salmo, são onze os traços que destacam os justos dos injustos. Chamamos de destaques e não de deveres pois entendemos que todos são fruto do Espírito agindo no cristão. Não são nem poderiam ser obras da carne.
É curioso que tudo o que se “requer” do justo neste Salmo diz respeito ao seu relacionamento com o próximo. Nada aqui descreve como deve ser o relacionamento do homem com Deus. Note que, em se tratando de se aproximar de Deus, impressionantemente, nada se fala sobre sacrifício ou expiação. Os “mandamentos” são horizontais (homem e homem) e não verticais (homem e Deus). Por quê?
O correto é ler este Salmo na perspectiva da vinda do Messias. Sem Cristo é impossível agradar a Deus nem se conseguirá praticar o que está dito no Salmo. Por isso que o cristão o lê como alguém que já teve o seu problema com Deus resolvido, já foi salvo. Tudo foi graciosamente resolvido por Deus em Jesus Cristo. Agora, pela fé, ele se apropria dos benefícios da cruz. Uma vez salvo, o justo se destaca na forma de amar o próximo.
O amor a Deus está declarado na forma como ele fez a pergunta fundamental: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte?” Ele quer o Senhor. Ele ama o Senhor. Quem ama o Senhor e foi salvo pelo Senhor, dá provas de seu amor por Deus, bem como de sua salvação, na forma de amar, em seu amor pelo próximo.
O apóstolo João compreendeu muito bem este Salmo, quando ele afirmou:
1Jo 3.10-12 | 10 Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus, tampouco quem não ama seu irmão. 11 Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. 12 Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas.
Os justos amam. Quem é nascido de Deus se destaca pela prática da justiça. Três são as áreas de destaque: caráter, conduta e conversa.
O justo se destaca pelo caráter
2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, 4 que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, 5 que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente.
O justo se destaca pela conduta
2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, 4 que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, 5 que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente.
O justo se destaca pela conversa
2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, 4 que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, 5 que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente.
O justo se destaca pelo caráter, pela conduta e pela conversa.
3. A pergunta fundamental reforça o destino dos justos
Sl 15.5 | Quem assim procede nunca será abalado!
O justo está seguro nas mãos do seu Senhor.
Jo 10.28-29 | 28 Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. 29 Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai.
Quem a Cristo se rendeu, recebendo-o pela fé, jamais perecerá.
A pergunta fundamental
Fazer a pergunta certa é a chave da sabedoria.
Sobre a salvação, Tomás de Aquino escreveu que três coisas são necessárias:
Saber o que se deve crer, o que se deve desejar, como se deve viver.
Deve-se crer em Cristo, desejar a Deus acima de tudo e de todos e viver em retidão e justiça. O Salmo 15 é um bom começo.
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