15.02.2017
REFRIGÉRIO
Salmo 23
Salmo de Davi.
1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.
Sede
“Ele … me leva para junto de riachos tranquilos.”, diz o verso 2.
Vivemos num mundo seco e salgado. Quantas vezes a areia das tempestades penetra em nossos olhos e as lágrimas fluem como se fossem rios! Quantas vezes o sal das dificuldades entra em nossas bocas e deixa-nos ressequidos e ávidos por água fresca! Nem sempre as coisas correram como tínhamos imaginado. Pelo contrário, o sal de um desapontamento amargo sempre penetra pelos lábios já ressequidos e a areia do sofrimento castiga os nossos olhos, fazendo-nos sofrer e chorar.
Com os olhos lacrimejantes e a garganta e os lábios ressequidos pelas dificuldades da vida, começamos a procurar correntes de águas frescas – seguindo os nossos próprios caminhos -, mas não as encontramos com facilidade. Além de ser uma atitude pecaminosa, as águas que geralmente encontramos não se sustentam, pois não estão ligadas à fonte inesgotável da vida. Observe a experiência de Israel.
Jr 2.5-7, 11- 13 | 5 Assim diz o SENHOR: Que defeito seus antepassados encontraram em mim, para que se afastassem tanto? Foram atrás de ídolos inúteis, e eles próprios se tornaram inúteis. 6 Não perguntaram: ‘Onde está o SENHOR, que nos tirou do Egito em segurança e nos conduziu pelo deserto, uma terra árida e cheia de covas, terra de seca e densa escuridão, onde ninguém vive e pela qual ninguém passa?’. 7 E, quando eu os trouxe para uma terra fértil, para desfrutar sua fartura e as coisas boas que ela produzia, vocês contaminaram minha terra e corromperam a herança que eu lhes tinha dado. […] 11 Alguma vez uma nação trocou seus deuses por outros, mesmo que não sejam deuses de verdade? Meu povo, no entanto, trocou seu Deus glorioso por ídolos inúteis! 12 Os céus se espantam diante disso, ficam horrorizados e abalados, diz o SENHOR. 13 Pois meu povo cometeu duas maldades: Abandonaram a mim, a fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rachadas, que não podem reter água.
Sozinhos nós não conseguimos encontrar água que refresque e dure o bastante para saciar a sede do coração e refrescar a alma da gente. Precisamos ser guiados até elas, por alguém que seja capaz de encontrá-las e também de sustentá-las. Ora, em tal situação o Senhor Jesus vem e se oferece ao crente como Bom Pastor que sabe onde estão as correntes de águas vivas e frescas, em abundância, capazes de refrigerar.
Sl 23.1-2 | 1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele […] me leva para junto de riachos tranquilos.
Água viva
Embora as ovelhas cresçam e se desenvolvam bem em terrenos secos e semiáridos, elas precisam de muita água. Não são como algumas gazelas africanas, por exemplo, que passam razoavelmente bem com a pouca água que encontram naturalmente nas folhagens dos campos; nem são como os camelos, que armazenam água no próprio corpo, suficiente o bastante para longos períodos.
A chave para a localização da água está, de novo, com o pastor. Como no caso dos “verdes pastos” (v. 2a), é ele quem sabe onde se acham os melhores bebedouros (v. 2b). Aliás, muitas vezes, é ele próprio quem cava esses poços, com muito trabalho e esforço, e é para esses locais que ele conduz o rebanho.
Antes de pensarmos propriamente nas fontes de água e como delas beber, será bom procurarmos compreender o papel da água na constituição do animal, e por que ela é tão essencial ao seu bem-estar. W. Phillip Keller comenta que
O organismo de um animal como a ovelha é constituído de cerca de 70% de água, em média. Ela é que mantém o equilíbrio do metabolismo orgânico; faz parte da constituição da célula, contribuindo para o seu funcionamento normal. A água determina a vitalidade, a força e o vigor da ovelha, sendo, portanto, essencial ao seu bem-estar geral e saúde.
Se o suprimento de água para o animal diminui, começa a desidratação. Essa desidratação dos tecidos pode resultar em sérios danos para o organismo. Pode implicar também em que o animal fique fraco e debilitado.
