21.02.2021
[Salmo 84] Ao regente do coral: salmo dos descendentes de Corá, para ser acompanhado com instrumento de cordas. 1Como é agradável o lugar de tua habitação, ó SENHOR dos Exércitos! 2Sinto desejo profundo, sim, morro de vontade de entrar nos pátios do SENHOR. Com todo o meu coração e todo o meu ser, aclamarei ao Deus vivo. 3Até o pardal encontra um lar, e a andorinha faz um ninho e cria seus filhotes perto do teu altar, ó SENHOR dos Exércitos, meu Rei e meu Deus! 4Como são felizes os que habitam em tua casa, sempre cantando louvores a ti! Interlúdio 5Como são felizes os que de ti recebem forças, os que decidem percorrer os teus caminhos. 6Quando passarem pelo vale do Choro, ele se transformará num lugar de fontes revigorantes; as primeiras chuvas o cobrirão de bênçãos. 7Eles continuarão a se fortalecer, e cada um deles se apresentará diante de Deus, em Sião. 8Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, ouve minha oração; escuta, ó Deus de Jacó! Interlúdio 9Ó Deus, olha com favor para o rei, nosso escudo; mostra bondade ao teu ungido! 10Um só dia em teus pátios é melhor que mil dias em qualquer outro lugar. Prefiro ser porteiro da casa de meu Deus a viver na morada dos perversos. 11Pois o SENHOR Deus é nosso sol e nosso escudo; ele nos dá graça e honra. O SENHOR não negará bem algum àqueles que andam no caminho certo. 12Ó SENHOR dos Exércitos, como são felizes os que confiam em ti!
Onde você guarda seu coração?
A Bíblia diz que devemos guardar o coração, Provérbios 4.23: “Acima de todas as coisas, guarde seu coração, pois ele dirige o rumo de sua vida.” Devemos guardá-lo para que não endureça com o pecado ou quebre com as provações desta vida.
Onde você guarda seu coração?
Muita gente tenta guardá-lo em si mesmo – evitando o amor –, o que no fim é uma tragédia. C. S. Lewis escreveu a este respeito no seu livro Os Quatro Amores:
Amar é, sempre, ser vulnerável. Para que nunca se sofra com isso, aconselha-se não se amar algo, ou mesmo, alguém. Se sugere proteger a si mesmo nos próprios hobbies, mimos e zelos, evitar qualquer envolvimento com as pessoas, guardar o coração na segurança do caixão do próprio ego. Dessa forma, nessa tumba segura e resistente, sem movimento ou ar, o seu coração provavelmente mudará para melhor. Sim, sim, ele não se partirá, antes se tornará indestrutível, impenetrável, invencível ou inalienável [que não pode ser vendido ou entregue]!: ele nunca precisará de algum perdão. Mas essa comprável alternativa sistemática de proteção de tragédias, é preciso que se diga, é condenatória. Isso, porque o único lugar que existe além do céu, onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os acidentes e perturbações do amor, é o inferno.
Onde você guarda seu coração?
Só há duas alternativas possíveis: ou você o guarda no céu – e consegue prosseguir amando, à prova de choques (com o couro grosso e o coração mole) – ou você o guarda no inferno e o vê endurecer, trincar, quebrar e ficar em pedaços, até virar pó. A sua alternativa – e a minha alternativa – é guardar o coração no céu, em Cristo; e o lugar mais próximo do céu na terra é a igreja: a casa de Deus.
O Salmo 84 foi escrito por alguém que não estava mais em Jerusalém; não mais vivia próximo do lugar da adoração e, portanto, estava impedido “de entrar nos pátios [ou átrios] do SENHOR” (Sl 84.1-2). O salmista estava muito longe para celebrar as três festas anuais dos judeus (Êx 23.17; 34.23). Achava-se, portanto, morrendo de vontade de voltar ao templo, morrendo de saudades da casa do SENHOR. Foi por isso que este se tornou um salmo de peregrinação.
O salmo está dividido em três partes muito bem destacadas, cada uma separada da outra pela expressão Interlúdio, Pausa ou Selá – no final dos versículos 4 e 8. O que se observa nos três parágrafos é o estado de maravilha do salmista, revelando-nos que o melhor lugar do mundo, o lugar seguro para se estar era a casa de Deus, o templo de Jerusalém. Veja como se divide o Salmo 84:
O coração do salmista, conforme esboçado aqui neste salmo, revela não só o estado de graça que todos nós podemos desfrutar na comunhão do povo de Deus na igreja local, mas também informa porque a igreja é o melhor e o mais seguro lugar do mundo para se viver, o lugar para se guardar o coração – a casa do coração.
Pois bem, mergulharemos no salmo sob os seguintes tópicos:
Um de cada vez…
O salmista começa destacando seu sentimento quando ele pensa na comunhão na casa de Deus. Para o judeu, o templo era o lugar mais sagrado do mundo. No Santo dos Santos (parte mais sagrada do templo) estava a shekinah, manifestação visível da presença gloriosa de Yahweh. O hebreu amava o templo e visitava-o com regularidade e alegria.
Os pais de Jesus o levaram, ainda bebê, ao templo (Lc 2.22) e iam anualmente às festas religiosas (Lc 2.41-42). Para o salmista, aquele era um lugar especial (v. 1). Ele suspirava e chegava a morrer de vontade de estar na casa de Deus (v. 2). Até o pardal e a andorinha se sentiam bem lá (v. 3). Leia comigo mais uma vez – versículos 1-4. Nota-se nesses versículos que a comunhão na casa de Deus [1] é agradável ao coração – traz alegria – (v. 1); [2] é animadora ao coração – traz ânimo, desejo de adorar (v. 2); e [3] é também acolhedora – traz aconchego ao coração (vs. 3-4). Veja:
Salmo 84.1-4 1Como é agradável o lugar de tua habitação, ó SENHOR dos Exércitos! 2Sinto desejo profundo, sim, morro de vontade de entrar nos pátios do SENHOR. Com todo o meu coração e todo o meu ser, aclamarei ao Deus vivo. 3Até o pardal encontra um lar, e a andorinha faz um ninho e cria seus filhotes perto do teu altar, ó SENHOR dos Exércitos, meu Rei e meu Deus! 4Como são felizes os que habitam em tua casa, sempre cantando louvores a ti! Interlúdio
Longe de casa, da casa de Deus, o salmista encontrou tempo para recordar e refletir sobre tudo, até mesmo nos pequenos detalhes. Ele lembrou até dos pássaros que costumavam fazer ninhos nos arredores e nos cantos da casa de Deus: pardais e andorinhas. O filho pródigo também se lembrou de como os trabalhadores de seu pai comiam com fartura lá na casa do pai (Lc 15.17). Longe de casa e longe de Deus, geralmente nós paramos e pensamos, caímos em nós mesmos e retornamos arrependidos e com fé. Seja assim com você hoje, se for este o caso. Gerson Borges, na bela canção que compôs sobre o filho pródigo – Longe de Casa, escreveu no refrão:
Longe de casa, longe de casa, // dura pouco a ilusão. // Longe de casa, longe de casa, // adoece o coração // e não há ninguém por perto, // longe de casa é um deserto. // Longe de casa, longe de casa, // só há solidão.
O pardal era um pássaro sem valor (nos dias de Jesus, dois pardais valiam uma moedinha de cobre, 1/16 de 1 denário — Mt 10.29); a andorinha era uma ave vagante, migratória (Jr 8.7). A conclusão do salmista, portanto, era que tanto o pobre escanteado quanto o peregrino errante sempre encontram o que precisam na comunhão da casa de Deus – alegria, ânimo, acolhida. A igreja é um lugar de comunhão para toda a gente.
A comunhão da igreja é para os pobres — os pobres e desprezados pelo mundo, mas que caíram em si, voltaram-se para Deus com fé em Jesus e encontraram acolhida no abraço do Pai (Lc 15.14-20; Jo 6.37). Aqui eles aprenderam que o reino do céu é do pobre em espírito (Mt 5.3).
A comunhão da igreja é para os peregrinos — os cansados e sobrecarregados, os vagantes, errantes e insatisfeitos, que ao se voltarem para a comunhão da casa de Deus, encontraram descanso para a alma cansada, sobrecarregada e perturbada (Mt 11.28-30).
