27.09.2020
[Salmo 80] Ao regente do coral: salmo de Asafe, para ser cantado com a melodia “Lírios da aliança”. 1Ouve, ó Pastor de Israel, que conduz os descendentes de José como um rebanho. Tu que estás entronizado acima dos querubins, manifesta teu esplendor 2a Efraim, a Benjamim e a Manassés. Mostra-nos teu poder e vem salvar-nos! 3Restaura-nos, ó Deus! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos. 4Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando ficarás irado com as orações do teu povo? 5Tu nos deste tristeza como alimento e nos fizeste beber copos cheios de lágrimas. 6Tu nos tornaste motivo de desprezo das nações vizinhas; agora nossos inimigos zombam de nós. 7Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos. 8Tu nos trouxeste do Egito, como uma videira; expulsaste as nações e nos plantaste no solo. 9Limpaste o terreno para nós; fincamos raízes e enchemos a terra. 10Nossa sombra se estendeu por cima dos montes, nossos ramos cobriram os altos cedros. 11Estendemos nossos ramos até o Mediterrâneo, nossos brotos se espalharam até o Eufrates. 12Mas, agora, por que derrubaste nossos muros? Todos que passam roubam nossos frutos. 13Os javalis da floresta devoram a videira, animais selvagens se alimentam dela. 14Ó Deus dos Exércitos, suplicamos que voltes! Olha dos céus e vê a nossa aflição. Cuida desta videira 15que tu mesmo plantaste, o filho que criaste para ti. 16Somos cortados e queimados por nossos inimigos; que eles pereçam ao ver a repreensão em tua face! 17Fortalece aquele a quem amas, o filho que criaste para ti. 18Então jamais te abandonaremos; reanima-nos, para que invoquemos o teu nome. 19Restaura-nos, ó SENHOR, o Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Esse salmo é uma súplica pela maravilha da restauração.
A restauração de que todos nós precisamos é milagre do Espírito Santo; só será possível se ela for produzida por ninguém menos do que o próprio SENHOR, o Deus dos Exércitos, o Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Daí que o salmista, inspirado por Deus, clamou no último verso do salmo (v. 19): “Restaura-nos, ó SENHOR, o Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos [da ira de Deus, cf. Rm 5.6-11].”
Restaurando-nos, o SENHOR nos torna justos diante de Deus; e começa uma obra de constante renovação, incessante transformação e inacabada restauração que o Novo Testamento chama de santificação (sem a qual ninguém verá o SENHOR, cf. Hb 12.14)?
Passaremos às quatro divisões que propomos para o salmo em tela e veremos o que se aprende com cada uma delas. Lembre-se: o salmo é uma oração, oração de restauração. Veremos quatro verdades:
O Deus a quem se ora, versículos 1-3:
1Ouve, ó Pastor de Israel, que conduz os descendentes de José como um rebanho. Tu que estás entronizado acima dos querubins, manifesta teu esplendor 2a Efraim, a Benjamim e a Manassés. Mostra-nos teu poder e vem salvar-nos! 3Restaura-nos, ó Deus! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Deus é descrito de duas maneiras no verso 1 (você percebeu?): Primeiro, como pastor de Israel. Segundo, como soberano que se assenta no trono acima de tudo e de todos.
Chama a atenção o contraste: Deus, ao mesmo tempo que se mistura com ovelhas – para cuidar delas, guiá-las e protegê-las –, está reinando soberana e gloriosamente no trono do universo. Há duas descrições teológicas para se apontar essas duas realidades: imanência e transcendência. A imanência de Deus significa que ele está presente dentro de sua criação – incluindo a raça humana – e age ativamente nela, por ela e por meio dela. A transcendência de Deus significa que ele é infinitamente superior à sua criação.
A beleza, repito, está precisamente neste contraste: o soberano se dispõe a servir, a cuidar e a proteger de uma forma pastoral (pense aqui nas características da ovelha: teimosa e ao mesmo tempo totalmente dependente do pastor, para destacarmos apenas duas); isto é, a paciência e a compaixão do santo e poderoso soberano são demonstradas por esse mesmo Deus no seu cuidado pastoral dispensado ao seu povo. Qual outro soberano é assim? Que outro Deus há igual ao nosso? Não há! Simplesmente não há.