Todo animal fica ciente do baixo teor de água no organismo através da sede. A sede indica a necessidade de suplementação do teor líquido do organismo, por meio de uma fonte externa.
Quando as ovelhas estão sedentas, tornam-se inquietas, e partem à procura de água para se satisfazerem. Se não forem conduzidas a bons depósitos de água pura e limpa, muitas vezes acabarão abeberando-se em poças poluídas, onde contraem germes e vermes causadores de doenças.
Segundo nos ensinam as Escrituras, assim como o corpo físico tem a capacidade de reter a água e de sentir necessidade dela quando essa lhe falta, também a alma humana tem necessidade da água da vida e sente sede. Davi assim se expressou:
Sl 42.2 | Tenho sede de Deus, do Deus vivo;
Sedento e distante de Deus, o ser humano parte à procura de água; ora ele a encontra em cisternas rachadas que não se sustentam, ora ele a encontra totalmente poluída e contaminada para a morte. Agostinho, um dos grandes pensadores e teólogos do cristianismo, em suas Confissões, escreveu algo que capta muito bem o princípio da ovelha sedenta que estamos descrevendo: “Ó Deus, tu nos criaste para ti; nossa alma sempre estará inquieta e ansiosa, enquanto não encontrar descanso em ti.”
Conversando com a mulher samaritana (João 4.4-18), Jesus estava tratando de uma pessoa sedenta espiritualmente. Note como foi o diálogo e o que nós podemos aprender.
4 No caminho, teve de passar por Samaria. 5 Chegou ao povoado samaritano de Sicar, perto do campo que Jacó tinha dado a seu filho José. 6 O poço de Jacó ficava ali, e Jesus, cansado da longa caminhada, sentou-se junto ao poço, por volta do meio-dia. 7 Pouco depois, uma mulher samaritana veio tirar água, e Jesus lhe disse: “Por favor, dê-me um pouco de água para beber”. 8 Naquele momento, seus discípulos tinham ido ao povoado comprar comida. 9 A mulher ficou surpresa, pois os judeus se recusam a ter qualquer contato com os samaritanos. “Você é judeu, e eu sou uma mulher samaritana”, disse ela a Jesus. “Como é que me pede água para beber?” 10 Jesus respondeu: “Se ao menos você soubesse que presente Deus tem para você e com quem está falando, você me pediria e eu lhe daria água viva. 11 Mas você não tem corda nem balde, e o poço é muito fundo”, disse ela. “De onde tiraria essa água viva? 12 Além do mais, você se considera mais importante que nosso antepassado Jacó, que nos deu este poço? Como pode oferecer água melhor que esta que Jacó, seus filhos e seus animais bebiam?” 13 Jesus respondeu: “Quem bebe desta água logo terá sede outra vez, 14 mas quem bebe da água que eu dou nunca mais terá sede. Ela se torna uma fonte que brota dentro dele e lhe dá a vida eterna. 15 Por favor, senhor, dê-me dessa água!”, disse a mulher. “Assim eu nunca mais terei sede nem precisarei vir aqui para tirar água.” 16 “Vá buscar seu marido”, disse Jesus. 17 “Não tenho marido”, respondeu a mulher. Jesus disse: “É verdade. Você não tem marido, 18 pois teve cinco maridos e não é casada com o homem com quem vive agora. Certamente você disse a verdade”.
A história da mulher samaritana revela três das principais fontes de águas poluídas ou cisternas rachadas às quais o ser humano geralmente recorre: trabalho, relacionamentos e crenças. Tanto que, após Jesus tratar da questão do trabalho (Jo 4.10-11) e sobre os relacionamentos da mulher (João 4.15-18), ela partiu para falar de religião (João 4.19-21).
