07.03.2021
[Salmo 86] Oração de Davi. 1Inclina-te, SENHOR, e ouve minha oração; responde-me, pois estou aflito e necessitado. 2Protege-me, pois sou fiel a ti; salva-me, pois sou teu servo e em ti confio. Tu és meu Deus! 3Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois clamo a ti sem parar. 4Alegra-me, Senhor, pois a ti me entrego. 5Ó Senhor, tu és tão bom, tão pronto a perdoar, tão cheio de amor por todos que te buscam. 6Ouve minha oração, SENHOR, e atende a meu clamor. 7Em tempos de aflição, clamarei a ti, e tu me responderás. 8Nenhum dos deuses é semelhante a ti, Senhor, nenhum deles pode fazer o que tu fazes. 9Todas as nações que criaste virão e se prostrarão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome. 10Pois tu és grande e realizas maravilhas; só tu és Deus. 11Ensina-me os teus caminhos, SENHOR, para que eu viva segundo a tua verdade. Concede-me pureza de coração, para que eu honre o teu nome. 12Ó Senhor, meu Deus, de todo o meu coração te louvarei; glorificarei o teu nome para sempre. 13Pois grande é o teu amor por mim; tu me livraste das profundezas da morte. 14Ó Deus, os arrogantes se levantam contra mim, pessoas violentas tentam me matar; não se importam contigo. 15Mas tu, Senhor, és Deus de compaixão e misericórdia, lento para se irar e cheio de amor e fidelidade. 16Olha para cá e tem compaixão de mim! Dá tua força a teu servo; sim, salva teu humilde servo. 17Mostra-me um sinal do teu favor; então serão envergonhados os que me odeiam, pois tu, SENHOR, me ajudas e me consolas.
Até a ciência reconhece o poder das orações — foi a manchete de uma matéria do site de notícias EXTRA na internet (em 2010). — De fato, o que não faltam são matérias com esse teor; vira e mexe algum meio de comunicação traz reportagem dizendo algo mais ou menos do tipo: “O poder da fé para ajudar a curar é reconhecido até pelos cientistas.”
Por exemplo: o Dr. Harold G. Koenig, psiquiatra da faculdade de medicina da Universidade de Duke, tido nos EUA como o maior especialista no assunto religião, espiritualidade e saúde, comprova que “a oração ajuda a recuperar pacientes em estado grave, muitos até já desenganados pelos médicos”. O Dr. Koenig afirmou que “a crença religiosa é um poderoso comportamento que possibilita às pessoas terem esperança e motivação quando adoecem. Isso libera em seus corpos mecanismos de cura naturais.”
Mas há um problema com esta afirmação. Você percebeu?
A ciência – que só trabalha com dados empírico, tangíveis, manipuláveis e palpáveis – coloca todo o poder da oração no indivíduo mesmo, afinal, ouça mais uma vez a afirmação do psiquiatra da Duke: “a crença religiosa é um poderoso comportamento que possibilita às pessoas terem esperança e motivação quando adoecem. Isso libera em seus corpos mecanismos de cura naturais.” Ou seja, a fé, seja lá no que for, libera no corpo mecanismos de cura natural. Nada de Deus, milagre ou transcendência. Tudo se resume ao poder da mente que libera mecanismos no próprio corpo.
Quer ver outra coisa?
Cientistas da Universidade de Washington estudaram 309 pacientes à espera de cirurgia cardiovascular e concluíram: os que professavam alguma fé estavam menos ansiosos com a cirurgia — e, provavelmente por isso [por estarem menos ansiosos], o índice de sucesso da operação entre eles tenha sido maior. O Dr. Amy Ai, coordenador da pesquisa, afirmou – em nome da “ciência”, lembre-se bem! – que “os que acreditam em qualquer coisa vêem o futuro com muito mais otimismo. Eles têm a esperança de ver sua saúde melhorar, e, por isso, seu estado psicológico é melhor.”