Entretanto, é nesse contraste de belezas tão aparentemente antagônicas, díspares (nessa conjunção de contrastes de excelências diversas, para usarmos uma expressão de J. Edwards) que o SENHOR mais brilha glorioso, posto que ele cria a oportunidade de demonstrar poder e compaixão na salvação dos seus. Mais uma vez, versículos 1-2:
1Ouve, ó Pastor de Israel, que conduz os descendentes de José como um rebanho. Tu que estás entronizado acima dos querubins, manifesta teu esplendor 2a Efraim, a Benjamim e a Manassés. Mostra-nos teu poder e vem salvar-nos!
Com base nessa premissa – i.e., a glória do Deus a quem se ora é manifestada através do que se pode chamar de contrastes gloriosos (no caso, soberania e serviço), com base nessa premissa de contrastes gloriosos no ser de Deus –, Asafe fez o seu primeiro clamor no salmo que está posto aos nossos olhos, versículo 3:
3Restaura-nos, ó Deus! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
O pedido é para si mesmo, mas no final glorifica o doador: Deus. Essa é a única forma de orarmos sem sermos idólatras: o que queremos e o que pedimos nos abençoa na mesma proporção que destaca ou realça, coloca em relevo, para usarmos a palavra do próprio salmista: “manifesta” o esplendor da glória do SENHOR (v. 2).
De igual modo, Asafe orou no salmo anterior – Salmo 79.9:
Ajuda-nos, ó Deus de nossa salvação, pela glória do teu nome. Livra-nos e perdoa nossos pecados, pela honra do teu nome.
Os profetas também oraram assim – por exemplo, Daniel 9.17-19:
17“Ó nosso Deus, ouve a oração de teu servo; ouve minha súplica. Por causa de ti mesmo, Senhor, volta a olhar com bondade para teu santuário desolado. 18“Ó meu Deus, inclina-te e ouve-me; abre teus olhos e vê nossa desolação. Vê como nossa cidade, a cidade que leva teu nome, está em ruínas. Fazemos esta súplica não porque merecemos, mas por causa de tua misericórdia. 19“Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age! Por causa de ti mesmo, não te demores, ó meu Deus, pois teu povo e tua cidade carregam teu nome”.
Quando consideramos que a glória de Deus e o nosso socorro são complementos inalienáveis, inseparáveis, sentimo-nos mais à vontade, livres para ir a Deus em oração.
Precisamos apreciar que tanto mais se manifesta a glória de Deus em nós quanto mais perdoados dos pecados nós somos – e nessa salvação nós nos alegramos. Não foi sem razão, portanto, que Paulo deu seu testemunho pessoal a Timóteo (1Tm 1.15-17):
15Esta é uma afirmação digna de confiança, e todos devem aceitá-la: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”, e eu sou o pior de todos. 16Mas foi por isso que eu, o pior dos pecadores, recebi misericórdia, para que assim Cristo Jesus mostrasse [manifestasse glória] quanto é paciente. Desse modo, sirvo de exemplo a todos que vierem a crer nele para a vida eterna. 17Honra e glória a Deus para todo o sempre! Ele é o Rei eterno, invisível e imortal; ele é o único Deus. Amém.
Esse era também o caso de Israel, ao Norte (e Paulo, certamente, conhecia esse fato).
Quando nós lemos a história desse povo, relatada nos livros dos Reis – de 1Reis 12 ao final de 2Reis 17 –, quando lemos, por exemplo, o profeta Oséias, que ao Norte também profetizou, o espanto não deveria ser que Deus os tivesse castigado por intermédio dos Assírios, mas que Asafe tenha tido a santa ousadia, a plena liberdade de se achegar a Deus, pedir-lhe o que o pediu e não ter sido consumido pela ira santa e justa do SENHOR:
1Ouve, ó Pastor de Israel, que conduz os descendentes de José como um rebanho. Tu que estás entronizado acima dos querubins, manifesta teu esplendor 2a Efraim, a Benjamim e a Manassés. Mostra-nos teu poder e vem salvar-nos! 3Restaura-nos, ó Deus! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Com efeito, por saber quem Deus é (soberano e servo ao mesmo tempo; em Cristo, veio para servir, e não para ser servido) e como ele age (glorificando-se em nos salvar e nos socorrer) foi que Asafe orou pedindo restauração e nos ensinou a fazer o mesmo, de novo e de novo. Precisamente, pela falta desse conhecimento de Deus – de quem ele é e de como ele age, segundo a revelação da Palavra – foi que o povo de Samaria (e depois de Jerusalém) caiu nas mãos dos assírios e dos babilônios. Ouça, Oséias 4.6 (NAA):
O meu povo está sendo destruído, pois lhe falta o conhecimento. Pelo fato de vocês, sacerdotes, rejeitarem o conhecimento, também eu os rejeitarei, para que não sejam mais sacerdotes diante de mim; visto que se esqueceram da lei do seu Deus, também eu me esquecerei dos seus filhos.
Oração de restauração tem começo e se sustenta no conhecimento que se tem de quem é e de como age o Deus a quem se ora. Daí a mensagem de Oséias, tanto a Samaria como a Judá (Os 4.4), encorajando o seu próprio povo: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR!” (Os 4.3, NAA).
Ainda sobre o conhecimento de Deus, cabe aqui uma palavra aos pais.
Já vimos que o salmista chama Deus de Pastor (v. 1). Pois bem, a primeira pessoa a chamar Deus de Pastor foi o Jacó – que no meio de sua bênção profética a José, afirmou ao filho quem realmente o havia sustentado durante toda a vida (Gn 49.24):
Seu arco [o de José], porém, permaneceu esticado, e seus braços foram fortalecidos pelas mãos do Poderoso [nome antigo, poético para Deus] de Jacó, pelo Pastor, a Rocha de Israel.
José aprendeu de Jacó, repassou aos filhos, que repassaram aos netos dele e através dos quais fez chegar ao conhecimento de todos em Israel, inclusive de Davi (que foi quem compôs o Salmo 23: O SENHOR (o Poderoso) é Pastor. Ah! A importância de se conhecer o Deus a quem se ora, e de se ensinar aos filhos, de se repassar a outros e ainda mais tantos o conhecimento de Deus em Jesus Cristo! Veja, João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho único, que mantém comunhão íntima com o Pai, o revelou.”
Oração de restauração começa e continua – tem início e sustentação – com base no conhecimento do Deus a quem se ora.
O Salmo 80 prossegue. Depois de ter apresentado o Deus a quem se ora, Asafe descreveu a motivação de quem ora pedindo restauração: é o sofrimento. Ouça, versículos 4-7:
4Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando ficarás irado com as orações do teu povo? 5Tu nos deste tristeza como alimento e nos fizeste beber copos cheios de lágrimas. 6Tu nos tornaste motivo de desprezo das nações vizinhas; agora nossos inimigos zombam de nós. 7Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Visto que Deus era a fonte do julgamento, somente ele era a esperança de misericórdia. Atenção: não foi a Assíria quem julgou o Reino do Norte. Foi Deus mesmo quem despejou o julgamento sobre Samaria, por meio da Assíria. Portanto, uma vez que Deus era a fonte do julgamento, era ele aquele a quem eles pediram misericórdia!
Ouça um trecho do desfecho dessa história, e a mão de Deus mesmo enviando os assírios sobre Israel, 2Reis 17.5-20:
5O rei da Assíria ocupou todo o território de Israel e, durante três anos, cercou a cidade de Samaria. 6Por fim, no nono ano do reinado de Oseias, o rei assírio conquistou Samaria e exilou os israelitas na Assíria. Criou assentamentos para eles em Hala, ao longo das margens do rio Habor, em Gozã, e nas cidades da Média. 7Isso aconteceu porque os israelitas adoraram outros deuses. Pecaram contra o SENHOR, seu Deus, que os havia tirado da terra do Egito e os livrado do poder do faraó, o rei do Egito. 8Seguiram as práticas das nações que o SENHOR tinha expulsado de diante deles, bem como as práticas introduzidas pelos reis de Israel. 9Os israelitas também fizeram, em segredo, muitas coisas que não eram corretas diante do SENHOR, seu Deus. Construíram santuários idólatras em todas as cidades, desde o menor posto de vigilância até a maior cidade murada. 10Ergueram colunas sagradas e postes de Aserá no alto de todo monte e debaixo de toda árvore verdejante. 11Queimaram incenso no topo dos montes, como faziam as nações que o SENHOR havia expulsado de diante deles. Os israelitas praticaram muitos atos perversos que provocaram a ira do SENHOR. 12Adoraram ídolos, apesar das advertências claras do SENHOR contra isso. 13Repetidamente, o SENHOR enviou profetas e videntes para advertirem Israel e Judá, com esta mensagem: “Afastem-se de seus maus caminhos. Obedeçam a meus mandamentos e decretos, a toda a lei que ordenei a seus antepassados e que lhes entreguei por meio de meus servos, os profetas”. 14Mas os israelitas se recusaram a ouvir. Foram tão teimosos quanto seus antepassados que não quiseram crer no SENHOR, seu Deus. 15Rejeitaram seus decretos e a aliança que ele havia feito com seus antepassados e desprezaram todas as suas advertências. Adoraram ídolos inúteis, de modo que eles próprios se tornaram inúteis. Seguiram o exemplo das nações ao redor e desobedeceram à ordem do SENHOR para que não as imitassem. 16Rejeitaram todos os mandamentos do SENHOR, seu Deus, e fizeram dois bezerros de metal. Ergueram um poste de Aserá e adoraram Baal e todos os astros do céu. 17Chegaram a sacrificar os próprios filhos e filhas no fogo. Consultaram adivinhos, praticaram feitiçaria, venderam-se para fazer o que é mau aos olhos do SENHOR e provocaram sua ira. 18O SENHOR se indignou muito com Israel e o expulsou de sua presença. Com isso, restou somente a tribo de Judá. 19Mesmo o povo de Judá, porém, não obedeceu aos mandamentos do SENHOR, seu Deus, pois seguiu as práticas perversas introduzidas por Israel. 20O SENHOR rejeitou todos os descendentes de Israel. Como castigo, entregou-os a seus inimigos, até que expulsou Israel de sua presença.
Os pecados que fizeram Deus julgar e castigar o seu próprio povo (os quais causaram a ira de Deus, Sl 80.4), como acabamos de ler em 2Reis 17, estão todos catalogados com mais detalhes nos livros dos Reis e nas mensagens dos profetas. Não é o caso aqui remoê-los, até porque Asafe não os remói neste contexto. O que se lê no Salmo 80 é o relato da vida daquela gente ao avesso: o povo que comeu o pão do céu no deserto, agora come o pão de lágrimas (v. 5); quem bebeu água que brotou da rocha, agora bebe água de lágrimas (v. 5). Deus julgou a nação. O Deus que salvou seu povo também o disciplinou.
A Igreja, os crentes devem se lembrar disto. O amor de Deus pelo seu povo não significa vistas grossas à vida do seu povo, tampouco desprezo pelos piedosos. Lê-se o seguinte em 1Pedro 4.15-17:
15Se sofrerem, porém, que não seja por matar, roubar, causar confusão ou intrometer-se em assuntos alheios. 16Mas, se sofrerem por ser cristãos, não se envergonhem; louvem a Deus por serem chamados por esse nome! 17Pois chegou a hora do julgamento, que deve começar pela casa de Deus. E, se o julgamento começa conosco, que destino terrível aguarda aqueles que nunca obedeceram às boas-novas de Deus! 18 E, “Se o justo é salvo por um triz, o que será do pecador perverso?”. 19Portanto, se vocês sofrem porque cumprem a vontade de Deus, continuem a fazer o que é certo e confiem sua vida àquele que os criou, pois ele é fiel.
O que nos motiva a orar, pedindo restauração (retorno do rosto de Deus a nós e do nosso coração a Deus), é o sofrimento pelo qual nós passamos, posto que tantas vezes este – mesmo que enviado por Deus – é usado pelo diabo para devorar a nossa fé. Foi assim a história de Jó e também dos cristãos dispersos por causa da perseguição lá na Igreja Primitiva. Veja, 1Pedro 5.5-9:
6Portanto, humilhem-se sob o grande poder de Deus [De que modo? Continue lendo:] e, no tempo certo, ele os exaltará. 7Entreguem-lhe todas as suas ansiedades, pois ele cuida de vocês. 8Estejam atentos! Tomem cuidado com seu grande inimigo, o diabo, que anda como um leão rugindo à sua volta, à procura de alguém para devorar. 9Permaneçam firmes contra ele e sejam fortes na fé. Lembrem-se de que seus irmãos em Cristo em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos.
O sofrimento nos motiva a orar, pedindo restauração (coração voltado para Deus; o sorriso de Deus; rendição humilde a Deus, com fé). O sofrimento dos nossos irmãos, mesmo que por alguma culpa deles mesmos, também deve ser motivo para nós orarmos, juntando-nos a eles, tornando-nos simpatizantes com a dor deles em oração. Lembre-se, o salmista (e o Reino do Sul) estava orando por Samaria e Israel ao Norte (e vimos que aquela gente tinha, sim, ficha suja no cartório do céu), e Asafe diz:
4Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando ficarás irado com as orações do teu povo? 5Tu nos deste tristeza como alimento e nos fizeste beber copos cheios de lágrimas. 6Tu nos tornaste motivo de desprezo das nações vizinhas; agora nossos inimigos zombam de nós. 7Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
O sofrimento, nosso e dos nossos irmãos (mesmo que culpados, de alguma forma culpados), é a motivação para a nossa oração de restauração. Deus será glorificado em nosso socorro, tanto mais em nos alegrarmos em quem ele é, fez, faz e fará pelo seu povo.
A seguir, Asafe passa a descrever a história de Israel. E ao nos recontar essa história, ele está expondo a sua perplexidade: “Tendo o SENHOR, ó nosso Deus, tratado de nós com tanto amor no passado e até aqui, como foste permitir que tudo isso nos acontecesse agora?!” Asafe é humano. Ele se revela cheio do conhecimento de Deus, da história do povo de Deus e de fé e coragem para orar, ao passo que nem fica corado ao expressar a Deus, com tanta intensidade, a sua perplexidade. Ouça, versículos 8-15:
8Tu nos trouxeste do Egito, como uma videira; expulsaste as nações e nos plantaste no solo. 9Limpaste o terreno para nós; fincamos raízes e enchemos a terra. 10Nossa sombra se estendeu por cima dos montes, nossos ramos cobriram os altos cedros. 11Estendemos nossos ramos até o Mediterrâneo, nossos brotos se espalharam até o Eufrates. 12Mas, agora, por que derrubaste nossos muros? Todos que passam roubam nossos frutos. 13Os javalis da floresta devoram a videira, animais selvagens se alimentam dela. 14Ó Deus dos Exércitos, suplicamos que voltes! Olha dos céus e vê a nossa aflição. Cuida desta videira 15que tu mesmo plantaste, o filho que criaste para ti.
Israel é lembrado como uma nação resgatada, abençoada e firmada por Deus, mas que parece ter sido deixada, entregue à própria sorte, num ambiente hostil. É uma bela figura da Igreja, que foi resgatada pelo sangue de Cristo e se firma e cresce neste mundo hostil a nós, o povo santo – e que tantas vezes deixa perplexos os crentes: “Onde está Deus?”
A perplexidade de Asafe, primeiro, nos encoraja. Não somos os primeiros nem seremos os últimos a ficar sem respostas tantas vezes. E nesses momentos, devemos nos lembrar que o que nos cabe fazer não é encontrar respostas pontuais ou de qualquer natureza, mas confiar, ter fé e prosseguir com esperança, derramando amor por onde passamos – afinal, nós conhecemos o Deus a quem oramos. Ou não?
A perplexidade de Asafe, em segundo lugar, põe-nos a orar pela Igreja, o corpo de Cristo, de forma geral (digo, outras denominações) e por nossa própria igreja local, no caso, a Segunda Igreja Batista em Goiânia. Vivemos todos em um mundo que nos deixa perplexos o tempo todo. Pior ainda nós ficamos, quando Deus não nos responde as orações. Oremos, meus irmãos. Oremos!
Vimos: o Deus a quem se ora, a motivação de quem ora e a perplexidade de quem ora. Falta-nos olhar para uma última verdade: a esperança de quem ora. Os versículos 16-19 nos revelam alguns dos fundamentos da esperança de quem ora: a justiça (v. 16), o amor (v. 17), a paciência (v. 18) e a promessa de Deus (v. 19), preste atenção:
16Somos cortados e queimados por nossos inimigos; que eles pereçam ao ver a repreensão em tua face! 17Fortalece aquele a quem amas, o filho que criaste para ti. 18Então jamais te abandonaremos [será mesmo?]; reanima-nos, para que invoquemos o teu nome. 19Restaura-nos, ó SENHOR, o Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Como nós precisamos ser lembrados, de novo e de novo, em todo o tempo, que a nossa esperança é quem Deus é: justo, em um mundo de injustiça; amoroso, em um mundo de ódio; paciente, quando vivemos quebrando nossas promessas e pecando; e cheio dos melhores pensamentos para seu povo, a Igreja, quando tudo ao redor é pessimismo. Essas verdades levaram Paulo a exultar em adoração, Efésios 3.20-21:
20Toda a glória seja a Deus que, por seu grandioso poder que atua em nós, é capaz de realizar infinitamente mais do que poderíamos pedir ou imaginar. 21A ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus por todas as gerações, para todo o sempre! Amém.
Essa é a esperança de quem ora.
O povo de Deus pode ser julgado por Deus (e é!). Jesus prometeu que julgaria suas igrejas (Ap 2.16, 2.22, 3.3, 3.19). O conselho de Apocalipse 3.20 tem a ver com este salmo (leio na NAA); é dirigido ao povo de Deus:
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.
Precisamos ter a porta da vida totalmente aberta para o SENHOR entrar no nosso coração, para que ele seja o nosso prazer e nos conduza.
Se YAHWEH era o Pastor de Israel, Jesus Cristo é o nosso Bom Pastor (Jo 10.11). Que nossa vida esteja aberta para ele, o SENHOR da glória. Oremos sempre, nas palavras do salmista (Sl 80.19):
Restaura-nos, ó SENHOR, o Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
Como a restauração espiritual ocorre?
Mantendo-nos em constante clamor a Deus (v. 3, 7 e 19). Precisamos da graça do SENHOR. Portanto: [1] conheça o seu Deus, aquele a quem você ora; [2] faça do sofrimento uma motivação para orar, jamais o contrário; [3] saiba que a perplexidade será um estado de alma recorrente aos filhos de Deus; e [4] nutra sua esperança na pessoa e na obra de Jesus Cristo para você continuar orando. Timothy Keller, como sempre, foi cirúrgico:
Jesus é o verdadeiro Benjamim [o verdadeiro filho amado de Deus, referência ao Sl 80.17], aquele que dá pleno acesso à presença de Deus (Ef. 2.18). E Jesus é a videira verdadeira (Jo 15.1-6). Só pela união com ele por meio da fé podemos nos tornar galhos e ter a vida de Deus fluindo em nós. Por meio dele, podemos ser avivados.
Usos:
Restaura-nos, ó SENHOR, o Deus dos Exércitos! Que a luz do teu rosto brilhe sobre nós; só então seremos salvos.
S.D.G. L.B.Peixoto
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