25.10.2020
[Salmo 82] Salmo de Asafe. 1Deus preside a assembleia dos céus; no meio dos seres celestiais [dos deuses], anuncia seu julgamento: 2“Até quando tomarão decisões injustas que favorecem a causa dos perversos? Interlúdio 3“Façam justiça ao pobre e ao órfão, defendam os direitos do oprimido e do desamparado. 4Livrem o pobre e o necessitado, libertem-nos das garras dos perversos. 5Esses opressores nada entendem; são completos ignorantes! Andam sem rumo na escuridão, enquanto os alicerces da terra estremecem. 6Eu digo: ‘Vocês são deuses, são todos filhos do Altíssimo. 7Morrerão, porém, como simples mortais e cairão como qualquer governante’”. 8Levanta-te, ó Deus, e julga a terra, pois todas as nações te pertencem.
O Salmo 82 não é um texto político, mas fala diretamente à política: explicita que o governo das nações pertence ao SENHOR (v. 8), inclusive o Brasil.
Iniciamos o estudo deste salmo na semana passada, e o dividimos em três partes: [1] o conselho de Deus aos governantes – vs. 1-4; [2] a crítica de Deus aos governantes – vs. 5-7; e [3] o chamado de Deus ao seu povo – v. 8. Veremos cada uma dessas partes e, no final, faremos algumas aplicações para o nosso dia a dia.
A justiça humana deve refletir a justiça divina. Assim sendo, o Salmo 82 começa nos mostrando que Deus está no meio dos juízes, governantes ou poderosos do povo. Versículo 1: “Deus preside a assembleia dos céus; no meio dos seres celestiais [dos deuses, dos fortes e poderosos governantes], anuncia seu julgamento”.
Pois bem, o Salmo 82 fala de governantes humanos, poderosos (’elohiym, deuses) que representam Deus no governo do povo, mas que estão governando com injustiça e por isso seriam julgados com a mesma impiedade (vs. 2-7).
No versículo 2, conforme anunciado no final do versículo 1 (“anuncia seu julgamento”), Deus apresenta uma acusação contra esses governantes, contra esses juízes, deuses das nações:
2“Até quando tomarão decisões injustas que favorecem a causa dos perversos? Interlúdio
Em outras palavras, Deus se levanta no meio da assembleia do seu povo e aponta para os governantes (v. 1), e diz (v. 2): “Vocês estão julgando injustamente e estão demostrando favoritismo aos ímpios.”
Tendo feito a acusação inicial contra os governantes injustos, Deus lhes diz o que ele requer que eles façam, o que ele espera daqueles que, o representando, farão uma boa administração pública. Lemos sobre isso nos versículos 3-4:
3“Façam justiça ao pobre e ao órfão, defendam os direitos do oprimido e do desamparado. 4Livrem o pobre e o necessitado, libertem-nos das garras dos perversos.
Deus requer dos governos dos homens – representantes de Deus mesmo – que eles zelem pelos interesses daqueles que comumente são esquecidos, maltratados, prejudicados… e ele enumera quais são: os pobres [fracos, inferiores], os órfãos [desprotegidos], os desamparados [necessitados] e oprimidos [massacrados].
Portanto, a prioridade de qualquer autoridade é cuidar daqueles que comumente serão ignorados, e garantir que eles recebam justiça e proteção contra agressões perversas. Observe, mais uma vez, como Deus fala disso no versículo 4: “Livrem o pobre e o necessitado, libertem-nos das garras dos perversos.”
Deus está falando de pelo menos três elementos do tipo de governo que é justo e bom, e que ele espera dos líderes do povo: cuidar, defender e libertar. Veja:
Em primeiro lugar, eles vão cuidar daqueles que provavelmente serão esquecidos. Em outras palavras, eles vão se certificar de que haja justiça igualmente para todos.
Em segundo lugar, eles vão defender aqueles que são vulneráveis aos maus tratos e agressões dos ímpios, de forma que haja justiça e defesa daqueles que não podem se defender. Ambos os elementos – justiça e ações justas – são esperados por Deus em termos de bom governo.
Em terceiro lugar, eles vão libertar o pobre e o necessitado, vão libertá-los das garras dos perversos; tirá-los-ão da posição de vulneráveis e colocá-los-ão em condições de florescer.
A propósito, esta é a razão pela qual os crentes na Bíblia sempre acreditaram que o bom governo deve promover justiça igualmente para todos perante a lei. Essa não é uma ideia inventada por civilizações mais bem evoluídas. Com efeito, as civilizações aprenderam essa verdade de sua herança judaico-cristã, da Bíblia – que diz que justiça igualmente para todos perante a lei é algo que Deus espera de todo bom governo, pois todo foram criado à imagem, conforme a semelhança de Deus. É um princípio bíblico universal.
Ainda pegando carona neste tema: essa seria uma ótima maneira de você iniciar uma boa conversa com um amigo não cristão. Você poderia dizer:
— Como cristão, tenho uma razão para acreditar e defender que deve haver justiça igualmente para todos perante a lei. Se você não acredita na Bíblia, e acredita na evolução darwiniana e no naturalismo científico e filosófico, e não acredita que Deus existe, com base em que você acredita que deveria haver justiça igualmente para todos perante a lei? Não deveria vencer sempre o mais poderoso? Qual é a base filosófica de sua cosmovisão que permite a você dizer que deve haver justiça igualmente para todos perante a lei?
Não haverá uma boa resposta por parte de quem nega o Deus Criador, o qual, estabeleceu as leis e as normas universais, de certo e errado, de verdade e justiça, e as colocou na Bíblia. Portanto, seria uma conversa pré-evangelística muito útil para se ter com um amigo ou conhecido descrente algum dia.
Outra coisa importante, antes de deixarmos este primeiro ponto: Deus, ao ter os filhos de Israel cantando este salmo – no qual ele repreende governantes injustos e estabelece os padrões de um bom governo –, está, realmente, fazendo o quê?
Deus está reforçando no seu povo [1] a crença de que o próprio Deus é o ponto de partida de todo governo que se designe justo e bom; [2] a crença de que Deus é a fonte das normas morais duradouras pelas quais todo bom governo é medido; [3] a crença de que Deus está profundamente interessado em governar com justiça em todas as sociedades.
Uma das coisas importantes sobre este salmo é que ele enfatiza, continuamente, que Deus governa não apenas sobre Israel, mas – sobre o quê? – sobre todas as nações. Elas pertencem a ele. Portanto, Deus se preocupa em governar com justiça não apenas entre seu povo (os cristãos, por exemplo), mas em todas as sociedades, e Deus mesmo responsabilizará aqueles que governam por não terem seguido o seu governo.
Então, apenas cantando este salmo, repetidamente por centenas de anos, os filhos de Israel aprenderam que Deus é o ponto de partida de todo governo que se designe justo e bom; que ele é o ponto de partida das normas morais duradouras pelas quais todo bom governo deve ser medido; que ele está profundamente interessado em governar com justiça em todas as sociedades; e que ele responsabilizará aqueles quem governam diferentemente do que se espera dos governantes.
Esse é o conselho de Deus para os governantes das nações.
Por que, em última instância, Deus é pela justiça, o direito dos oprimidos e a liberdade daqueles que estão sob as garras dos perversos? (Sl 82.3-4).
Volte aos primeiros capítulos da Bíblia. Depois do dilúvio, Deus deu a Noé a mesma comissão que deu a Adão (“Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra.”, Gn 9.1), só que desta vez Deus forneceu uma direção para o governo, uma carta constitucional (Gn 9.6): “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”.
O objetivo imediato de Gênesis 9.5-6 é estabelecer a justiça e impedir os Cains de matarem os Abels, assim como o objetivo imediato das faixas nas rodovias é manter os carros na pista. Pois bem, o propósito final do governo é fornecer uma plataforma para o plano de redenção de Deus, assim como o propósito final dessas faixas de trânsito é ajudar os condutores dos veículos a viajarem da cidade A para a cidade B.
Veja: Gênesis 9 vem antes de Gênesis 12 e o chamado de Abraão por uma razão. O governo fornece um palco no qual o drama da redenção de Deus pode se desenrolar. É pelo drama da redenção que Deus aconselha os governantes das nações. Porque, em última instância, somente há justiça, amparo e liberdade (cf. Sl 82.3-4) na redenção promovida pelo evangelho de Jesus Cristo.
Paulo, o apóstolo, sabia bem disso: ele observa que Deus determinou as fronteiras das nações e as datas de sua duração para que as pessoas o busquem (At 17.26-27):
26De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. 27“Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós.
Os cidadãos precisam ser capazes de livremente caminhar até a igreja sem serem atacadas por saqueadores, por exemplo. Eles não podem ser salvos se estiverem mortos. O trabalho do governo, em resumo, fornece uma plataforma para o trabalho dos santos. É dessa forma que o governo serve ao evangelho – cuidando, defendendo e protegendo para que todos tenham igualmente voz. Veja, 1Timóteo 2.1-6:
1Em primeiro lugar, recomendo que sejam feitas petições, orações, intercessões e ações de graça em favor de todos, 2em favor dos reis e de todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida pacífica e tranquila, caracterizada por devoção e dignidade. 3Isso é bom e agrada a Deus, nosso Salvador, 4cujo desejo é que todos sejam salvos e conheçam a verdade. 5Pois: Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus. 6Ele deu sua vida para comprar a liberdade de todos.
A crítica que Deus fez aos governantes no versículo 2, ele expande e aprofunda no versículo 5. Ouça os dois aqui, respectivamente:
2“Até quando tomarão decisões injustas que favorecem a causa dos perversos? Interlúdio […] 5Esses opressores nada entendem; são completos ignorantes! Andam sem rumo na escuridão, enquanto os alicerces da terra estremecem.
No versículo 2, o SENHOR destacou as decisões injustas e o favorecimento aos perversos. No versículo 5, Deus escancarou o íntimo dessa gente no governo: nada entendem, são completos ignorantes e andam sem rumo na escuridão. Como assim? O que isto significa? Será mesmo que essa gente corrupta no poder é burra e não sabe o que quer? Ora, claro que não! Elas sabem até demais. Então, o que estaria dizendo o SENHOR?
Eles nada entendem da lei do SENHOR. São ignorantes daquilo que é certo e errado pelo padrão da vontade de Deus, por isso eles invertem a ética e a moral. Daí que eles “andam sem rumo na escuridão” (v. 5). Resultado: “os alicerces da terra estremecem” (v. 5).
Em outras palavras, toda a ordem moral está transtornada, o governo está em turbulência por causa dessa liderança sem ética e sem lei, a lei do SENHOR. Não apenas que seja uma liderança ruim, mas uma liderança errada, injusta e imoral. As bases do bem-estar geral foram rachadas por causa desse governo ímpio.
Todos nós sabemos, não deveria nos surpreender, mas em um mundo decaído há uma tendência corruptora em ação em todo exercício de autoridade e poder humano. Consequentemente, nossos constituintes e legisladores colocaram na lei dispositivos de fiscalização e de controle para tentar resolver o problema de pessoas depravadas no poder, valendo-se desse poder de forma corrupta e que não promove o bem-estar geral, mas na verdade o prejudica.
Pois bem, aqui no versículo 5, Deus está fazendo sua avaliação a respeito desses governantes e líderes. Eles não reconheceram a Deus como a fonte de justiça e de governo, desprezaram a palavra de Deus e por isso eles carecem de sabedoria e discernimento, enquanto as pessoas sofrem sob seus governos. Entretanto, em que pese Deus parecer estar alheio a todos os fatos e acontecimentos da política atual, o SENHOR mesmo anuncia com toda a força o que, mais cedo ou mais tarde, ele fará, versículos 6-7:
6Eu digo: ‘Vocês são deuses, são todos filhos do Altíssimo. 7Morrerão, porém, como simples mortais e cairão como qualquer governante’”.
Em outras palavras, Deus está dizendo:
— Olhem aqui, eu nomeei vocês em Israel como meus representantes para o bem-estar do povo e, nesse sentido, vocês são deuses, vocês são representantes do Altíssimo, foram constituídos de poder. Vocês são pessoas que receberam minha autoridade para governar. No entanto, não se esqueçam que vocês vão morrer como qualquer outro ser humano, e quando vocês morrerem, haverá um julgamento à sua espera. Portanto, por piedade de vocês mesmos, não se achem coisa alguma, não se achem desuses! Vocês não passam de simples mortais.
Deus designou governantes em Israel (e sobre as nações). Eles estão investidos da responsabilidade divina de administrar a justiça e de governar de acordo com seus padrões. Eles prestarão contas a Deus e, por isso, ele lhes diz:
— Vocês são deuses. Vocês foram designados por mim para administrar a justiça. Um dia vocês vão morrer, ficarão diante do meu veredito no meu tribunal e eu avaliarei sua fidelidade. Estou aqui lhes dando uma prévia de como será essa avaliação. A menos que vocês governem de acordo com a justiça, cujo padrão é encontrado em mim mesmo – na lei moral que está gravada no seu coração (Rm 2.14-16) e explicitada na minha Palavra, vocês serão condenados.
Essa é a crítica – e o alerta – que Deus faz aos governantes.
Por fim, em resposta aos pronunciamentos de Deus, o povo de Deus, finalmente, fala neste salmo. O tempo todo eles cantaram sobre Deus (v. 1) ou as palavras de Deus (vs. 2-7) para esses governantes. Finalmente, no versículo 8, o povo de Deus cantará com suas próprias palavras. E o que eles cantarão?
8Levanta-te, ó Deus, e julga a terra, pois todas as nações te pertencem.
As últimas palavras da Bíblia ecoam essas palavras do salmista, Apocalipse 22.20 (penúltimo versículo da Bíblia):
Aquele que é testemunha fiel de todas essas coisas diz: “Sim, venho em breve!”. Amém! Vem, Senhor Jesus!
Venha para quê? Para julgar a terra (Sl 82.8). Para estabelecer seu reino entre todas as nações, posto que elas lhe pertencem. O próprio Jesus nos ensinou a orar dessa maneira, Mateus 6.10:
Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
O Salmo 82 termina nos dando um vislumbre do reino de Cristo, por meio do evangelho, sobre as nações. Salmo 72.8-11:
8 Que ele reine de mar a mar, e do rio Eufrates até os confins da terra. 9Nômades do deserto se curvarão diante dele, seus inimigos lamberão o pó a seus pés. 10Os reis de Társis e de outras terras distantes lhe pagarão tributos. Os reis de Sabá e de Sebá lhe darão presentes. 11Todos os reis se curvarão diante dele, e todas as nações o servirão.
Isaías 9.6-7:
6Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros, e ele será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz. 7Seu governo e sua paz jamais terão fim. Reinará com imparcialidade e justiça no trono de Davi, para todo o sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará que isso aconteça!
Será neste tempo que ele julgará todos os homens e nações, Mateus 25.31-32:
31“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se sentará em seu trono glorioso. 32Todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará as pessoas como um pastor separa as ovelhas dos bodes.
É tudo isso que nós acabamos de ler que está embrulhado em Salmos 82.8: “Levanta-te, ó Deus, e julga a terra, pois todas as nações te pertencem.” Deus está nos lembrando, por meio deste salmo, que ele responsabilizará e julgará todos aqueles que reinam, presidem, governam e julgam os povos das nações.
Nosso chamado em tudo isso:
NOSSO CHAMADO É ORAR E CLAMAR: “Venha o teu reino, seja feita justiça na terra, assim como é no céu. Todas as nações te pertencem. Faça a nós justiça, SENHOR.” Nossas armas são espirituais: oração.
NOSSO CHAMADO É ATUAR COM JUSTIÇA: atuar informados pela palavra de Deus. A moralidade judaico-cristã jamais ficará de fora das políticas públicas, posto que não existem leis ou medidas que sejam de neutras de tudo. Simplesmente não há. Cite alguma. Todo projeto de lei já chega carregado de alguma moralidade (religiosa ou filosófica), todo mundo sempre estará informado por alguma doutrina, filosofia ou teologia.
NOSSO CHAMADO É CULTUAR EM ESPÍRITO E EM VERDADE: o culto público, sempre que apresenta a verdade e o padrão de justiça de Deus, é enfaticamente subversivo para os governantes corruptos e corruptores, ao mesmo tempo que instrutivo e formativo para o povo de Deus.
Ô meu povo, se de fato acreditássemos e cumpríssemos o nosso chamado, o mundo seria chacoalhado pela doutrina cristã, à exemplo de Atos 17.6 – “Aqueles que têm causado transtornos no mundo todo agora estão aqui, perturbando nossa cidade [apresentando-nos o senhorio de Cristo]”. Somos chamados a orar e clamar, praticar a justiça (em defesa, especialmente, dos mais fracos) e cultuar em espírito e em verdade.
O governo das nações – inclusive o que acontece em Brasília, nas casas de governo dos estados e dos municípios brasileiros – é extremamente importante para Deus. Não é algo que deixamos de lado em nossa vida. Não é que tenhamos duas vidas: uma vida cristã aqui dentro da igreja e outra vida secular lá fora – lá no governo, na politica, na escola, na universidade ou no trabalho. Não, Deus está muito preocupado com o governo.
Martinho Lutero, quando expôs o Salmo 82, estava vivendo no meio da Guerra dos Camponeses na Alemanha. Ele, de fato, citava sem parar este salmo. Uma das razões pelas quais ele fez isso foi por causa da grande consideração que o reformador nutria pelo bom governo e pela bênção de se ter um bom governo, não apenas para o povo de Deus, mas para todas as pessoas. Ele escreveu, ao comentar este salmo, que preferiria ser um bom líder político, um bom governante (um bom “príncipe secular”, ele diria em sua época), do que ser um Hilário ou um Jerônimo. Hilário foi um dos homens que iniciaram o movimento monástico na Palestina e Jerônimo foi um monge famoso, em Belém, responsável pela tradução da Bíblia Vulgata Latina. Escreveu Lutero:
Se o desejo pudesse fazer alguma coisa, eu preferiria ser um secretário de Estado piedoso ou cobrador de impostos de um desses “deuses” [governantes] do que ser duas vezes Hilário ou Jerônimo entre os anjos. Mesmo que minha pequena caneta ou insignificância miserável ficasse menos visível aos olhos do mundo do que as barbas cinzentas e peles enrugadas daqueles santos; eu não me preocuparia com isso, se apenas eu fosse participante de todas as virtudes divinas do governo de que falei.
Lutero estava indicando a visão elevada que ele nutria pelo bom governo civil.
João Calvino também compartilhava dessa visão muito elevada do governo das nações. Na verdade, muitas vezes ouvimos os pregadores hoje dizerem que o ministério da Palavra é o chamado mais elevado que uma pessoa ter. Calvino, entretanto, pensava que o chamado para o governo era o maior chamado que uma pessoa poderia almejar!
Novamente, era a forma que o reformador de Genebra encontrou de expressar o reconhecimento elevado de que o governo das nações foi apontado por Deus mesmo para o bem-estar geral, e que não há nada mais benéfico para as pessoas e para o povo de Deus em particular do que a boa governança.
Ainda sobre o Salmo 82, Lutero fez alguns comentários extremamente úteis para todas as gerações, especialmente a nossa, tão turbulenta e dividida ideologicamente. Ele buscou o equilíbrio, e lembre-se de que o reformador estava no meio do fogo cruzado da Reforma Protestante e da Guerra dos Camponeses. Lutero apontou os dois aspectos do governo: o aspecto da honra que devemos ter para com aqueles que estão no governo e o aspecto da responsabilidade que aqueles que estão no governo têm para com Deus e os povos das nações. Eis o que Lutero escreveu:
Onde não há governo, ou onde o governo não é honrado, não pode haver paz. Onde não há paz, ninguém pode manter sua vida ou qualquer outra coisa em face da ofensa ou furto ou roubo ou violência e maldade de outrem; muito menos haverá espaço para ensinar a palavra de Deus e criar filhos no temor do Senhor e em sua disciplina.
Há, portanto, um lado: a bênção do bom governo. Entretanto, existe o outro lado: a responsabilidade dos governantes:
Deus mantém os governantes sob controle para que eles não abusem de sua majestade e poder de acordo com a vontade própria deles, pois eles não são deuses entre o povo e senhores da congregação [sociedade] de tal forma que eles têm esta posição só para eles e podem fazer o que quiserem. Não é assim! O próprio Deus também está lá [entre eles]. Ele os julgará, punirá e corrigirá. E se eles não obedecerem, eles não escaparão.
Usos:
A perseguição violenta quebra apenas as pontas dos galhos; ela produz mártires e a árvore ainda cresce. Repressão social e política sem fim… mata à fome as raízes; sufoca o evangelismo e a igreja declina. Essa foi a história da igreja na Ásia sob o Islã, até… Tamerlão varrer o continente com a perseguição que acabou com todas as perseguições; os massacres em massa deram a ele o nome de “o exterminador”, e deram ao cristianismo asiático o ultimato, o sopro fatal.
Oração, pregação e discipulado são a nossa arma dentro do Estado democrático de direito. Ainda sobre o estado da igreja na Ásia, Moffett documentou que o golpe fatal contra o cristianismo no continente asiático
Não foi a perseguição de Tamerlão, embora os efeitos permanentes dessa destruição devastadora ainda persistam. Mais incapacitante do que qualquer perseguição foi a longa linha de decisões da própria igreja… comprometendo as prioridades evangelísticas e missionárias em prol da sobrevivência.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto