18.01.2017
O SALMO DA OVELHA
Salmo 23
Salmo de Davi.
1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.
A pérola dos Salmos
O Salmo 23 é um dos, senão o, mais querido de todos os 150 salmos. Provavelmente ele seja um dos textos mais conhecidos e mais amados de toda a Bíblia. Charles H. Spurgeon (pastor batista inglês), considerado o príncipe dos pregadores, definiu este salmo como “a pérola dos salmos”. Alexander Maclaren (pregador batista leigo que nasceu na Escócia e viveu de 1826 a 1910), ao escrever sobre o Salmo 23, comentou:
O mundo poderia ter poupado a produção de muitos livros bem maiores do que este pequeno salmo ensolarado. Ele já secou muitas lágrimas e forneceu o molde em que muitos corações derramaram sua fé tranquila.
Não é sem motivos, portanto, que milhares de pessoas ao longo dos séculos tenham, de tantos outros, memorizado este que é a pérola dos salmos. Pensando nisso, iniciaremos hoje uma série de mensagens sobre o Salmo 23 – uma série dentro da série nos Salmos. Vale a pena refletirmos detalhadamente sobre cada palavra desta maravilha divina.
Antes, porém, permitam-me apresentar-lhes duas razões mais bem elaboradas para o nosso estudo detalhado deste Salmo.
A familiaridade com o Salmo 23
O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará.
Quem não conhece esse versículo? Quem nunca o recitou?
Somos todos muito bem familiarizados com essa porção das Escrituras. Familiaridade é coisa muito boa, mas oferece grandes perigos. Alguém sabiamente já disse: “Ninguém dá valor àquilo com o que já está acostumado”. A associação constante com alguém ou com alguma coisa tem o poder de gerar em nós apreciação ou aversão. Assim é que, infelizmente, a longa familiaridade com uma passagem da Bíblia, como por exemplo o Salmo 23, pode fazer com que alguém perca a apreciação, não sentindo mais o impacto dele em suas vidas. Tristemente, esse tem sido o caso com essa pérola dos Salmos nas mãos de milhares de crentes verdadeiramente regenerados.
Quantas não são as pessoas que conhecem, leem e recitam esse versículo: “O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará.”, mas não desfrutam plenamente dessa verdade revolucionária, transformadora. Isso porque na prática é muito mais fácil reconhecer e desfrutar do Senhor Deus como Salvador do que como Pastor – é muito mais fácil se dar a alguém que nos perdoa do que se entregar a alguém que cuida de nós.
Robert Ketcham, comentando sobre o Salmo 23, anotou o seguinte:
O crente deve prosseguir para a perfeição, ultrapassando alguns princípios fundamentais, sem abandoná-los, todavia. Ele não deve viver eternamente na contemplação gloriosa do perdão de seus pecados mediante a crucificação do Bom Pastor. O apelo, aqui, é para que prossigamos, desse ponto vantajoso, para uma experiência mais completa, mais rica, mais profunda e mais doce – um conhecimento maior do que o Pastor ressurreto deseja fazer por ele, aqui e agora. Essa é a história do Salmo 23… Ele nos oferece a mais alta, mais larga, mais profunda e mais gloriosa experiência para a qual Deus pode liderar um crente regenerado, enquanto ele estiver do lado de cá do céu.
Não podemos, portanto, deixar que a familiaridade nos roube o poder do Salmo 23. Estudá-lo detalhadamente nos dará uma visão alargada do Bom Pastor.
A canção aflita das ovelhas assustadas
Além da familiaridade, outra razão para nos determos com cuidado no estudo do Salmo 23 é que nele encontramos, como disse Charles R. Swindoll, a canção aflita das ovelhas assustadas.
Swindoll, em seu comentário neste salmo, afirmou corretamente que poucas batalhas interiores são mais ferozes que a opressão diária da incerteza ou da ansiedade. Quantos de nós nunca enfrentou as suas muitas faces? Estamos falando de situações como: a luta com a escolha de uma carreira ou do cônjuge; uma nova direção na vida; o propósito na dor e no sofrimento; a estabilidade de emprego; as pressões financeiras; as incapacidades físicas ou as enfermidades; os problemas com pais, filhos ou parentes; perseguição, maledicência, violência ou coisas do tipo; além de uma infinidade de outros problemas confusos, não resolvidos rápida ou facilmente. Foi para horas sombrias de incerteza que Davi escreveu uma canção que nós conhecemos como o Salmo 23.
Portanto, “quando as provações da vida nos empurram para o limite, e os nossos corações estão muito pesados, este magnífico salmo nos apontoa para o Bom Pastor, oferecendo conforto e tranquilidade, especialmente para aqueles que carecem do sentimento seguro da presença permanente do Senhor Deus”, comentou Charles Swindoll.
A analogia das ovelhas com os filhos de Deus
Antes de nos concentrarmos nos pormenores deste salmo, o que – Deus permitindo – faremos nas mensagens a seguir, consideraremos a analogia das ovelhas com os filhos de Deus que está no centro deste salmo davídico.
Como canção aflita de uma ovelha assustada, o Salmo 23 contém a análise que Davi (a ovelha assustada) faz de sua vida na companhia de seu Pastor. No registro das experiências do salmista com Deus nós podemos destacar algumas similaridades entre as ovelhas desamparadas e os fracos filhos de Deus, especialmente quando eles perambulam longe da presença de Deus. Saiba, pois, que a analogia não é lisonjeira. Vejamos seis…
1 – Ovelhas não têm senso de direção. Diferentemente de gatos e cães, por exemplo, ovelhas podem se perder facilmente – mesmo no ambiente familiar de seu próprio território. O mesmo acontece com os crentes. Não podemos guiar a nós mesmos. Dependemos da palavra de Deus, da voz do Bom Pastor.
2 – Ovelhas são praticamente indefesas. A maioria dos animais possui um meio de defesa bastante eficiente: garras afiadas; dentes; velocidade; casco duro; habilidade para se esconder; asas para voar; faro, visão e audição aguçados; força; ferocidade; etc. Mas as ovelhas são desajeitadas e fracas, carecendo de tudo o que os demais animais possuem para autodefesa e que ela mesma não possui. Suas pernas são finas, os cascos pequenos, muito lentas, e nem mesmo possuem um rosnado feroz. São totalmente indefesas! A única proteção certa para as ovelhas é o pastor forte e sempre vigilante ao seu lado. O mesmo se aplica ao crente, que é advertido a ser forte “no Senhor” (Ef 6.10).
3 – Ovelhas são facilmente assustadas. Sendo ingênuas, inexpressiva em porte físico e muito conscientes de sua fraqueza, as ovelhas só encontram conforto na presença de seu pastor, incluindo as canções tranquilizadoras à noite. Davi fez menção a esse tipo de relacionamento quando escreveu noutro salmo:
Sl 27.1 | O SENHOR é minha luz e minha salvação; então, por que ter medo? O SENHOR é a fortaleza de minha vida; então, por que estremecer?
4 – Ovelhas, por natureza, são porquinhas. Outros animais lambem-se, raspam-se, rolam na grama para se limparem. Ovelhas não. Elas permanecerão indefinidamente sujas a menos que o pastor limpe-as. Nós também somos, por natureza, impuros e sujos. Longe da limpeza de nosso Bom Pastor (1Jo 1.7-9), permaneceríamos para sempre sujos.
5 – Ovelhas não conseguem encontrar alimento ou água. Enquanto outros animais possuem um aguçado sentido de olfato, as ovelhas dependem completamente de seu pastor. Se deixadas por sua própria conta, elas comerão ervas venenosas e morrerão. E quando uma faz isso, as outras a seguem como líder. O mesmo conosco, filhos de Deus.
6 – A lã das ovelhas não pertence às ovelhas. Embora as ovelhas produzam lã, o pastor é o dono da lã. Toda produção espiritual genuína na vida dos cristãos pertence ao Senhor. O Senhor, por meio do Espírito Santo, provê toda essa produção. Em todos os sentidos, como se pode notar, somos certamente “seu povo, o rebanho que ele pastoreia” (Sl 100.3).
O hino da ovelha
Nos próximos encontros nós desembrulharemos a ideia de que Jesus Cristo, o Senhor, é o nosso Bom Pastor, e depois descobriremos cada detalhe de todas as provisões garantidas neste salmo ao crente. Por ora, fiquemos com a ideia de que o Salmo 23 é o salmo da ovelha.
No Pastor a ovelha encontra tudo de que precisa. No Senhor não há falta de coisa alguma, por isso a ovelha canta em segurança:
Eu não terei falta de descanso ou provisão – por quê?
“Ele me faz repousar em verdes pastos”
Eu não terei falta de paz ou refrigério – por quê?
“me leva para junto de riachos tranquilos”
Não faltará restauração ou incentivo quando enfraquecer, falhar ou cair – por quê?
“Renova minhas forças” ou “Refrigera a minha alma”.
Não terei falta de orientação – por quê?
“me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome”
Não terei falta de coragem quando o meu caminho estiver escuro – por quê?
“Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo,”
Eu não terei falta de companhia – por quê?
“pois tu estás ao meu lado.”
Eu não terei falta de consolo constante – por quê?
“Tua vara e teu cajado me protegem (consolam).”
Eu não terei falta de suprimento – por quê?
“Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos.”
Não faltará força e honra – por quê?
Unges minha cabeça com óleo;
Não passarei necessidade – por quê?
“meu cálice transborda.”
Não faltará a presença permanente de Deus – por quê?
Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.
Tudo isso só nos é possível por causa do que Cristo, o Bom Pastor, fez pelas suas ovelhas:
Jo 10.11-15 | 11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor sacrifica sua vida pelas ovelhas. 12 O empregado foge quando vê um lobo se aproximar. Abandona as ovelhas porque elas não lhe pertencem e ele não é seu pastor. Então o lobo as ataca e dispersa o rebanho. 13 O empregado foge porque trabalha apenas por dinheiro e não se importa de fato com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor. Conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15 assim como meu Pai me conhece e eu o conheço; e eu sacrifico minha vida pelas ovelhas.
Arrependa-se e creia – arrependa-se de querer ser o seu Deus e provedor; creia: submeta-se ao cuidado do Bom Pastor.
Sua alma cantará: o salmo da ovelha – o Salmo 23.
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