Tem mais:
Um estudo da Universidade de Pittsburgh concluiu que – ATENÇÃO: É A “CIÊNCIA” QUE ESTÁ DIZENDO! – frequentar cerimônia religiosa semanalmente poderia adicionar de 1,8 a 3,1 anos à expectativa de vida de uma pessoa. Um mês depois, pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Mississippi, também nos EUA, afirmaram que participar de atividades religiosas pode proteger as pessoas do estresse e evitar os efeitos destrutivos da hipertensão.
E ainda:
Pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Mississippi também afirmaram que participar de atividades religiosas [cultos] pode proteger as pessoas do estresse e evitar os efeitos destrutivos da hipertensão. Sharon Wyatt, uma das autoras do trabalho acadêmico, assegurou que “a integração da religião e da espiritualidade, ou seja, freqüentar a igreja e rezar, pode proteger indivíduos do estresse e evitar os efeitos destrutivos da hipertensão.” Bem, neste momento de pandemia, é impressionante que esse tipo de “ciência” perde o valor. Mas isto é outro assunto bem mais complexo.
Nosso tema aqui é o poder da oração, o poder do culto coletivo – o poder da oração tanto no quarto secreto como na congregação do povo de Deus reunido para adorar. Poder este não porque simplesmente “acreditar em qualquer coisa faz a gente ver o futuro com muito mais otimismo” ou “acreditar em qualquer coisa faz a gente ter a esperança de ver a saúde melhorar” ou “acreditar em qualquer coisa faz a gente cultivar um estado psicológico melhor”; poder este não porque simplesmente “participar de atividades religiosas [entenda-se cultos] pode proteger as pessoas do estresse”; poder este não porque simplesmente “quando a gente ora a gente tem esperança e motivação para enfrentar a doença, liberando em nosso corpo mecanismos de cura naturais.”
Veja bem: não estamos negando todas essas reações no corpo e na mente quando a gente ora – essas coisas de fato acontecem; estamos combatendo o reducionismo científico que limita tudo às lâminas de microscópios; limita tudo às imagens de um super aparelho de ressonância ou de gráficos impressos em papeis; limita tudo às reações físico-químicas e ou psico-motoras do “paciente”; limita tudo aos resultados de pesquisas por amostragens; estamos combatendo a noção de que basta-se crer em alguma coisa ou qualquer coisa.
O ser humano precisa orar, foi criado para orar. O ser humano precisa congregar, foi criado para viver em comunidade e se reunir em assembleia diante de seu Deus. Há poder na oração. Há poder na reunião do povo no culto público prestado a Deus. E esse poder não está meramente em nossos mecanismos sociais, físicos, mentais ou fisiológicos; esse poder não está na crença em qualquer crença, na fé em qualquer fé, na fé em qualquer coisa. O poder da oração e do culto público em está em Deus mesmo:
Salmos 73.26 Minha saúde pode acabar e meu espírito fraquejar, mas Deus continua sendo a força de meu coração; ele é minha possessão para sempre.
1Coríntios 14.24-25 24Mas, se todos vocês estiverem profetizando e descrentes ou pessoas que não entendem essas coisas entrarem na reunião, serão convencidos do pecado e julgados por aquilo que vocês disserem. 25Ao ouvirem, os pensamentos secretos deles serão revelados, e eles cairão de joelhos e adorarão a Deus, declarando: “De fato, Deus está aqui no meio de vocês”.
O poder da oração e do culto público na vida das pessoas está em Deus.
E você? E se você quiser falar com Deus? E se você quiser orar?
O que se precisa saber para orar? Como orar?
Isto nos traz ao Salmo 86, uma Oração de Davi.