A comunhão da igreja é para os pequeninos — ouça de novo o que disse o salmista, Salmo 84.3: “Até o pardal encontra um lar, e a andorinha faz um ninho e cria seus filhotes perto do teu altar, ó SENHOR dos Exércitos, meu Rei e meu Deus!” A igreja é o lugar para se ter e se educar os filhos. Aqui eles crescem “perto do altar” do SENHOR – da mensagem do evangelho, a mensagem da cruz de Cristo Jesus. Que privilégio e que responsabilidade! Cuidado com suas palavras e posturas perto dos pequeninos; ajude-nos como voluntário ao serviço das crianças!
A comunhão da igreja é para uma devoção permanente — pobres e peregrinos encontram na casa de Deus um lar (ninho), uma família e uma habitação permanente e edificante. Aninhar significa entregar-se, deitar-se, confiar e se regozijar. Deve ser assim a vida com Deus – na comunhão da igreja local.
A comunhão da igreja é apenas para pardais e andorinhas — note bem que não são todos os tipos de “pássaros” que acham na igreja ninho para si: a águia é muito altiva, ambiciosa e orgulhosa (não se mistura); o pavão é muito pomposo (se acha demais da conta); o urubu tem hábitos necrófagos (alimenta-se de carniça); o falcão vive da caça de outras aves (alimenta-se de seus iguais); a galinha é muito dependente dos homens; a coruja ama viver na escuridão; o papagaio é muito tagarela; o beija-flor vive de flor em flor, não para em lugar nenhum; etc. O pardal e a andorinha, no entanto, encontram ninho para si na casa de Deus: eles são pobres em espírito, estão cansados de peregrinar e fogem do mal:
Provérbios 26.2 Como o pardal que alça voo e a andorinha que atravessa o céu, a maldição imerecida não pousa sobre quem ela é dirigida.
Fuja do mal, fuja do pecado, fuja da maldição deste mundo e refugie-se em Jesus Cristo, na comunhão da igreja local – Efésios 2.16: “Assim, ele [Cristo] os reconciliou com Deus em um só corpo [a igreja] por meio de sua morte na cruz.” – Seja como o pardal e a andorinha. Aninhe-se em Cristo. Faça morada na igreja do Deus vivo. Aqui é um lugar de comunhão, para você guardar o coração em Deus. Volte para Deus em Jesus e cante com Gerson Borges:
Um dia deixei você, // fui ingrato e mal. // Nem ao menos agradeci // seu amor, o seu carinho.
Um dia, deixei você // e achei tudo tão normal. // Ninguém sabe o que é sofrer // até descobrir sozinho.
[Refrão]
Pai, eu te abandonei, // quanta coisa destruí! // Mas agora aprendi // que esse mundo é perigoso.
Eu quero recomeçar, // levantar onde caí. // Eu tô cansado de mendigar // tendo um pai tão amoroso!
Venha para a comunhão na casa de Deus – com o Pai, o Filho, o Espírito e os irmãos.
O salmo prossegue e nos conta sobre a peregrinação de quem vai à casa de Deus:
Salmo 84.5-8 5Como são felizes os que de ti recebem forças, os que decidem percorrer os teus caminhos. 6Quando passarem pelo vale do Choro, ele se transformará num lugar de fontes revigorantes; as primeiras chuvas o cobrirão de bênçãos. 7Eles continuarão a se fortalecer, e cada um deles se apresentará diante de Deus, em Sião. 8Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, ouve minha oração; escuta, ó Deus de Jacó! Interlúdio
O hebraico para “como são felizes” traz ashre, nos três versículos em que é citado (vs. 4, 5, 12). É a palavra para “bem-aventurado”. É a idéia de se estar completo, realizado, caminhando para um estado de “completude”. É bem-aventurado quem “habita na casa do Senhor”, é bem-aventurado o peregrino que vai à casa do Senhor se fortalecer (NVI: os “peregrinos de coração”; BJ: os que “guardam as peregrinações no coração”; NVT: “os que decidem percorrer os teus caminhos”).
