04.05.2016
JUSTO JUIZ
Salmo 7
[Confissão de Davi, que ele cantou ao Senhor acerca de Cuxe, o benjamita.]
1 Senhor, meu Deus, em ti me refugio; salva-me e livra-me de todos os que me perseguem, 2 para que, como leões, não me dilacerem nem me despedacem, sem que ninguém me livre. 3 Senhor, meu Deus, se assim procedi, se nas minhas mãos há injustiça, 4 se fiz algum mal a um amigo ou se poupei sem motivo o meu adversário, 5 persiga-me o meu inimigo até me alcançar, no chão me pisoteie e aniquile a minha vida, lançando a minha honra no pó. [Pausa] 6 Levanta-te, Senhor, na tua ira; ergue-te contra o furor dos meus adversários. Desperta-te, meu Deus! Ordena a justiça! 7 Reúnam-se os povos ao teu redor. Das alturas reina sobre eles. 8 O Senhor é quem julga os povos. Julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, conforme a minha integridade. 9 Deus justo, que sondas as mentes e os corações, dá fim à maldade dos ímpios e ao justo dá segurança. 10 O meu escudo está nas mãos de Deus, que salva o reto de coração. 11 Deus é um juiz justo, um Deus que manifesta cada dia o seu furor. 12 Se o homem não se arrepende, Deus afia a sua espada, arma o seu arco e o aponta, 13 prepara as suas armas mortais e faz de suas setas flechas flamejantes. 14 Quem gera a maldade, concebe sofrimento e dá à luz a desilusão. 15 Quem cava um buraco e o aprofunda cairá nessa armadilha que fez. 16 Sua maldade se voltará contra ele; sua violência cairá sobre a sua própria cabeça. 17 Darei graças ao Senhor por sua justiça; ao nome do Senhor Altíssimo cantarei louvores.
INJUSTIÇA!
A julgar pela definição – injustiça é “falta de justiça; ação ou coisa injusta” (Aurélio) – nós somos o país da injustiça! Recentemente a Organização das Nações Unidas, a ONU, publicou um estudo que revelou ser o Brasil o país com mais desigualdades sociais na América Latina.
Além da injustiça social, todos nós sofremos com injustiça pessoal. Quem nunca foi preterido, rejeitado, ou desprezado? Quantos de nós já não sofreu perseguição, menosprezo, ou desdém? Quem nunca padeceu nas garras da calúnia, do descrédito e da difamação? Só quem passou conhece a dor da injustiça. Dói ainda mais quando o injustiçado não tem como se defender nem a quem recorrer.
UM GRITO POR JUSTIÇA
No Salmo 7, Davi se identifica com os injustiçados. O título revela que se trata de: “Confissão de Davi, que ele cantou ao Senhor acerca de Cuxe, o benjamita.”
“Confissão” vem do hebraico “shiggaywon” e significa: “canto carregado de emoções ou canto de lamentação”. Davi, portanto, teria escrito este Salmo em momento de grande agitação e profunda perturbação na alma.
Sobre “Cuxe, o benjamita”, nada se sabe. Há, no entanto, duas possibilidades para o contexto de Davi.
A primeira delas aponta para quando Saul buscava capturar e destruir seu rival Davi. Naquele tempo, ele contou com centenas de bajuladores desejosos de cair na graça do rei. Todos eles, homens de sua tribo, a tribo de Benjamim. Dentre eles, encabeçando o bando é provável que havia esse tal de Cuxe (1Sm 22.6ss).
A segunda possibilidade remonta aos dias da rebelião de Absalão, que era de Benjamim, a tribo de Saul. Os homens de Absalão eram inimigos implacáveis de Davi, dentre eles havia Simei e possivelmente esse tal de Cuxe (2Sm 16.5ss).
De uma forma ou de outra, tudo indica que Davi estava sofrendo nas mãos de homens encabeçados por Cuxe que, desejosos de receberem reconhecimento e recompensa do líder, espalhavam mentiras e estimulavam perseguição. Davi estava sendo maliciosamente injustiçado, ele estava gritando por justiça, pois sabia que “Deus é um juiz justo” (v. 11).
