08.02.2017
DESCANSO
Salmo 23
Salmo de Davi.
1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.
Fatiga
“Ele me faz repousar em verdes pastos […]”
Estamos vivendo numa época de fadiga extrema, fruto da pressa e da agitação que nossos dias requerem do homem tecnológico. A rapidez das mensagens, das redes sociais, dos e-mails, enfim, das demandas que o avanço tecnológico proporcionou, tem nos exaurido. Nossas mentes estão cansadas. Nossos corpos estão cansados (e acima do peso). Nossos corações estão cansados. Nossas almas e emoções estão cansadas… Olhando ao redor, percebemos que todos estão, de alguma forma, agitados e exaustos – em todos os sentidos. É como se vivêssemos no meio de um redemoinho constante e incessante de coisas, onde milhares de estranhos turbilhões, no curso da vida, parecessem nos apanhar diariamente, redemoinhando ao nosso redor, levando-nos daqui pala ali e de lá para acolá, a ponto de dificilmente sabermos onde estamos e por qual razão ali estamos.
Não é à toa que nos tornamos campeões no consumo de analgésicos, relaxantes musculares, antidepressivos e tranquilizantes, além dos complementos vitamínicos e dos energéticos. Gente!, é remédio para fazer dormir, fazer acordar e fazer ficar alerta e em pé.
A vida se tornou uma montanha-russa de emoções: alegrias e tristezas; motivação e depressão; risos e lágrimas; ódio e amor; satisfação e insatisfação; medo e coragem… Todas essas emoções antagônicas colidem dentro daquela pequena coisa que nós chamamos de “eu”; e o resultado é que nos tornamos suficientemente fatigados, a ponto de adoecer na alma e no corpo.
O pior é que não há tempo para descanso. Tudo se move com a rapidez do relâmpago. A sensação é de que se parássemos e nos moderássemos por um momento sequer, os outros nos ultrapassariam tanto que nos sentiríamos como se nunca mais pudéssemos alcançá-los. Além, é claro, do sentimento de culpa por não se estar “produzindo”; do medo de não conseguir o bastante para amanhã; do desejo de se ter para se sentir feliz (ter coisa nova, ter corpo escultural, ter companhia agradável, ter, ter, ter…).
O Senhor é o meu pastor… não me faltará descanso.
Ora, é em situação tão crítica que o Senhor Jesus vem e se oferece ao cristão, como Bom Pastor capaz de guiar cada uma de suas ovelhas para lugares tranquilos, onde elas podem se deitar e descansar de corpo e alma. Observe…
1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos […]
Tendo estabelecido o tema do salmo, o que vimos em mensagens anteriores, Davi começa agora, à partir do verso 2, a desenvolver a figura de linguagem. A primeira delas fala do descanso que o Bom Pastor provê para as suas ovelhas.
W. Phillip Keller (Nada me faltará, ed. Betânia, cap. 3) nos dá um dado muito curioso com relação a ovelha: por causa da própria constituição do animal, é quase impossível para ela se deitar, a menos que se satisfaça em quatro condições. É preciso que ela esteja sem medo, sem atrito, sem moscas ou insetos e sem fome.
Insegura por natureza, a ovelha se recusa a deitar-se, a não ser que ela esteja plenamente tranquila e sem medo. Outra coisa: o temperamento do animal o impede de se deitar enquanto houver quaisquer atritos com outras ovelhas. Também, se ela estiver sendo incomodada por moscas e parasitas, jamais se deitará. Ela só consegue relaxar quando está livre de insetos. Por último, a ovelha não se deita enquanto estiver com fome. Assim é que para se deitar ela precisa estar bem alimentada e satisfeita.
Medo, atrito, insetos e fome tiram a paz da ovelha, impedindo-a de repousar para descansar. Agora, o aspecto singular desse quadro é que somente o pastor, a presença dele, pode proporcionar a ela a tranquilidade, livrando-a de suas ansiedades e servindo-a em suas necessidades.
A presença do pastor garante às ovelhas paz e segurança. Uma vez no meio delas, ele espanta os lobos e acalma as ovelhas. Só de vê-lo, some do coração delas o temor.
Diz-se que num rebanho, ovelhas mais velhas mantêm posição de prestígio com marradas – i.e.: cabeçadas, batendo de frente, empurrando com a cabeça. Elas sempre escolhem os melhores lugares e nunca descansam, pois vivem para garantir os seus privilégios. As mais novas, por sua vez, sempre se levantam para defender seus direitos e responder ao desafio da marrenta. Esse conflito contínuo, essa competição constante dentro do rebanho se constitui num fator debilitante para os animais. Eles se tornam nervosos, tensos, insatisfeitos e inquietos. Emagrecem e ficam irritáveis.
De novo, apenas a presença do pastor é capaz de trazer ordem, justiça e paz em meio aos atritos. Como? Ao perceberem a presença do pastor, ao olharem para ele, as ovelhas se esquecem umas das outras e se concentram nas ações de seu guia e cuidador.
Sobre as moscas, insetos e carrapatos, no verão é quando as ovelhas são mais afligidas. Atormentadas, é impossível para elas se aquietarem e repousarem. Ficam sempre em pé, sacudindo as pernas e os lombos, abanando a cabeça, sempre querendo correr para o mato em busca de alívio. Logo, a presença do pastor é essencial para aplicação individualizada de tratamento e de medicação. Sem o pastor elas sofrem.