Não basta ir à casa do Senhor. É preciso ir com expectativa e alegria no coração; desse modo, recebe-se força e continua-se a se fortalecer.
O vale de Bacah
O “vale do Choro” ou “vale de Boca” ou “vale Árido” (v. 6) é desconhecido, fora da Bíblia. Bacah é “balsameira” ou “álamo”. Por isso, algumas traduções trazem “vale árido” – pois esse tipo de árvore só nasce em terra árida.
Bacah significa “choro”, “lágrima”. As balsameiras são plantas que destilam, gotejam ou “choram” o bálsamo, uma resina de odor tão agradável que a palavra “bálsamo” veio a significar, figurativamente, “alívio”, “conforto”, “lenitivo”.
As peregrinações de Israel são um tipo ou símbolo da peregrinação dos cristãos neste mundo. Jesus disse aos Seus discípulos: “Vocês não são deste mundo” (Jo 15.19). Paulo escreveu aos filipenses: “A nossa pátria está nos céus” (Fl 3.20). E Pedro endereçou suas cartas “aos eleitos… peregrinos e forasteiros…” (1Pe 1.1; 2.11).
Os hebreus faziam suas peregrinações a Jerusalém com o propósito de adorar a Deus no templo; nós, os cristãos, estamos a caminho da chamada Jerusalém Celestial onde haveremos de adorar e servir ao Deus Triúno, em tabernáculos eternos (e a comunhão na casa de Deus, a igreja, é um pequeno recorte do que teremos na glória).
Peregrinando aqui, [1] temos passado, sim, por lugares de indescritível beleza; [2] o Bom Pastor nos tem conduzido por “pastos verdejantes”, e nos tem levado “para junto das águas de descanso”, conforme lemos no Salmo 23.1-2; [3] anjos têm vindo do céu à terra somente para nos proteger e servir (Sl 34.7); [4] temos vivido experiências agradabilíssimas… Entretanto, não há por que negar que alguns trechos do caminho têm sido muito difíceis. Não temos podido evitar o “vale do Choro” ou “vale de Lágrimas”. Gostaríamos que o Salmo do Pastor (Salmo 23) falasse somente de “pastos verdejantes”, “águas tranqüilas” e “mesas postas”, e não mencionasse o “vale da sombra e da morte” (v.4). Mas a referência está ali… O “vale Árido” ou “vale de Bacah” existe, é real.
Se você, irmão(ã) está passando pelo “vale de Bacah”, quero informar-lhe que o seu equivalente geográfico na Palestina recebeu este nome não porque era árido, difícil, sofrido, mas por causa das plantas que cresciam ali e “choravam” bálsamo. Este vale recende a bálsamo – Cristo! Veja comigo quanto conforto e lenitivo existe neste vale:
1 – O vale de Bacah é para todos os cristãos
Os hebreus de quase toda a Palestina tinham que passar pelo vale de Bacah, quando a caminho de Jerusalém. A geografia e a topografia os obrigavam a isto. Na experiência cristã não é diferente. Alguns poucos são levados, como que “por via aérea”, do berço para a glória da Jerusalém Celestial, sofrem muito pouco, e escapam do vale do Choro ou de Lágrimas; mas todos os outros – a maioria de nós – têm que passar pelo vale de Lágrimas. Parece que Moisés passou por este vale repetidas vezes. Idoso, sofrido e enfadado, ele orou, Salmo 90.13-15:
13Ó SENHOR, volta-te para nós! Até quando te demorarás? Tem compaixão de teus servos. 14Satisfaze-nos a cada manhã com o teu amor, para que cantemos de alegria até o final da vida. 15Dá-nos alegria proporcional aos dias de aflição; compensa-nos pelos anos em que sofremos.
Muitas são as adversidades que nos afligem e nos fazem chorar no transcurso desta nossa peregrinação terrena: desapontamentos, desastres, calamidades, perdas, escassez, enfermidades, morte, decepções, traições… De um modo ou de outro, cedo ou tarde, mais ou menos vezes, todos passamos pelo vale.
