23.09.2018
O GUARDADOR DE LÁGRIMAS
Salmo 56
[Ao regente do coral: salmo de Davi sobre a ocasião em que os filisteus o prenderam em Gate. Para ser cantado com a melodia “Pomba em carvalhos distantes”.]1Ó Deus, tem misericórdia de mim, pois sofro perseguição; meus inimigos me atacam o dia todo. 2Vivo perseguido por aqueles que me caluniam, e muitos me atacam abertamente. 3Quando eu tiver medo, porém, confiarei em ti. 4Louvo a Deus por suas promessas, confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais? 5Sempre distorcem o que digo e passam dias tramando me prejudicar. 6Reúnem-se para me espionar e vigiam meus passos, ansiosos para me matar. 7Castiga-os por sua maldade; ó Deus, derruba-os em tua ira. 8Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas. 9Meus inimigos baterão em retirada quando eu clamar a ti; uma coisa sei: Deus está do meu lado! 10Louvo a Deus por suas promessas, sim, louvo o SENHOR por suas promessas. 11Confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais? 12Cumprirei os votos que fiz a ti, ó Deus, e te oferecerei um sacrifício de gratidão. 13Pois me livraste da morte; não deixaste que meus pés tropeçassem. Agora, posso andar em tua presença, ó Deus, em tua luz que dá vida.
QUEM NUNCA CHOROU?Todos nós já choramos. Aliás, já nascemos chorando. Lágrimas já rolaram de emoção, alegria e sofrimento. E como já rolaram!
O que se faz com lágrimas? Lágrimas se secam com lenço, a mão ou o vento. Quem se importa com lágrimas? Parece que ninguém, pois quem há que as guarde? Você conhece alguém que guarde lágrimas? E você, você guarda suas lágrimas? Acho que não. Mas Deus sim. As lágrimas do fiel são guardadas por ele num frasco e cuidadosamente registradas — todas elas catalogadas num livro (v. 8):
Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas.
Foi num dos momentos mais difíceis de sua vida que Davi descobriu que Deus é o guardadorde lágrimas. Antes de nos debruçarmos sobre esta ideia, buscando o que ela nos traz e como nos serve, vamos aqui lembrar do contesto em que Davi estava vivendo. O pano de fundo enriquece esse salmo. O título do salmo nos dá uma pista:
[…] salmo de Davi sobre a ocasião em que os filisteus o prenderam em Gate. Para ser cantado com a melodia “Pomba em carvalhos distantes”.
Fugindo da loucura de Saul, que buscava matá-lo, Davi acabou tendo que se fingir de louco para salvar a própria vida. A medida tomada pelo homem segundo o coração de Deus era de desespero: esconder-se de Saul entre os inimigos filisteus. Realmente, Saul jamais pensaria em procurá-lo naquelas bandas. Davi, porém, corria sérios riscos de morte nas mãos dos vingativos filisteus. Observe (1Sm 21-10-13):
10Então Davi fugiu de Saul e foi até Aquis, rei de Gate [terra de Golias!]. 11Os oficiais de Aquis, porém, disseram: “Não é este Davi, o rei da terra de Israel? Não é a ele que o povo honra com danças e cânticos, dizendo: ‘Saul matou milhares, e Davi, dezenas de milhares [filisteus!]’?”. 12Davi ouviu esses comentários e teve muito medo do que Aquis, rei de Gate, poderia fazer com ele. 13Por isso, agiu de modo estranho, fingindo estar louco, arranhando as portas e deixando saliva escorrer pela barba.
Não se pode deixar de notar pelo menos três coisas sobre o estado de Davi durante o período que compõe o pano de fundo deste nosso salmo (56):
Davi parece resumir tudo isso numa frase extraída do título do salmo:
[…] Para ser cantado com a melodia “Pomba em carvalhos distantes”.
“Pomba em carvalhos distantes”! Sóem terras distantes. Tão amedrontadoque não conseguia voar para lugar nenhum. Na verdade, apavorado. Imóvel. Porém, note um detalhe que não se pode perder. Onde está a pomba? Sobre o que ela estava pousada, aninhada? Isso mesmo, “em carvalhos [terebintos]”. O que aprendemos?
De fato, Davi estava sozinho (sem ninguém), desesperado (sem saber para onde correr) e amedrontado (sem saber qual seria a reação dos filisteus), mas ele ainda tinha galhos firmes sobre os quais pudesse calcar os pés. Ele estava só, desesperado e com medo, mas sabia que podia contar com o sustento do Senhor. Deus permanecia inabalável, servindo de fundamento para os seus pés. Tanto que no versículo 13 (Sl 56) nós lemos o que segue:
Pois me livraste da morte; não deixaste que meus pés tropeçassem.