19 “O senhor deve ser profeta”, disse a mulher. 20 “Então diga-me: por que os judeus insistem que Jerusalém é o único lugar de adoração, enquanto nós, os samaritanos, afirmamos que é aqui, no monte Gerizim, onde nossos antepassados adoraram?” 21 Jesus respondeu: “Creia em mim, mulher, está chegando a hora em que já não importará se você adora o Pai neste monte ou em Jerusalém. 22 Vocês, samaritanos, sabem muito pouco a respeito daquele a quem adoram. Nós adoramos com conhecimento, pois a salvação vem por meio dos judeus. 23 Mas está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. O Pai procura pessoas que o adorem desse modo. 24 Pois Deus é Espírito, e é necessário que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
Quando sedentos, alguns buscam se saciar no trabalho, outros nos relacionamentos, ainda outros na religião, e diversos tantos em trivialidades, tais quais: música, literatura, artes, esportes, atividades físicas, hobbies, consumo, viagens, comidas, bebidas, drogas, etc. Quanto mais as pessoas se voltam para essas fontes, mais sedentas elas ficam; afinal, algumas são poluídas e outras não se sustentam. O ser humano precisa da água viva.
Jo 4.10, 13-14 | 10 Jesus respondeu: “Se ao menos você soubesse que presente Deus tem para você e com quem está falando, você me pediria e eu lhe daria água viva. […] 13 Quem bebe desta água logo terá sede outra vez, 14 mas quem bebe da água que eu dou nunca mais terá sede. Ela se torna uma fonte que brota dentro dele e lhe dá a vida eterna.
A fonte de água viva
Quando Davi escreveu o Salmo 23, sabia que o ser humano precisa da água viva. Olhando a vida do ponto-de-vista da ovelha, ele disse: “me leva (ele, o Bom Pastor) para junto de riachos tranquilos”. Em outras palavras: somente o Senhor sabe onde encontrar as águas de descanso, tranquilas, límpidas e puras, que podem saciar o rebanho e mantê-lo resistente.
Em termos gerais, a água para o rebanho provinha de três fontes principais: do orvalho da relva, de poços cavados e riachos ou nascentes.
O orvalho da relva
Muitas pessoas não sabem que as ovelhas podem passar meses a fio, quando não faz muito calor, quase sem beber água, principalmente se a relva estiver sempre bem orvalhada pelas manhãs. O rebanho tem o hábito de despertar bem cedo, antes de amanhecer, e começar logo a pastar. E quando o luar está claro, pastam à noite.
Nas primeiras horas do dia, a vegetação ainda está coberta de orvalho, e o rebanho se mantém com a quantidade de líquido ingerida juntamente com a forragem, quando pasta antes do amanhecer.
Naturalmente, o orvalho é fonte de água pura e limpa. E não há ilustração mais clara das águas tranquilas do que as gotinhas prateadas de umidade pesando nas folhas e na relva, ao nascer do dia.
O bom pastor, o criador dedicado, providencia para que seu rebanho saia logo cedo, e vá pastar nesta relva molhada de orvalho. Talvez isso signifique que ele próprio tenha que levantar-se também para sair com elas. Seja no pasto da fazenda ou nas pastagens das montanhas, ele deve cuidar para que suas ovelhas comecem a pastar cedo. Comentando este fato, W. Phillip Keller escreve assim:
Na vida cristã, é de grande importância observar que, na maioria dos casos, as pessoas mais serenas, confiantes e capacitadas a enfrentar as complexidades da vida são as que se levantam cedo, diariamente, para alimentar-se da Palavra de Deus. É na quietude das horas matutinas que elas são guiadas às águas tranquilas, onde bebem a própria vida de Cristo, suprindo-se dela para passar o dia. E isto não é mera figura de linguagem. É uma realidade prática. As biografias dos grandes homens e mulheres de Deus, reiteradamente, indicam que o sucesso de sua vida espiritual é atribuído ao “momento devocional” que observavam pela manhã. Ali, sozinhos, quietos, aguardando a voz do Mestre na Palavra revelada de Deus, somos mansamente guiados ao lugar de que fala o velho hino: “O orvalho calmo do Espírito Santo pode ser derramado em minha vida e alma.” Sempre saímos destas horas de meditação, reflexão e comunhão com Cristo mais revigorados na mente e no espírito. A sede é mitigada, e o coração é tranquilamente saciado.
Os riachos ou as nascentes
Além do orvalho da relva, a ovelha precisa da água dos riachos ou nascentes dos rios. Robert Ketcham, em seu comentário do Salmo 23, anota o seguinte:
Alguns eruditos insistem que a palavra “tranquilos”, no original hebraico está no tempo gramatical passado, e que o texto deveria ser como segue: “me leva para junto de riachos tranquilizados”. Seja ou não esse o caso, uma coisa é certa, na vida do pastor daquelas regiões ele tem frequentemente de fazer exatamente isso. Ele tem de tranquilizar as águas. Há algo na ovelha que a torna amedrontada com as águas de correnteza rápida. Parecem ter a intuição própria de que as ovelhas são impotentes na água. Seu pesado pelo atua como esponja e fica tão saturado de água que o pequeno animal é literalmente arrastado para o fundo. Por causa disso é difícil, se não quase impossível, induzir uma ovelha a aproximar-se de águas correntes velozes. Não obstante, esse é o trabalho do pastor, isto é, providenciar que o rebanho conte com um suprimento de água fresca e refrescante durante a jornada de um dia quente e escaldante. Se não houver lagoas ou nascentes de águas mansas, então o pastor deve tomar providências. Um pouco adiante corre, rapidamente, pequeno riacho na montanha. Talvez um homem pudesse cruzá-lo com um salto, mas a água corre tão rapidamente contra as pedras que o ruído amedronta e o animal sente calafrio. É impossível que o pastor guie as suas ovelhas até tais águas. Em ocasiões semelhantes o pastor prepara pequeno dique, que cruze a rápida correnteza, feito de pedras e de barro das margens do riacho e, assim, pouco a pouco, se forma pequena lagoa de águas tranquilizadas. As ovelhas, então, se adiantam sem temor e se refrescam.
O Bom Pastor, com sua doce presença e soberana habilidade, é o único capaz de tranquilizar as águas turbulentas da vida ao nosso redor, fazendo-nos acalmar o coração, levando-nos para perto dele para bebermos de sua fonte, refrescando assim a alma.
O Senhor é mestre em transformar águas turbulentas em águas tranquilas; ele sabe, como ninguém, como transformar situações adversas em experiências abençoadas, fazendo-nos, assim, provar da água viva. Quantos de nós não poderia citar um duro momento que, pela graça de Deus, foi transformado em doce lição para o enlevo espiritual ou o crescimento cristão? Penso que todos.
É aqui que, diante de águas turbulentas, a ovelha precisa aprender a se aquietar e orar, confiante na soberana condução e na boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Afinal, assim como nós cantamos (CC 155 – O Grande Amigo), também devemos nós viver:
Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão, // Ele manda que levemos tudo a Deus em oração! // Oh! que paz perdemos sempre, Oh! que dor no coração, // Só porque nós não levamos tudo a Deus em oração!
Temos lidas e pesares e na vida tentação; // Não ficamos sem conforto, indo a Cristo em oração. // Haverá um outro amigo de tão grande compaixão? // Os contritos Jesus Cristo sempre atende em oração.
E se nós desfalecemos, Cristo estende-nos a mão, // Pois é sempre a nossa força e refúgio em oração. // Se este mundo nos despreza, Cristo é nosso em oração; // Em seus braços nos acolhe e nos dá consolação [refrigério].
O poço cavado
Além do orvalho da relva (extraído da leitura diária da Palavra de Deus) e dos riachos ou nascentes tranquilizados (através de confiante oração), a ovelha encontra água no poço cavado pelo Bom Pastor: na pessoa do próprio Cristo.
Cristo bebeu, em nosso lugar, do cálice da ira de Deus pelo pecado (Jo 18.11), para que pudéssemos beber dele, da vida dele, a água da vida, e nunca mais ter sede.
Jo 4.10, 13-14 | 10 Jesus respondeu: “Se ao menos você soubesse que presente Deus tem para você e com quem está falando, você me pediria e eu lhe daria água viva. […] 13 Quem bebe desta água logo terá sede outra vez, 14 mas quem bebe da água que eu dou nunca mais terá sede. Ela se torna uma fonte que brota dentro dele e lhe dá a vida eterna.
Receba hoje, agora, aqui mesmo, o Senhor Jesus.
Daí, e somente então, você poderá dizer como Davi: “O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele […] me leva para junto de riachos tranquilos.” (Sl 23.1-2). Em Cristo, e somente em Cristo, você terá refrigério, hoje e para sempre.
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