2 – O vale de Bacah é indesejável
O vale de Bacah é indesejável, pois é árido, pedregoso, escuro, extenso e infestado:
É árido. Não tem rios de alegria; os poços, cavados por alguns dos peregrinos que nos antecederam, ou que foram por nós mesmos cavados são, muitas vezes, “cisternas rachadas que não retêm as águas” (Jr 2.13).
É pedregoso. Os peregrinos conseguem remover as pedras menores, não as grandes; a caminhada é muito sofrida; muitos tropeçam e caem.
É escuro. As trilhas serpenteiam entre rochas de angústia e montanhas de pecado; o Sol da Justiça esconde-se por trás delas [as montanhas dos nossos pecados] e o vale fica sombrio.
É extenso. Os peregrinos sabem que Sião está à frente, mas não podem vê-la; a caminhada parece não ter fim. Muitos ficam desencorajados.
É infestado. Há espíritos maus neste vale. Eles tentam; fazem insinuações malditas e sugestões blasfemas: armam ciladas, lançam os “dardos inflamados do maligno” (Ef 6.11, 16).
O vale de Bacah é indesejável, muito indesejável: é árido, pedregoso, escuro, extenso e infestado.
3 – O vale de Bacah é muito proveitoso
O vale de Bacah é para todos os cristão e é indesejável, mas é muito proveitoso. Torna-nos mais fortes, humildes, dependentes de Deus, enfim, mais crentes. A companhia e as necessidades dos outros peregrinos ensinam-nos a pensar mais neles, e a “levar as cargas uns dos outros” (Gl 6.2).
O autor do Salmo 119 aprendeu muito no vale de Bacah, razão porque orou (vs. 67, 71, ARA): “Antes de ser afligido andava errado, mas agora guardo a Tua Palavra… Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os Teus decretos.”
Paulo passou por este vale diversas vezes, e testemunhou: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura como de fome, assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4.11-13, ARA).
Que fazer no vale de Bacah?
Até aqui, definimos o contexto do Salmo 84, o sentido da termo “bacah” (balsameiras) e vimos que o “vale de Bacah” ou “vale de Choro”, no sentido real e figurado, é frequentado por todos os cristãos, é indesejável e, todavia, muito proveitoso. Vejamos agora o que fazer uma vez que estivermos neste vale.
O salmista escreveu, Salmo 84.6:
Quando passarem pelo vale do Choro, ele se transformará num lugar de fontes revigorantes; as primeiras chuvas o cobrirão de bênçãos.
Como transformá-lo em manancial?
Como torná-lo um lugar de fontes revigorantes?
Cave poços
Cave poços! Os peregrinos orientais, quando passavam por regiões áridas, sem água, cavavam poços. Assim, conseguiam água para si mesmos e para seus animais. Agiram da mesma maneira no passado os patriarcas de Israel (Gn 26.18ss.; Jo 4.12).
Isso nos ensina muita coisa:
Há conforto e escape na tribulação. Nossa tendência, quando passamos por uma provação, é desesperar e desistir. Hagar, a escrava egípcia de Sara, esposa de Abraão, quando foi expulsa de casa com o filho Ismael, enfrentou uma tremenda provação: andou errante pelo deserto de Berseba, até que lhe acabou a água do odre.
Que fez, então?
Gênesis 21.15-19 15Quando acabou a água, Hagar colocou o menino à sombra de um arbusto 16e foi sentar-se sozinha, uns cem metros adiante. “Não quero ver o menino morrer”, disse ela, chorando sem parar. 17Mas Deus ouviu o choro do menino e, do céu, o anjo de Deus chamou Hagar: “Que foi, Hagar? Não tenha medo! Deus ouviu o menino chorar, dali onde ele está. 18Levante-o e anime-o, pois farei dos descendentes dele uma grande nação”. 19Então Deus abriu os olhos de Hagar, e ela viu um poço cheio de água. Sem demora, encheu a vasilha de água e deu para o menino beber.
O poço estava ali, a salvação estava a seu alcance, mas Hagar pessimista, desesperada, incrédula, não o percebeu. Nos desertos e vales áridos da vida há sempre algum poço cheio de conforto e salvação – Cristo está sempre ao nosso alcance. Quando não, cabe-nos cavar um poço. O conforto e a saída podem custar esforço. Se o poço não está cavado, temos que cavá-lo nós mesmos. E isso requer esforço intenso. No entanto, vale a pena. É melhor do que sentar para chorar e ficar esperando o imprevisível – talvez o fim.