Matthew Henry foi feliz ao apontar que essa atitude de Davi tem muito a nos ensinar. Em seu comentário nos Salmos, o teólogo puritano disse assim:
Davi, abusado de modo tão cruel, recorreu ao Senhor. As injustiças que os homens cometem contra nós deveriam nos conduzir a Deus, pois é a ele que devemos dirigir todas as nossas causas. Davi cantou ao Senhor. O seu espírito, apesar de abatido, não se irritou nem se desanimou. Ele continuou em sintonia com a música sacra e não permitiu que seus dedos se afastassem das cordas da harpa. Que as injustiças que nós sofremos dos homens, em vez de provocar a nossa irritação, estimule a nossa devoção.
Que belo conselho! Vale a pena repetir:
Que as injustiças que nós sofremos dos homens, em vez de provocar a nossa irritação, estimule a nossa devoção.
Quantas não são as discórdias, os tumultos, as tragédias e os conflitos produzidos por pessoas que se sentem injustiças! Devemos sim buscar em verdade e amor os nossos direitos, mas jamais deixar de recorrer a Deus em devoção. Afinal, “Deus é um juiz justo” (v. 11).
JUSTO JUIZ
Textos da Escritura como esse do Salmo 7 nos levam a concluir que todas as coisas realmente cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28).
A experiência de Davi nos ensina que a injustiça nos coloca diante de uma encruzilhada. Quando somos injustiçados (e seremos!), de duas, uma: ou (1) nós seguimos pelo caminho do ódio, da vingança, do ressentimento, da depressão, da manipulação, do jeitinho, e do atrofiamento espiritual; ou (2) nós seguimos pelo caminho da busca pela graça e misericórdia de Deus, do conhecimento de Deus, da entrega de tudo nas mãos de Deus – o justo juiz, e do crescimento espiritual.
Davi seguiu pela segunda via, a via da fé, da esperança e do amor. O seu procedimento nos deixou um cântico que muito tem a nos ensinar sobre o justo juiz e que pode também nos estimular a confiar em vez de buscar fazer justiça com as próprias mãos.
Eu sei que muitos de vocês que me ouvem podem estar sangrando por causa da injustiça e ardendo em febre, infeccionados na alma, pelo desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Se for esse o seu caso, ouça e absorva as lições de Davi sobre o justo juiz e saia daqui curado.
1. O justo juiz ouve a oração (Sl 7.1-2)
Uma das primeiras reações, senão a primeira, de quem sofre com a injustiça é querer falar. Além de falar muito, sempre que tem uma oportunidade, o injustiçado também recorre a quem lhe possa ajudar, não é mesmo? Foi isso Davi faz em sua oração:
Sl 7.1-2 | 1 Senhor, meu Deus, em ti me refugio; salva-me e livra-me de todos os que me perseguem, 2 para que, como leões, não me dilacerem nem me despedacem, sem que ninguém me livre.
Davi fala em oração. Davi também recorre ao único que lhe pode ajudar, afinal, ele estava diante de injustos fortes e cruéis como leões ao encontrarem suas presas. O rei de Israel estava diante de homens dispostos a arrancar sua pele e cortá-lo em pedaços, e o pior é que ninguém estava em condições de ajudar. Apenas Deus.
Geralmente é assim que o injustiçado se sente. Ele se vê diante de leões vorazes. Ele se sente sozinho, abandonado, jogado à própria sorte. Ele fica apavorado pelo preço da consequência. O que fazer?
Davi ensina que devemos orar, pois o justo juiz sempre nos ouve. Além dos ouvidos de Deus bem abertos, prontos para ouvir, na oração nós também encontramos refúgio, abrigo e proteção.
2. O justo juiz sonda o coração (Sl 7.3-5)
A injustiça é um tipo de tribulação. Como tal, ela deve ser encarada de forma bíblica, ou seja: tribulação deve produzir perseverança, perseverança deve produzir caráter aprovado, caráter aprovado deve produzir esperança e amor (Rm 5.3-5).
A injustiça, como qualquer tribulação ou provação, assim como os desertos, jamais foge do controle soberano de Deus e existe para provar e expor o que está em nosso coração (Dt 8.2). Davi sabia disso e, por isso, quando foi injustiçado, colocou seu coração diante do justo juiz para ser sondado.
Sl 7.3-5 | 3 Senhor, meu Deus, se assim procedi, se nas minhas mãos há injustiça, 4 se fiz algum mal a um amigo [aliado] ou se poupei [explorei] sem motivo o meu adversário, 5 persiga-me o meu inimigo até me alcançar, no chão me pisoteie e aniquile a minha vida, lançando a minha honra no pó.