Outra coisa, os maiores rebanhos de ovinos (ovelhum, gado ovino) do mundo estão localizados em regiões áridas ou semi-áridas. Nesses lugares de clima seco, elas se acham menos expostas a problemas de saúde e a parasitas. Não se espante, pois, quando somos guiados à aridez. Nos lugares secos nós ficamos mais imunes. Só que há um problema.
Nessas regiões, não é natural nem comum encontrarem-se pastos verdejantes. Geralmente a terra é seca, estéril, queimada e desértica; com pouca água por perto e infestada por animais peçonhentos. Logo, os pastos verdes não surgem como que por encanto; é resultado do trabalho árduo do pastor que precisa limpar o solo, arrancar espinheiros, raízes e tocos, espantar animais peçonhentos, arar, semear, irrigar e cuidar das plantações de forragem que servirão para alimentar o rebanho. Logo, sem o pastor não há pasto; sem pasto não há comida; sem comida não há satisfação. Insatisfeitas, as ovelhas não se deitam nem repousam.
Descanso
Assim como é com as ovelhas é também conosco: medo, atrito, parasitas e fome tiram-nos a paz. Sem paz não há descanso. É preciso ter paz para poder descansar. A paz para o descanso é proporcionado pelo Pastor, porque, de fato, ele mesmo é essa paz. Lemos em Efésios 2.14 que “Cristo é a nossa paz”.
Há duas espécies de paz referidas nas Escrituras Sagradas. Em Romanos 5.1 é ensinado que temos “paz com Deus”. Em Filipenses 4.7, que temos a “paz de Deus”. Nesses dois versículos temos a própria verdade que estamos procurando demonstrar – a verdade que muitos crentes, pessoas que receberam Cristo como Senhor e Salvador, nunca o conheceram como seu Pastor.
A paz da qual fala Romanos 5.1 é aquela paz que todo crente regenerado tem com Deus. A batalha terminou. O pecador se rendeu e aceitou os termos de paz do Calvário. Recebeu Cristo como sua única base de aceitação perante o Deus santo. Agora ele goza de paz no que diz respeito aos seus pecados e à culpa que disso advém. Goza de paz com Deus.
Em Filipenses 4.7, entretanto, vemos que precisamos possuir a paz de Deus. Trata-se de algo inteiramente diferente. A paz de Romanos 5.1 salva a alma; restabelece o relacionamento. A paz de Filipenses 4.7 guarda o coração e a mente; revigora a alegria. A paz de Deus nos resguarda da aflição, do temor e da incredulidade no amoroso cuidado diário de um Pai celestial que é bom demais para não ser gentil, e sábio demais para cometer erros. É sobre essa paz que a maioria dos crentes regenerados pouco ou quase nada conhecem, pelo que também pouco ou nada sabem a respeito das pastagens verdejantes de descanso do Salmo 23. Encontraram o Salvador da culpa do pecado; porém, oh! como necessitam encontrá-lo na qualidade de Pastor, no Salmo 23!
A quantidade de crentes professos hoje em dia é espantosa. Porém, em lugar de contemplarmos um exército de gente descansada no Senhor, que aprendeu a esperar nele, como nos recomenda o Salmo 37.7
Aquiete-se na presença do SENHOR, espere nele com paciência. Não se preocupe com o perverso que prospera, nem se aborreça com seus planos maldosos.
o que vemos é uma multidão de ovelhas fatigadas, nervosas, temerosas e adoecidas. Não há descanso. Parece que o rebanho está sempre tenso. Ao mais leve som estranho as ovelhas se impacientam. O balido constante de inquietação ecoa longe.
No entanto, o bendito Pastor anuncia em Lucas 12.32:
Não tenham medo, pequeno rebanho, pois seu Pai tem grande alegria em lhes dar o reino.
Mas infelizmente as ovelhas receiam confiar nele, e por isso não há descanso.
O Pastor as chama para deitarem-se em verdes pastos, mas elas temem deitar-se; precisam estar sempre prontas para correr de alguma coisa ou para alguma coisa, pois estão certas que o Pastor não pode cuidar.
Pobres, fatigadas, aflitas e famintas ovelhas! Como precisam saber que a presença do Pastor é garantia de segurança! Como precisam saber que ele é capaz e suficiente para as livrar de qualquer perigo, e que, se ao menos quiserem deitar-se e descansar e comer em paz, ele “trabalhará em favor dos que nele esperam” (Is 64.4). Essa é a “paz de Deus”, que guarda o “coração” e a “mente” em lugar de doce descanso, dia após dia.
A paz que o Bom Pastor dá se encontra em Romanos 5.1, mas, a paz que ele mesmo é se encontra em Filipenses 4.7; e tudo isso só será possível se ele for a nossa paz (Ef 2.14); se ele se fizer presente em nossas mentes e corações pela fé. Afinal, se ele é o nosso Pastor, “nada nos faltará” no que concerne ao descanso.
Venha e receba-o.
Mt 11.28-30 | 28 Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29 Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma. 30 Meu jugo é fácil de carregar, e o fardo que lhes dou é leve.
Prove e veja.
Jo 14.27 | Eu lhes deixo um presente, a minha plena paz. E essa paz que eu lhes dou é um presente que o mundo não pode dar. Portanto, não se aflijam nem tenham medo.
Se o Senhor for o seu pastor não lhe faltará descanso, pois ele lhe fará repousar em pastos verdejantes – destemidamente, pacificamente, sadios e satisfeitos.
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