19.10.2016
O MINISTÉRIO DA CRIAÇÃO
Salmo 19.1-6
Para o mestre de música. Salmo davídico.
C. S. Lewis, que por muitos anos foi professor de literatura em Oxford e reconhecido autor evangélico, especialmente pelos sete volumes de As Crônicas de Nárnia, escreveu um belíssimo livro sobre os salmos. Comentando sobre o Salmo 19, ele disse:
Considero este salmo o maior dos poemas do Saltério e um dos maiores poemas líricos do mundo.
Lírico é o gênero de poesia em que o poeta canta as suas emoções e os seus sentimentos mais íntimos. Dessa forma, o Salmo 19 é realmente um poema lírico digno de nota. Ele nos convida a exaltar a Deus por sua revelação magnífica. Davi olha tanto para a obra da criação (vv. 1-6) como para a Bíblia Sagrada (vv. 7-11) e, de tão encantado, expressa-se em versos cantados de louvor e de adoração.
Ademais, o salmista nos convida a exaltar a Deus por suas declarações não verbais impressionantes na obra da criação, pois revelam o seu quase indescritível poder criativo;
Sl 19.1-6 | 1 Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. 2 Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. 3 Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. 4 Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele armou uma tenda para o sol, 5 que é como um noivo que sai de seu aposento e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. 6 Sai de uma extremidade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor.
depois Davi nos convoca a exaltar a Deus por suas declarações verbais incomparáveis na composição da Lei, pois revelam a vontade perfeita do Senhor para as nossas vidas;
Sl 19.7-11 | 7 A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. 8 Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. 9 O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas. 10 São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. 11 Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes.
Davi finaliza nos chamando a exaltar a Deus por sua maravilhosa graça, que nos salva e nos santifica, firmando os nossos pés sobre uma rocha segura.
Sl 19.12-14 | 12 Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço! 13 Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão. 14 Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!
O meu objetivo hoje à noite é chamar sua atenção para o ministério da Criação (v. 1-6); ou seja: desejo mostrar a você como Deus ministra às nossas vidas através da obra da criação.
Ministério negligenciado
Se o Salmo é um convite a exaltarmos a grandeza da glória de Deus através da Criação, por que nós não fazemos isto com mais frequência?
Se Deus ministra às nossas vidas através da beleza da natureza que ele criou, por que nós não nos beneficiamos disto com regularidade?
Penso que a rotina da vida urbana moderna (com todas as suas demandas, pressa, correria, edifícios altos, asfaltos, luzes, salas de aula e reunião, carros com vidros espelhados e fumês, etc.) nos rouba desse magnífico ministério sagrado. Elizabeth Barrett Browing (poetisa inglesa da época vitoriana) afirmou corretamente:
A terra está repleta do céu, e o arbusto mais ordinário arde em chamas de Deus; mas somente os que veem isso tiram as sandálias dos pés. O restante, assenta-se em redor e colhe amoras pretas.
Além das demandas da vida urbana moderna, entendo que há outro fator que nos rouba dos benefícios do ministério da obra da Criação de Deus: a falta de intencionalidade. Deixe-me explicar melhor.
Todos nós somos amantes da beleza: enviamos e-mails bonitinhos; pregamos imagens bonitas na parede; visitamos lugares bonitos; casamos com pessoas bonitas; etc. Amamos o que é belo. Por quê? Porque a beleza ministra em nossas vidas; ela traz-nos alegria, realização, contentamento, etc. Deus nos fez assim.
Onde entra a intencionalidade?
Por exemplo, você em visita a Roma, na Itália, sabe que tem a obrigação de visitar a Capela Sistina e, uma vez lá dentro, deve olhar para o teto a fim de contemplar a beleza inigualável da obra de Michelangelo. Ou, em visita a Ouro Preto, em Minas Gerais, precisa visitar as igrejas repletas de arte barroca. Ou, em passagem por Goiás, deve ir a Caldas Novas, a Pirenópolis, a Goiás Velho, ao Rio Araguaia; etc.
O que estou tentando dizer é que você e eu, quando em visita a esses ou outros lugares, intencionalmente buscamos contemplar o que há de mais belo para nos beneficiarmos com essas belezas. Fazemos assim com tudo na vida, menos com a obra da criação. Aliás, só fazemos quando saímos de férias. Pagamos caro por uma viagem para contemplarmos a natureza que Deus criou. Coisa que temos de graça, todos os dias, diante dos nossos olhos em todo e qualquer lugar que passamos. A beleza está no olhar.
Pergunta: Quantos aqui contemplaram o céu no dia de hoje? Uma flor? Uma planta? Um animal? Uma paisagem natural? E exclamou: “Glória a Deus! Que coisa linda!”.
Através da obra da criação Deus ministra em nossas vidas. Ele ministra alegria – diante de tanta criatividade e beleza, esperança – quando observamos que Deus controla as estações, e humildade – pois somos apenas criaturas diante de tão poderosa e vasta criação. Mas, há algo mais que Deus ministra à nós através da obra da criação. Ele se revela.
1. O que vemos quando olhamos para o céu
É claro que a natureza revela a si mesma. É claro que a criação revela o esplendor da beleza da natureza ao nosso redor. Contudo, há algo mais magnífico do que a própria natureza sendo comunicado pela obra da criação, pela própria natureza; isto é: Deus!
Sl 19.1 | Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
A natureza aponta para Deus e não para si mesma.
2. Céus que falam
A natureza que vemos – e até a natureza que não conseguimos enxergar com os nossos próprios olhos – não está muda. A natureza fala.
Sl 19.2 | Um dia * discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.
* Discursa: esguicha, jorra, cospe.
Deus fala conosco através da natureza que ele criou. Deus comunica conhecimento, beleza, prazer, graça e glória.
3. Os céus falam sem palavras
A criação aponta para Deus. A criação comunica conhecimento sobre Deus. A criação também fala. Tudo isso sem palavras.
Sl 19.3 | Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som;
Como pode ser? Como pode haver comunicação sem palavras?
Através de cores e de contrastes; de formas e de proporções; de desenhos e de movimentos; em magnitude e em pequenez, etc. Palavras ditas requerem de nós ouvidos para ouvir; palavras escritas requerem de nós olhos para ler; palavras não ditas através da criação requerem de nós ouvidos e olhos para contemplarmos na mente e no coração as maravilhas de Deus na obra de suas mãos.
4. Mesmo sem palavras os céus falam de Deus
Dia e noite, sem cessar, céus e terra, e tudo o que neles há, falam de uma só coisa: Deus. A natureza não fala, em última instância, da natureza; não somos como os panteístas da Nova Era (panteísmo defende que Deus é a soma de tudo quanto existe).
Deus não é a natureza. A natureza não é Deus nem é mãe. Deus criou a natureza e tudo o que há (Gn 1.1; Jo 1.1-3).
Ao criar os céu e a terra e tudo o que neles há, o que Deus quis comunicar?
Sl 19.1-4 | 1 Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. 2 Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. 3 Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; 4 no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo.
Toda obra de criação comunica pelo menos duas coisas de imediato àqueles que a contemplam: [1] identificamos o tipo de obra; se pintura, escultura, etc.; sabemos que alguém esculpiu ou pintou aquela obra de arte; [2] descrevemos a obra, se feia ou bonita, aconchegante ou assustadora. Etc.
Pergunta: Por que tratamos assim toda obra de arte e nem sempre a obra da criação (a natureza)? Por que reconhecemos uma pintura como sendo de Michelangelo, por exemplo, e a obra da criação como sendo fruto de evolução e acaso?
Davi, ao compor o seu salmo, expressa como nós devemos observar a obra da criação: [1] é uma obra criada; com estética, proporção, cores, contrastes, desenho inteligente, etc.; [2] é uma obra gloriosa. É bela. É perfeita. É indescritível tantas vezes. Revela a glória de quem a criou – a glória de Deus.
Pergunta: Por que Deus revela a sua glória também na Criação e não apenas na Palavra?
A glória de Deus não é uma realidade que pode ser contemplada apenas em palavras. Palavras não podem descrever plenamente como é a glória de Deus. Nem tão pouco descrever o que acontece no coração humano quando se contempla a glória de Deus. Precisamos também da obra da Criação.
5. Os céus proclamam a glória de Deus
Vimos que os céus apontam para Deus. Eles, mesmo sem palavras, falam de Deus. Davi diz que os céus proclamam a glória de Deus. Este é o tema central de Salmo 19.1-6.
Agora, definir ou descrever a glória de Deus não é tarefa fácil. Eu diria que é humanamente impossível. Por isso, teremos toda a eternidade para contemplar e celebrar essa glória. Ou seja, nunca chegaremos ao fim. Nunca contemplaremos a glória de Deus de forma exaustiva. Nunca celebraremos suficientemente a glória do Senhor. Contemplar e celebrar a glória de Deus tomará toda a eternidade – um tempo que nunca terá fim!
A glória de Deus na Bíblia fala de sua grandeza, bondade, beleza, atitudes, amor, graça, juízo; enfim, de caráter e de ações (A Paixão de Deus por sua Glória, John Piper, p. 200-18). Assim, chamo sua atenção para a forma como Davi fala da glória de Deus neste salmo, pois se trata de como é viver diante da glória de Deus, aqui na terra, bem como no céu.
Sl 19.4-6 | 4b Aí, pôs uma tenda para o sol, 5 o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. 6 Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.
Há duas imagens usadas por Davi aqui neste salmo que servem para descrever o impacto da glória de Deus na vida daqueles que a contemplam: o noivo e o atleta.
Como noivo que sai dos seus aposentos
Você consegue enxergar o que Deus quer que vejamos nesses versos – e também quando contemplamos o sol todos os dias? Deus quer que enxerguemos uma única coisa. O sol, do nascente ao poente, fala de uma única coisa. O quê?
Como o noivo, no dia de seu casamento, o sol desfila alegremente. Davi, portanto, quer que vejamos e sintamos alegria ao contemplar a glória de Deus na obra de sua criação.
A glória de Deus é uma coisa alegre, como a alegria de um noivo no dia de seu casamento.
Como herói a percorrer o seu caminho
Não há maior alegria para um maratonista do que ver, logo adiante, a linha de chegada. Principalmente se ele é o primeiro colocado na competição.
A glória de Deus é a realidade mais alegre de todo universo. Ela alcança todos os lugares e pessoas (nada refoge ao seu calor – v. 6).
Sl 19.4-6 | 4b Aí, pôs uma tenda para o sol, 5 o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. 6 Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.
Deus quer, através da obra da criação, revelar-nos não apenas a beleza de sua glória, mas também a alegria que invade o coração daqueles que a contemplam.
Deus não quer que você e eu passemos pela vida apenas colhendo e comendo amoras pretas (o que é uma delícia). Deus quer nos dar muito mais do que isso. Ele quer que desfrutemos da alegria que é contemplar a sua glória.
Isaías 24.14 | Eles levantam a voz e cantam com alegria; por causa da glória do SENHOR, exultam desde o mar.
Isaías 35.1-2 | 1 O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso. 2 Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará; deu-se-lhes a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Sarom; eles verão a glória do SENHOR, o esplendor do nosso Deus.
Receba a Cristo e contemple a glória de Deus em seu rosto (2Co 4.4-6).
Mais episódios da série
Os Salmos
Mais episódios da série Os Salmos
Mais Sermões
17 de junho, 2022
7 de fevereiro, 2018
5 de março, 2023
25 de fevereiro, 2020
Mais Séries
Salmo 19.1-6 – O Ministério da Criação
Pr. Leandro B. Peixoto