Note que Davi faz o que todo injustiçado é tentado a não fazer:
Davi parte do pressuposto de que ele pode ser realmente culpado do que o estavam acusando (v. 3).
Senhor, meu Deus, se assim procedi, se nas minhas mãos há injustiça,
Davi assume que ele realmente poderia ter agido mal (v. 4).
se fiz algum mal a um amigo [aliado] ou se poupei [explorei] sem motivo o meu adversário,
Davi não se desculpa das consequências que ele, se porventura fosse culpado, merecia sofrer (v. 5).
persiga-me o meu inimigo até me alcançar, no chão me pisoteie e aniquile a minha vida, lançando a minha honra no pó.
Impressionante! Davi nos ensina que diante da injustiça, depois de orar a Deus, nós devemos abrir diante dele o coração, devemos permitir que ele sonde alma e consciência para ver se há em nós algum caminho mal. Diante do justo juiz nós jamais devemos nos desculpar.
3. O justo juiz age com retidão (Sl 7.6-16)
Contrário do que muita gente pensa, confiar no justo juiz não é sinônimo de passividade, de falta de iniciativa, de gente que não tem reação, de falta de coragem, ou de qualquer coisa do tipo; confiar no justo juiz é cultivar fé e esperança na ação do Senhor que age com retidão.
Sl 7.6-11 | 6 Levanta-te, Senhor, na tua ira; ergue-te contra o furor dos meus adversários. Desperta-te, meu Deus! Ordena a justiça! 7 Reúnam-se os povos ao teu redor. Das alturas reina sobre eles. 8 O Senhor é quem julga os povos. Julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, conforme a minha integridade. 9 Deus justo, que sondas as mentes e os corações, dá fim à maldade dos ímpios e ao justo dá segurança. 10 O meu escudo está nas mãos de Deus, que salva o reto de coração. 11 Deus é um juiz justo, um Deus que manifesta cada dia o seu furor.
A ira santa de Deus é a esperança do salmista. O Senhor odeia o pecado. Ele abomina aqueles que desonram os seus filhos. Paulo sabia disso ao dizer:
Rm 12.17-19 | 17 Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. 18 Façam todo o possível para viver em paz com todos. 19 Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor.
Deus quando age com retidão, julgando o injusto que se recusa a se arrepender, ele age na proporção do pecado da injustiça.
Sl 7.12-16 | 12 Se o homem não se arrepende, Deus afia a sua espada, arma o seu arco e o aponta, 13 prepara as suas armas mortais e faz de suas setas flechas flamejantes. 14 Quem gera a maldade, concebe sofrimento e dá à luz a desilusão. 15 Quem cava um buraco e o aprofunda cairá nessa armadilha que fez. 16 Sua maldade se voltará contra ele; sua violência cairá sobre a sua própria cabeça.
Na sua fúria Deus ainda espera pelo arrependimento. Isso ensina que mesmo injustiçados nós devemos esperar pelo arrependimento e conversão daqueles que nos injustiçaram. Mas, como? Fazendo o bem.
Rm 12.20-21 | 20 Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. 20 Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.
Essa forma de agir é didática. Ela guardará nosso coração do ódio e servirá como testemunho de graça aos que praticam a injustiça.
O justo juiz age com retidão. Se não houver arrependimento ele retribuirá com fúria o pecador, na mesma proporção do horror que é o pecado. Isso deve nos deixar livres para amar, inclusive aqueles que comentem injustiça contra nós.
4. O justo juiz recebe a adoração (Sl 7.17)
Um Deus que ouve a oração do injustiçado, que sonda o coração do pecador e que age com retidão, vindicando os seus filhos, merece toda a nossa adoração. Por isso que Davi termina com louvor o seu Salmo.
Sl 7.17 | Darei graças ao Senhor por sua justiça; ao nome do Senhor Altíssimo cantarei louvores.
JUSTO JUIZ
Saia daqui com esse mesmo espírito. Espírito de louvor. Espírito de adoração. Saia daqui com fé e esperança no justo juiz. Saia daqui buscando amar quem te injustiçou. Sua garantia?
O justo juiz ouve a sua oração
O justo juiz sonda o seu coração
O justo juiz age com retidão
O justo juiz recebe a sua adoração
Que liberdade nos traz esse tipo de fé, esperança e amor!
Que Deus, portanto, nos abençoe com fé e esperança em seu justo juízo, para que nós consigamos perseverar em amor.
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