A estrutura do Salmo 86
Há nos Salmos diversos salmos de oração ou lamento coletivo, mas o Salmo 86 é um lamento individual – uma oração em forma de lamento, embora com algumas variações (preste atenção à sua estrutura): os versículos 1-7 compõem o lamento em si; e os versículos 8-10 registram um louvor hínico, aparentemente servindo como expressão de fé do salmista; então, após um pedido para que seja ensinado no caminho de Deus no versículo 11, os versículos 12-13 compõem um louvor pactual; e os versículos 14-17 reafirmam o lamento inicial com maior clareza e destacam a confiança de Davi em Deus.
A dinâmica da espiritualidade dos Salmos
Já é curioso o bastante o fato de que este seja o único salmo atribuído a Davi no Livro III do Saltério, no qual prevalece os salmos de Asafe e os dos filhos de Corá. Inda mais interessante é que o Salmo 86 (um salmo de lamento, uma oração individual), tenha sido inserido entre o Salmo 85 (um salmo de clamor nacional) e o Salmo 87 (um salmo de louvor nacional e que contrasta Jerusalém com as nações ao redor). Portanto, o que estaria fazendo um salmo individual, de Davi (Sl 86), entre os salmos dos filhos de Corá, sendo que um é nacional (Sl 85) e o outro internacional (Sl 87)?
A sugestão mais satisfatória parece ser a que diz que a comunidade e as nações que se sustentam diante de Deus são compostas por indivíduos que se sustentam, individualmente, orando a Deus. Outra coisa: homens e mulheres de Deus oram coletiva e individualmente, no quarto e na igreja, por eles mesmos e pelas nações. Esta é a dinâmica da espiritualidade dos Salmos: do individual para o coletivo, e do coletivo para o individual.
Uma lição sobre oração
A tese por trás da “Oração de Davi” no Salmo 86 é a seguinte: Porque Deus é bom e gracioso, e porque ele é incomparavelmente capaz de fazer coisas maravilhosas, Davi – apesar de assustado e abatido – ora pedindo libertação das garras dos arrogantes e instrução para saber como lidar com eles, além de pedir um sinal do favor de Deus ao humilhá-los, e por usa vez, alegrá-lo e consolá-lo.
Essa “Oração de Davi” no Salmo 86 – ao lado de apenas outros quatro salmos de oração individual no Saltério (Salmos 17, 90, 102 e 142) – ensina a você e a mim sobre como orar, como falar com Deus. Então, se eu quiser falar com Deus, se eu quiser orar, eu precisarei saber sobre [1] a forma de falar com Deus (vs. 1-4), [2] a fé de quem fala com Deus (vs. 5-10) e [3] o simples falar com Deus (vs. 11-17).
Note: Davi não fala sobre o problema que o impulsionou a orar até o versículo 14. Você percebeu isso na leitura do texto? E qual era o problema? Versículo 14: “Ó Deus, os arrogantes se levantam contra mim, pessoas violentas tentam me matar; não se importam contigo.” Percebeu? Davi, neste salmo, [1] começa com Deus, a forma de se falar com Deus; [2] passa ao seu relacionamento com Deus, à fé de quem fala com Deus; e, por último, [3] o problema que o levou a orar a Deus, o simples falar com Deus.
É notável, não é?
Normalmente, quando estamos sob a intensa pressão dos problemas, a primeira coisa que fazemos é expressar a Deus o problema que estamos enfrentando – isto quando nós oramos, pois tantas vezes nós nem oramos, não conseguimos orar, não sabemos como orar. Em contraste, como é bendito o testemunho de Davi neste salmo! Em 17 versículos de oração nós só tomamos conhecimento de seu problema no finalzinho, a quatro versículos do final, lá no versículo 14.