Muito da miséria e da derrota de tantos cristãos resulta de sua inércia. Se quisermos saciar nossa sede de conforto, alegria e paz, e encontrar saída no vale de Bacah, temos que olhar à volta e encontrar os poços que outros já cavaram; ou então cavar nós mesmos nossos poços – na palavra de Deus, na oração, na adoração, no aconselhamento cristão, na comunhão da casa de Deus: a igreja de Jesus Cristo.
O conforto e a saída encontrados por um, servirão a outros. Os poços abertos pelos peregrinos de hoje, serão úteis aos peregrinos de amanhã. Os samaritanos e o próprio Jesus serviram-se da fonte de Jacó (Jo 4.6, 12). No sentido figurado que estamos considerando, os Salmos são fontes de conforto que Davi e outros cavaram quando estiveram no Vale de Bacah – e deles hoje nós bebemos ao lermos os Salmos.
O conhecido livro Mananciais no Deserto contém o testemunho de muitos que beberam dessas fontes tão antigas, e por sua vez cavaram outros poços. Essas são as fontes, e esses são os poços que Deus nos aponta quando não temos forças para cavar e, como Hagar, simplesmente nos assentamos para chorar e esperar o fim. Às vezes é preciso desentulhar os poços entulhados por inimigos, por falsos mestres e por maus conselheiros (Gn 26.15, 18); outras vezes é necessário cavar poços novos (Gn 26.22).
Cavado o poço, espere pela chuva
Nosso texto diz assim, Salmo 84.6:
Quando passarem pelo vale do Choro, ele se transformará num lugar de fontes revigorantes; as primeiras chuvas o cobrirão de bênçãos.
Isso estabelece uma distinção muito importante para todas estas considerações: os poços que cavamos no vale de Bacah ou do Choro geralmente são do tipo reservatório. Nós os cavamos, mas eles só se encherão quando Deus fizer chover. Tais poços não se enchem de baixo para cima, mas de cima para baixo. Nós fazemos nossa parte; Deus faz a dele. Cavar poços, abrir reservatórios, é um meio, não um fim. A bênção não está no meio, no reservatório, mas no Deus dos meios que enche o reservatório com seu conforto, sua paz, sua alegria, sua salvação, seu poder e sua presença. Isaías 12.2-3:
2Vejam, Deus veio me salvar; confiarei nele e não terei medo. O SENHOR Deus é minha força e meu cântico; ele me deu vitória!”. 3Com alegria vocês beberão das fontes da salvação.
Deus e Cristo, pelo Espírito Santo, estão conosco no vale de Bacah. Por isso o vale recende a bálsamo! Há poços cheios no vale. E o vale certamente nos permitirá descobri-los: os poços. Se assim não for, o vale nos ajudará a cavar nossos próprios poços, e prontamente o Senhor os encherá de bênçãos – o desfrute de sua presença.
As pessoas que são bem-aventuradas, abençoadas por Deus, passam por lugares áridos e “fazem dele[s] um lugar de fontes”. Oportuna lição:
Seremos sempre abençoados com a presença de Deus – “E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28.20). Agora, queremos apenas ser abençoados ou nossa presença transforma lugares áridos em lugares de fontes para outras pessoas? Quem visita o Hospedeiro (vai à casa de Deus) deve ser um transformador de ambientes. Você transforma o lugar por onde passa? Abençoa com poços que cava?
Salmo 84.5-8 5Como são felizes os que de ti recebem forças, os que decidem percorrer os teus caminhos. 6Quando passarem pelo vale do Choro, ele se transformará num lugar de fontes revigorantes; as primeiras chuvas o cobrirão de bênçãos. 7Eles continuarão a se fortalecer, e cada um deles se apresentará diante de Deus, em Sião. 8Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, ouve minha oração; escuta, ó Deus de Jacó! Interlúdio
O Salmo 84 nos ensina a respeito da comunhão na casa de Deus (vs. 1-4), da peregrinação até a casa de Deus – que é uma imagem de nossa peregrinação até o céu, nossa morada eterna (vs. 5-8) e da ministração na casa de Deus (vs. 9-12).
Note, em primeiro lugar, a postura de quem vive na casa de Deus:
1. A postura do salmista diante de Deus — ele é piedoso (vs. 9-12)
9Ó Deus, olha com favor para o rei, nosso escudo; mostra bondade ao teu ungido! 10Um só dia em teus pátios é melhor que mil dias em qualquer outro lugar. Prefiro ser porteiro da casa de meu Deus a viver na morada dos perversos. 11Pois o SENHOR Deus é nosso sol e nosso escudo; ele nos dá graça e honra. O SENHOR não negará bem algum àqueles que andam no caminho certo. 12Ó SENHOR dos Exércitos, como são felizes os que confiam em ti!
2. A postura do salmista diante dos irmãos — ele está pronto para servir (v. 10)
Prefiro ser porteiro da casa de meu Deus a viver na morada dos perversos.
3. A postura do salmista na casa do Pai — ele a prioriza (vs. 9-10)
9Ó Deus, olha com favor para o rei, nosso escudo; mostra bondade ao teu ungido! 10Um só dia em teus pátios é melhor que mil dias em qualquer outro lugar. Prefiro ser porteiro da casa de meu Deus a viver na morada dos perversos.
Note, em segundo lugar, as provisões aos que vivem na casa de Deus:
11Pois o SENHOR Deus é nosso sol e nosso escudo; ele nos dá graça e honra. O SENHOR não negará bem algum àqueles que andam no caminho certo. 12Ó SENHOR dos Exércitos, como são felizes os que confiam em ti!
Na casa de Deus, na comunhão dos crentes, nós recebemos provisões indispensáveis para a nossa sobrevivência.
Quando Cris e eu chegamos aos EUA, para cursarmos o mestrado, em janeiro de 1999 – portanto, há 22 anos passados! – era tudo novo [e de certo modo, assustador]. Entramos no apartamento que, generosamente haviam mobiliado e decorado para nós. Tudo muito aconchegante. Na cozinha havia um enfeite pendurado na parede, do qual eu nunca me esqueci. Dizia a assim: “Home is where the heart is” – “Lar é onde está o coração”. Como essas palavras ainda me impactam!
A frase significa que não importa com quem você esteja convivendo ao redor ou onde você esteja no mundo, sua família e seu lar – se lá estiver o seu coração – sempre desfrutará de profunda afeição. Será o lugar onde você terá uma base de amor, cordialidade, afeto, proteção e memórias felizes. E isso não tem como ser mais verdadeiro quando a casa de Deus, a comunhão da igreja, local se torna o seu verdadeiro lar neste mundo.
Onde você guarda seu coração?
Guarde-o em Cristo. Coloque-o na comunhão da igreja de Jesus Cristo.
Marcos 10.28-30 28Então Pedro começou a falar: “Deixamos tudo para segui-lo”. 29Jesus respondeu: “Eu lhes garanto que todos que deixaram casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou propriedades por minha causa e por causa das boas-novas 30receberão em troca, neste mundo, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e propriedades, com perseguição, e, no mundo futuro, terão a vida eterna.
Onde está o seu tesouro está o seu coração:
Se o seu coração estiver na família, na saúde ou em qualquer outra coisa, as chances são de que ele quebrará.
Se o seu coração estiver no pecado ou mesmo nas coisas desta vida, ele endurecerá.
E se você não colocar seu coração em nada nem ninguém, ele se tornará como um boneco de cera, sem vida.
Coloque o seu coração em Cristo e no povo de Deus, a igreja – e você receberá “em troca, neste mundo, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e propriedades, com perseguição, e, no mundo futuro, terão a vida eterna.”
A casa do coração deve ser Cristo e a igreja. Cante com Davi:
Salmos 16.1-3 1Guarda-me, ó Deus, pois em ti me refugio. 2Eu disse ao SENHOR: “Tu és meu Senhor! Tudo que tenho de bom vem de ti”. 3Os que são fiéis aqui na terra são os verdadeiros heróis; tenho prazer na companhia deles.
S.D.G. L.B.Peixoto
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