Essa “pomba em carvalhos [terebintos] distantes”chorou muito, chorou de desespero, medo, pavor, angústia e solidão, mas, no final, aprendeu algo muito precioso (v. 8):
Conheces bem todas as minhas angústias [minhas andanças; contastes meus passos]; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas.
Deus é o guardador de lágrimas! Voltaremos a este versículo no final, buscando nele lições para as nossas angústias. Agora, porém, sobrevoe comigo este salmo, do início ao final, para termos a visão do todo.
1. A fúria dos homens maus (vv. 1-4)
1Ó Deus, tem misericórdia de mim, pois sofro perseguição; meus inimigos me atacam o dia todo. 2Vivo perseguido por aqueles que me caluniam, e muitos me atacam abertamente. 3Quando eu tiver medo, porém, confiarei em ti. 4Louvo a Deus por suas promessas, confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
Davi começa com pedido de misericórdia, pois não havia, humanamente falando, esperança para ele diante da forma como seus adversários agiam: perseguiam, atacava e oprimiam, buscavam feri-lo com palavras caluniosas e até com agressões físicas.
Eram pessoas persistentes na prática do mal. O versículo 2 mostra isso: “Vivo perseguido por aqueles que me caluniam, e muitos me atacam abertamente”. Paulo teve esta mesma experiência com os judaizantes (eles eram seu espinho na carne, 2Co 12.7). Muitos de nós ainda temos, principalmente quando assumimos posições que ferem as posições de um mundo perdido; quando falamos a verdade mesmo que em amor.
Os maus se organizam e de forma sistemática atacam, perseguem e caluniam abertamente. É para dar medo. Então vem a declaração do verso 3: “Quando eu tiver medo, porém, confiarei em ti”. Temos de aprender a confiar, a repousar com fé nos carvalhos distantes.
Agora, se a palavra dos opressores é falsa, a de Deus é para ser louvada e nele, Deus, nós devemos confiar (vv. 3-4):
3Quando eu tiver medo, porém, confiarei em ti. 4Louvo a Deus por suas promessas, confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
Que poderá fazer os simples mortais? Nada. Eles vão passar. Enquanto isso, agarramo-nos às promessas de Deus, à palavra de Deus com fé e louvor, esperando o vendaval passar, com os pés firmes sobre os “carvalhos distantes”.
2. A persistência dos homens maus (vv. 5-7)
5Sempre distorcem o que digo e passam dias tramando me prejudicar. 6Reúnem-se para me espionar e vigiam meus passos, ansiosos para me matar. 7Castiga-os por sua maldade; ó Deus, derruba-os em tua ira.
Davi vivia sob os olhares de gente de tocaia, esperando a hora de atacar. É horrível. Distorcem as palavras (até os crentes são hábeis nisto!). Têm uma obsessão: acabar com o justo (v. 5): “Sempre distorcem o que digo e passam dias tramando me prejudicar”.
Pecadores pervertidos se incomodam com a verdade e tentam destruir os que a vivem e pregam. O versículo é bem preciso em detalhar como agem (v. 6): “Reúnem-se para me espionar e vigiam meus passos, ansiosos para me matar”. Hoje não se busca matar, mas denegrir a honra (fake news). Que fazer com estas pessoas?
Davi as entrega a Deus, certo de que Deus sempre aplica justiça na mesma proporção do pecado (v. 7): “Castiga-os por sua maldade; ó Deus, derruba-os em tua ira”. A maldade do opressor que se recusa a se arrepender e se converter de seus maus caminhos recairá sobre ele no final. Deus é justo.
3. O cuidado de Deus (vv. 8-11)
Tendo descrito a fúria e a persistência dos homens maus, Davi revelará agora o cuidado de Deus (vv. 8-11):
8Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas. 9Meus inimigos baterão em retirada quando eu clamar a ti; uma coisa sei: Deus está do meu lado! 10Louvo a Deus por suas promessas, sim, louvo o SENHOR por suas promessas. 11Confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
Deus conhece nossas angústias e todas elas ele registra. Ele guarda nossas lágrimas e as anota num livro, para não se esquecer delas (v. 8). Os inimigos agem na carne, mas retrocederão quando Deus vier ao socorro de seu povo (v. 9). Sabedor disso, Davi, novamente, declara sua confiança em Deus, sua palavra, e por isso louva e diz que não temerá (vv. 10-11). Os homens maus são sempre mais fracos que o Defensor dos fieis.
10Louvo a Deus por suas promessas, sim, louvo o SENHOR por suas promessas. 11Confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
Deus nunca, jamais abandonará seu povo. Ele cuida de nós.
4. E o perigo passou (vv. 12-13)
Os perseguidores são furiosos e persistentes, mas eles passam. As forças da morte ou as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja ou o povo de Deus (Mt 16.18). Não há ideologia de gênero, marxismo cultural, capitalismo selvagem, materialismo social, dialético ou qualquer outra visão de mundo que se levante contra Deus, a igreja de Deus e o povo de Deus que não será detida e devidamente julgada pelo Soberano do universo, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Os pecadores e maus passam. Nenhum dele prevalecerá. Veja o Salmo 37.35-36:
35Vi pessoas más e cruéis florescerem como árvores em solo nativo. 36Mas, quando voltei a olhar, tinham desaparecido; procurei por elas, mas não as encontrei.
De volta ao Salmo 56. Aprendemos que, diante da maldade dos homens, compete-nos seguir com fidelidade, gratidão e fé, iluminados pela luz do evangelho da glória e da graça de Deus que nos revela Jesus Cristo — a luz que dá vida, a luz da vida (Jo 8.12).
12Cumprirei os votos que fiz a ti, ó Deus, e te oferecerei um sacrifício de gratidão. 13Pois me livraste da morte; não deixaste que meus pés tropeçassem. Agora, posso andar em tua presença, ó Deus, em tua luz que dá vida.
Quando o perigo passa é tempo de louvar a Deus.
O guardador de lágrimas
Muitos de nós enfrentam adversários e situações adversas, especialmente quando decidimos crer, viver e anunciar o evangelho de Jesus Cristo. É duro e muito dolorido viver sob esses ataques. Quantas não são as lágrimas que derramamos. Lembre-se, porém, de confiar, confiar na palavra e nas promessas do Senhor (Sl 55.3-4):
3Quando eu tiver medo, porém, confiarei em ti. 4Louvo a Deus por suas promessas, confio em Deus e não temerei; o que me podem fazer os simples mortais?
Lembre-se também de que o Senhor a tudo vê e conosco se importa (v. 8):
Conheces bem todas as minhas angústias; recolheste minhas lágrimas num jarro e em teu livro registraste cada uma delas.
O Senhos vê as lágrimas
Conheces bem todas as minhas angústias [contaste os meus passos; conheces bem as minhas andanças em busca de paz]… e em teu livro registraste cada uma delas.Ideia de vigilância no momento de crise. Deus está sempre atento. Ele vê. Ídolos não veem nem ouvem (Sl 115.4-6), mas Deus vê; ele viu Hagar no deserto, por exemplo (Gn 16.7-14). Deus vê e nunca fica distante. Deus não se esquece de nós nas horas de aflição. Ele vê a tempestade e vem ao nosso encontro (Mc 6.47-48). O Senhor conhece bem todas as nossas angústias; ele as conhece, conta-as e as anota porque as vê. Confie no Senhor. Ele vê as lágrimas.
O Senhor recolhe as lágrimas
O Senhor não apenas vê. Deus também recolhe nossas lágrimas num jarro. Guarda-as num frasco (figurativo: para recordar). Ou seja: não há sofrimento desperdiçado. As lágrimas do crente têm valor. Deus se importa. Deus as registra no livro porque elas têm valor. Estão todas catalogadas como espécimes raras, únicas. Não é um sofrimento ignorado. Deus a tudo vê (Sl 139.16):
Tu me viste quando eu ainda estava no ventre; cada dia de minha vida estava registrado em teu livro, cada momento foi estabelecido quando ainda nenhum deles existia.
Jesus mesmo disse que nosso Pai sabe do que precisamos (Mt 6.32). Confie. Ele recolhe e guarda suas lágrimas para delas se lembrar.
O Senhor enxuga as lágrimas
O Senhor vê, recolhe e enxuga as lágrimas (Ap 21.4). Não será apenas no céu que ele secará nossas lágrimas. Agora também ele as seca. Ouça o que disse José do Egito ao seu filho Manassés (Gn 41.51): “Deus me fez esquecer todas as minhas dificuldades. E ainda, ao filho Efraim, ele declarou (Gn 41.52): “Deus me fez prosperar na terra da minha aflição”. Na terra dele teria sido fácil. O pai era rico. No Egito, porém, era outra história; totalmente desfavorável, mas ele foi da prisão ao vice-reinado. Quantas lágrimas José derramou! Deus viu, guardou e enxugou todas elas. Deus é assim: ele enxuga e faz crescer.
Chore, mas chore aos pés do Senhor. Ele vê, guarda e enxuga suas lágrimas.
O Senhor é o guardador de lágrimas.
S.D.G. L.B.Peixoto
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