Bem, não é que Davi não pede, não suplique ou lamente desde o início. Ele faz isso, mas de um modo a destacar o caráter de Deus e o seu relacionamento com Deus, para então descrever seu problema e fazer seu pedido específico. Há uma grande lição nesta forma de orar: no processo de falar com Deus, a pessoa que está orando está em tudo instruindo seu coração, lembrando a si mesma de quem é o Deus a quem ela ora, e, portanto, recordando-se de como ela deve falar com Deus e de como deve ser o seu relacionamento com Deus. Vejamos. Caminhemos pelo salmo prestando atenção na forma de falar com Deus, na fé de quem fala com Deus e no simples falar com Deus. No final, vejamos o que se pode aprender de Deus, de quem orar e da prática da oração.
Sabemos pelo versículo 14 que o problema de Davi era enorme – isto se vê pelo caráter e pela conduta dos que se levantavam contra ele: “Ó Deus, os arrogantes se levantam contra mim, pessoas violentas tentam me matar”. No versículo 17 ele ainda diz: “[eles] me odeiam”. Não era sem motivo, portanto, que o salmista se sentia desconsolado (v. 17), fraco (v. 16), com o coração dividido ou titubeando (v. 11), aflito (v. 7), triste (v. 4), desesperado (v. 3), desprotegido (v. 2) e necessitado (v. 1).
Já se viu assim, no meio de um problema desta magnitude, com tantos sentimentos ao mesmo tempo? Esta era a situação de Davi, do rei Davi.
De que forma ele ora? Qual é o jeito de ele fala com Deus?
Salmo 86.1-4 1Inclina-te, SENHOR, e ouve minha oração; responde-me, pois estou aflito e necessitado. 2Protege-me, pois sou fiel a ti; salva-me, pois sou teu servo e em ti confio. Tu és meu Deus! 3Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois clamo a ti sem parar. 4Alegra-me, Senhor, pois a ti me entrego.
Davi começa este salmo da forma como sempre devemos nos aproximar de Deus: com humildade, como pecadores que precisam da graça – sem qualquer pretensão de justiça própria, direito garantido ou coisa parecida. Jesus enfatizou isto em sua parábola do fariseu e do cobrador de impostos:
Lucas 18.9-14 9Em seguida, Jesus contou a seguinte parábola àqueles que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os demais: 10“Dois homens foram ao templo orar. Um deles era fariseu, e o outro, cobrador de impostos. 11O fariseu, em pé, fazia esta oração: ‘Eu te agradeço, Deus, porque não sou como as demais pessoas: desonestas, pecadoras, adúlteras. E, com certeza, não sou como aquele cobrador de impostos. 12Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo que ganho’. 13“Mas o cobrador de impostos ficou a distância e não tinha coragem nem de levantar os olhos para o céu enquanto orava. Em vez disso, batia no peito e dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, pois sou pecador’. 14Eu lhes digo que foi o cobrador de impostos, e não o fariseu, quem voltou para casa justificado diante de Deus. Pois aqueles que se exaltam serão humilhados, e aqueles que se humilham serão exaltados”.
Humilde
Sejamos honestos: é natural para nós crermos ser apropriado que um cobrador de impostos perverso, corrupto se achegue desse modo humilde diante de Deus, mas o Salmo 86 é da pena de Davi, o homem segundo o coração de Deus! Logo, seria mesmo necessário que esse “monstro sagrado” se expressasse desse modo tão humilde? Ora, ele era o rei que até hoje tem sua estrela cravada na bandeira de Israel! Mesmo assim o modo humilde como ele se aproxima de Deus é quase chocante, versículo 1: “Inclina-te, SENHOR, e ouve minha oração; responde-me, pois estou aflito e necessitado.” Como assim! Um rei, o rei Davi necessitado? Pobre? Exatamente! Sobretudo quando consideramos a grandeza de Deus em sua auto suficiência completa.
Somos sim, TODOS, sempre pobres, aflitos e necessitados. Portanto, devemos, TODOS, sempre nos aproximar de Deus na forma ou no espírito humilde que Davi demonstra neste salmo. Afinal, como bem colocou o rei, para nos ouvir e vir ao nosso socorro, Deus precisa se “inclinar” (v. 1). Mas aos humildes ele sempre ouve:
Isaías 57.15 O Alto e Sublime, que vive na eternidade, o Santo diz: “Habito nos lugares altos e santos, e também com os de espírito oprimido e humilde. Dou novo ânimo aos abatidos e coragem aos de coração arrependido.
Com fé no Deus da aliança
O versículo 2 do nosso salmo (86), no entanto, parece contradizer a humildade do homem segundo o coração de Deus. Ouça: “Protege-me, pois sou fiel a ti; salva-me, pois sou teu servo e em ti confio. Tu és meu Deus!” Pergunta: Davi pode aplicar esses termos a si mesmo – fiel, servo – sem ser culpado de orgulho? A resposta é sim, já que Davi está simplesmente se classificando como um “servo” sincero do SENHOR, que está comprometido com sua causa ou aliança. É óbvio que Davi não está confiando em sua própria piedade ou justiça, visto que ele diz: “em ti confio. Tu és meu Deus!”. Se fosse hoje, Davi oraria assim: “Em Cristo confio. Tu és meu Deus. Em nome de Jesus, amém!”.
Buscando graça e misericórdia
A forma de Davi falar com Deus – humilde (v. 1) e cheia de fé no Deus da aliança (v. 2) – é complementada pelo reconhecimento da necessidade que ele tinha de graça, versículo 3: “Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois clamo a ti sem parar.” Nós nos aproximamos de Deus cônscios da necessidade de graça, olhando para a cruz de Cristo onde nossos pecados foram perdoados. Como Davi, que relatou que clamou “sem parar”, pedindo por misericórdia, os cristãos devem colocar constantemente sua confiança na graça disponibilizada a nós, como pecadores, por meio do sangue de Jesus.
Elevando a alma a Deus
O versículo 4 adiciona algo mais na forma de falamos com Deus: “Alegra-me, Senhor, pois a ti me entrego.” Davi se achega com [1] humildade, [2] cheio de fé no Deus da aliança e [3] cônscio de sua necessidade de graça e misericórdia, mas não o faz de um modo mecânico, apenas pronunciando as palavras de uma oração, ele [4] realmente eleva sua alma a Deus, buscando ser ouvido e socorrido (v. 1); buscando ser protegido e salvo (v. 2); buscando ser acolhido (v. 3); mas, sobretudo, buscando se alegrar em Deus. Ouça, mais uma vez o nosso texto:
Salmo 86.1-4 1Inclina-te, SENHOR, e ouve minha oração; responde-me, pois estou aflito e necessitado. 2Protege-me, pois sou fiel a ti; salva-me, pois sou teu servo e em ti confio. Tu és meu Deus! 3Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois clamo a ti sem parar. 4Alegra-me, Senhor, pois a ti me entrego.
Essa é a forma de orar. Esse é o jeito de falar com Deus: humildemente, com fé no Deus da aliança no sangue de Cristo, buscando misericórdia e elevando a alma a Deus.
Nos versículo 1-4 Davi ora a Deus com apelos baseados em sua própria forma de pedir em face da condição na qual ele se encontrava. Como vimos, ele quer ouvidos, proteção, salvação, acolhida, sobretudo alegria em Deus. A segunda estrofe do salmo traz os apelos de Davi baseados em tudo o que Davi cria a respeito de Deus:
Salmo 86.5-10 5Ó Senhor, tu és tão bom, tão pronto a perdoar, tão cheio de amor por todos que te buscam. 6Ouve minha oração, SENHOR, e atende a meu clamor. 7Em tempos de aflição, clamarei a ti, e tu me responderás. 8Nenhum dos deuses é semelhante a ti, Senhor, nenhum deles pode fazer o que tu fazes. 9Todas as nações que criaste virão e se prostrarão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome. 10Pois tu és grande e realizas maravilhas; só tu és Deus.
Esse trecho traz o conteúdo da fé de Davi. Diferentemente de muitos hoje em dia, a fé do homem segundo o coração de Deus não era fé na fé, fé em qualquer coisa, fé em si mesmo, no seu potencial; Davi não achava nada, ele tinha certeza; como Paulo, ele sabia em quem ele cria e estava certo de que ele, Deus, é poderoso (2Tm 1.12).
Os versículos 5, 7 e 10 estão preenchidos pelo que o pronome “tu” revela sobre Deus, você percebeu? Veja:
5Ó Senhor, tu és tão bom, tão pronto a perdoar, tão cheio de amor […]
7[…] tu me responderás.
10[…] tu és grande e realizas maravilhas; só tu és Deus.
Em outras palavras: Deus é bom, perdoador e amoroso (v. 5), ele ouve e responde as orações de seu povo (v. 7), e é incomparavelmente grande e poderoso para realizar maravilhas – afinal, só ele é Deus, hebraico: אלהימּ ’elohiym –, ele é o Criador (v. 10). Dessa forma, tendo se apresentado humildemente e de todo o coração diante de Deus (vs. 1-4), Davi agora revela o conteúdo de sua fé em Deus: é Deus mesmo (vs. 5-10).
Mas quem é Deus para Davi?
Para Davi, Deus é o Criador, Sustentador, Governador, Aquele que existe – EU SOU, o único Deus verdadeiro, o Grande Soberano, o seu Deus. É assim que ele trata a Deus. É o seu dono, tem autoridade sobre a vida dele, posto que o criou, salvou e o sustenta.
Chamamos a Deus de “Senhor”, mas podemos dizer que ele é nosso dono? Ele é o seu dono, o seu soberano, como é de Davi? Deus é sim bom, perdoador e cheio de amor (v. 5); ele tem ouvidos atentos para ouvir nossos clamores (v. 6); em tempos de aflição, se o clamarmos, ele nos ouvirá (v. 7); não há deus como Ele, que faz tudo o que Ele faz (v. 8); ele é grande e realizador de milagres (v. 10). Mas ele é nosso dono, seu dono, seu Soberano? Ele é seu אדני (’Adonay), seu Senhor pessoal?
Olhe, todas as nações que ele criou um dia virão e se prostrarão diante dele, o Senhor, אדני (’Adonay), e glorificarão o nome dele (v. 10). Paulo escreveu em Filipenses 2.9-11 que “Deus o elevou [elevou a Jesus Cristo] ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai.” Jesus é seu Senhor?
Esse Senhor e Salvador Jesus Cristo é o único capaz de verdadeiramente libertar, salvar você da morte. Versículo 13: “Pois grande é o teu amor por mim; tu me livraste das profundezas da morte [שׂאול – she’ôl – o mundo escuro da morte, o inferno].”
A maior de todas as maravilhas (v. 10), o caminho para se andar (v. 11) e o livramento da morte convergem todos na mesma pessoa: na vida e na obra de Jesus Cristo. Geralmente, queremos solução dos problemas. Mas não queremos salvação, tampouco que nos mostrem o caminho pelo qual andar. Em Cristo, o Soberano Salvador, nós temos tudo disso: salvação, libertação, caminho e vida, vida eterna.
Remédios ajudam, mas não libertam. Terapeutas ajudam, mas não libertam. Só Jesus Cristo pode libertar e salvar – isto quando o recebemos como Salvador e Senhor, quando o temos como o dono de nossa vida. Essa era a fé de Davi ao falar com Deus:
Salmo 86.5-10 5Ó Senhor, tu és tão bom, tão pronto a perdoar, tão cheio de amor por todos que te buscam. 6Ouve minha oração, SENHOR, e atende a meu clamor. 7Em tempos de aflição, clamarei a ti, e tu me responderás. 8Nenhum dos deuses é semelhante a ti, Senhor, nenhum deles pode fazer o que tu fazes. 9Todas as nações que criaste virão e se prostrarão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome. 10Pois tu és grande e realizas maravilhas; só tu és Deus.
Se eu quiser falar com Deus, se eu quiser orar, eu precisarei saber sobre [1] a forma de falar com Deus (vs. 1-4), [2] a fé de quem fala com Deus (vs. 5-10) e [3] o simples falar com Deus (vs. 11-17). Davi, sabendo a forma certa de falar com Deus e tendo a fé necessária para falar com Deus, põe-se a falar propriamente com Deus. E o que ele fala?
Salmo 86.11-17 11Ensina-me os teus caminhos, SENHOR, para que eu viva segundo a tua verdade. Concede-me pureza de coração, para que eu honre o teu nome. 12Ó Senhor, meu Deus, de todo o meu coração te louvarei; glorificarei o teu nome para sempre. 13Pois grande é o teu amor por mim; tu me livraste das profundezas da morte. 14Ó Deus, os arrogantes se levantam contra mim, pessoas violentas tentam me matar; não se importam contigo. 15Mas tu, Senhor, és Deus de compaixão e misericórdia, lento para se irar e cheio de amor e fidelidade. 16Olha para cá e tem compaixão de mim! Dá tua força a teu servo; sim, salva teu humilde servo. 17Mostra-me um sinal do teu favor; então serão envergonhados os que me odeiam, pois tu, SENHOR, me ajudas e me consolas.
Davi quer ser ensinado por Deus; e quer coração puro, livramento, compaixão, força, salvação e um sinal do favor de Deus. NOTE NESSES PEDIDOS algo muito, muito importante: o que Davi mais quer não é a cura psicológica, o alívio da alma, o refrigério do espírito ou simplesmente se ver livre de seu problema imediato: os arrogantes que contra ele se levantavam. Sim, Davi quer socorro, ajuda, força, alívio e consolo de seus problemas. Está tudo dito aí nos versículos que lemos (vs. 14-17). Mas Davi quer uma coisa acima de todas as outras: um coração puro, temente, alegre e ensinado por Deus:
Salmo 86.1-4 e 11-13 1Inclina-te, SENHOR, e ouve minha oração; responde-me, pois estou aflito e necessitado. 2Protege-me, pois sou fiel a ti; salva-me, pois sou teu servo e em ti confio. Tu és meu Deus! 3Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois clamo a ti sem parar. 4Alegra-me, Senhor, pois a ti me entrego. […] 11Ensina-me os teus caminhos, SENHOR, para que eu viva segundo a tua verdade. Concede-me pureza de coração, para que eu honre o teu nome. 12Ó Senhor, meu Deus, de todo o meu coração te louvarei; glorificarei o teu nome para sempre. 13Pois grande é o teu amor por mim; tu me livraste das profundezas da morte.
Toda essa aflição, sofrimento e maldade dos homens serviram para uma coisa na vida de Davi: fazê-lo orar, fazê-lo simplesmente falar com Deus, desmamar-se do mundo e falar com Deus, alegrar-se em Deus. Esse é o propósito de se falar com Deus. Este salmo de Davi nos ensina a orar com humildade, fé, expectativa e crendo na ação de Deus, “Ainda assim,” escreveu Richard D. Phillips,
a maior lição que aprendemos de Davi neste salmo, e a maior lição que ganhei orando [e ouvindo] crentes piedosos [orando ao longo de minha experiência de vida cristã], é a consciência de que a oração é um encontro de aliança do povo de Deus com seu gracioso e glorioso Redentor. Se nada mais acontecer na oração e se nada mais resultar da oração, algo da maior importância ocorreu quando simplesmente colocamos nosso coração adorador diante do Senhor para contemplar sua glória. Lemos sobre a verdadeira e a grande questão da oração na declaração do próprio Davi no Salmo 86.15: “Mas tu, Senhor, és Deus de compaixão e misericórdia, lento para se irar e cheio de amor e fidelidade.”
Phillips prossegue:
Se parece que já ouvimos essas palavras antes [v. 15], essa foi a resposta de Deus a Moisés [Êx 33.19] quando o grande líder de Israel fez seu maior pedido de todos: “Peço-te que me mostres a tua glória” (Êx 33.18, NVI). Este é o ponto principal da oração e o grande desejo que deve estar em nosso coração [ao falarmos com Deus]: comungar na fé com o Deus da graça e tomar consciência de sua glória. Deus respondeu à oração de Moisés colocando-o numa fenda da rocha e o cobriu com sua mão até que ele tivesse acabado de passar. Então tirou a mão de Moisés, que pôde ouvir o próprio SENHOR falar: “SENHOR, SENHOR, Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade” (Êx 34.6, NVI).
O simples falar com Deus tem um único e mais excelente propósito. Mais uma vez, permitam-me citar o que Richard D. Phillips escreveu no seu comentário do Salmo 86:
Em todos os ambientes e necessidades, em face do mundo e de suas falsas glórias e tentações, nossa maior necessidade é conhecer o Senhor. Nós o conhecemos por meio de sua Palavra, e esse conhecimento dá substância às nossas orações. Mas Deus deseja que o conheçamos em nosso coração. E quando buscamos sua face em oração, Deus faz com que os assuntos da terra se tornem insignificantes e o conhecimento de sua glória, como um “Deus de compaixão e misericórdia, lento para se irar e cheio de amor e fidelidade” (Sl 86.15), é suficiente para atender a todas as nossas necessidades.
Se eu quiser orar, precisarei saber quem é Deus, quem sou eu e como eu devo orar. Tudo isso nós temos aqui no Salmo 86: Deus é o Criador, Sustentador e Soberano sobre tudo e sobre todos; ele é o Salvador de seu povo e está pronto para se revelar em glória, cheio de graça e verdade. Basta que o busquemos em oração.
Se quiser falar com Deus, você sabe com como orar? Aprenda com o Salmo 86.
Gilberto Gil compôs uma música sobre oração – Se eu quiser falar com Deus – que nem Roberto Carlos quis cantar (1980). Apenas Elis Regina e o próprio Gilberto Gil gravaram a canção de teor agnóstico (nas palavras do próprio Gil) – isto .e: Deus é inacessível e incognoscível. O rei Roberto recusou gravar a música composta por Gil por se sentir “pouco à vontade com alguns versos da letra”. Também pudera, ouça os versos finais da composição:
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar, vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar.
Será mesmo, Gilberto Gil? Já provou e viu, Sr. Gilberto Gil?
Carlos Sider, habilidoso compositor e cantor cristão evangélico, rebateu a esta letra agnóstica do compositor e cantor de MPB e compôs e cantou o que chamou de Resposta a Gil. É maravilhosa tanto a poesia como a melodia da canção de Sider. Ouça:
Se eu quiser falar a um simples Deus qualquer
Desses que a mente sempre vai criar
Desses que aos milhares vem se ofertar
Sujo espelho de quem quis ser, mas não será
Nobre amigo, tenho então de concordar
Com tuas notas, teus acordes
O teu triste cantar
Dura estrada, trilha errada
Longa saga de alta paga
Que ao fim dá mesmo em nada, nada, nada, nada
Nada, nada
Mas se eu for falar com nada mais que Deus
Não preciso nem sequer me concentrar
Nem de longe tenho que me flagelar –
Sua voz me fala antes que eu venha falar
Nobre amigo, nem sequer o procurei
Fui achado, resgatado, me bastou que escutei
E Ele é a vida desejada
Mais que achada, ofertada
Ele é tudo, tudo em mim, é tudo
Ele é tudo, tudo em mim, é tudo
Muitas vezes já falei com Deus.
E você, já falou com Deus?
Abra os Salmos. Leia. E ore a Deus, em nome de Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto