08.05.2022
[Salmo 98] 1Cantem ao SENHOR um cântico novo, pois ele fez maravilhas; sua mão direita e seu braço santo conquistaram a vitória! 2O SENHOR anunciou seu poder de salvar e revelou sua justiça às nações. 3Lembrou-se de seu amor e fidelidade a Israel; os confins da terra viram a vitória de nosso Deus. 4Aclamem ao SENHOR todos os habitantes da terra; louvem-no em alta voz com alegres cânticos! 5Cantem louvores ao SENHOR com a harpa, com a harpa e com cânticos harmoniosos, 6com trombetas e ao som de cornetas; exultem e cantem diante do SENHOR, o Rei! 7Deem gritos de louvor o mar e tudo que nele há, e também a terra e todos os seres vivos. 8Os rios batam palmas, e os montes cantem de alegria 9diante do SENHOR, pois ele vem julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e as nações, com imparcialidade.
Foi aqui mesmo nesta igreja – ainda ano início da década de 1990 (século passado!) que ouvi um pedaço da história de um dos mais distintos missionários de nossa junta de Missões Nacionais. Pr. Gunther Carlos Krieger, ao lado de sua esposa, irmã Wanda, com mais de 60 anos de campo missionário são uma inspiração para os batistas brasileiros. Ouvindo-o aqui, lá em 1993/4, foi que tive confirmada, da parte de Deus, a minha vocação para o ministério pastoral – que, aliás, no início, eu pensava seria entre índios.
Pr. Gunther e irmã Wanda estão como missionários entre os índios Xerentes desde 1958; Deus permitindo, este ano, em 1º de outubro, completarão 63 anos de ministério lá na região de Tocantínia, Tocantins. Para você ter uma ideia, esse missionário batista foi o fundador da primeira escola entre o povo Xerente. Depois, com sua equipe, criou a escrita Xerente. É autor de várias obras literárias nessa língua. Porém, seu mais relevante trabalho escrito foi o Novo Testamento traduzido para o Xerente, lançado em 2009. Essa tradução foi concluída após mais de trinta anos de dedicação, contando com uma equipe de cerca de 18 indígenas da tribo. Após o término da tradução do Novo Testamento, o pastor Gunther Carlos Krieger começou a trabalhar na tradução do Antigo Testamento. Esse trabalho ainda está em andamento.
O que mais me marcou daquilo que o ouvi contar há 28/29 anos nesta igreja foi a história de uma de suas viagens lá da tribo para uma cidade próxima. Fazia já 30 anos que ele estava servindo entre os Xerentes. Quando lá chegou, era comum de se ouvirem os gemidos e os gritos e os choros e as batidas de tambor, isso quando não se espantavam com as brigas e gritarias entre os indígenas nas ocas e pelos terreiros da aldeia. Entretanto, naquela noite, contando já três décadas de trabalho árduo com o evangelho, enquanto se afastava da margem do rio na canoa, estava tudo tranquilo na aldeia, era um silêncio pacificador, percebia-se apenas o som da noite, exceto que se ouvia, a uma só voz, um pequeno coro distante cantando, na língua Xerente, a estrofe de um hino do Cantor Cristão. Não vou cantar em Xerente para não constranger vocês, mas eis o que se ouvia quebrando o silêncio daquela noite estrelada no céu do (Tocantins em Xerente!) —
Seja bendito o Cordeiro
Que na cruz por nós padeceu!
Seja bendito o seu sangue
Que por nós pecadores verteu!
Eis nesse sangue lavados,
Com roupas que tão alvas são,
Os pecadores remidos,
Que perante seu Deus hoje estão!
— CC 123, Bendito Cordeiro.
Quanta diferença! — As brigas e os ataques de fúria, os gritos de desespero, os choros de tristeza e as batidas de agonia deram à luz aclamações de louvor, brados de alegria e cânticos de hinos de adoração ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! — A fé cristã é uma fé cantante. Os cristãos são um povo cantante. Eis o que disse o profeta Isaías sobre o ministério do Messias prometido, sobre Jesus Cristo, o Salvador:
Isaías 61.2-3 2Ele [o SENHOR] me enviou para dizer aos que choram que é chegado o tempo do favor do SENHOR e o dia da ira de Deus contra seus inimigos. 3A todos que choram em Sião ele dará uma bela coroa em vez de cinzas, uma alegre bênção em vez de lamento, louvores festivos em vez de desespero. Em sua justiça, serão como grandes carvalhos que o SENHOR plantou para sua glória.
Os salvos em Jesus Cristo se tornam um povo cantante. A nossa é uma fé cantante. Cantamos porque fomos salvos da ira de Deus; tivemos trocados o choro e as cinzas pela coroa de alegria; o lamento foi substituído pela alegre bênção; e o desespero e a angústia foram trocados por louvores festivos. Em sua justiça, o Senhor Jesus nos plantou como grandes carvalhos para sua glória. A fé cristã é cantante!
Não é que não se sofra mais, quando se torna cristão – até porque, conhecemos o que Salomão escreveu em Eclesiastes 3.1-2, 4 — “Há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; […] Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de se entristecer, e tempo de dançar.” Portanto, quando se torna cristão, a gente aprende a degustar a vida temperada com as especiarias da alegrias e da tristeza, da saúde e da doença, da riqueza e da pobreza, do rizo e do pranto, da vida e da morte… sem que, pelo Espírito, percamos a esperança que alegra; foi por isso que Paulo, o apóstolo, escreveu em 2Coríntios 6.10 (NVI) que nós “[vivemos] entristecidos, mas sempre alegres”.
A fé cristã é cantante.
O salmo em tela hoje à noite – Salmo 98 – é parte do grupo dos salmos reais ou salmos que apresentam o SENHOR como Rei. Portanto, do Salmo 92 ao 99 (excessão, talvez, do 94), Deus é descrito e aclamado como Rei – Rei de Israel, seu povo; Rei de todos os povos; Rei da criação e de toda a terra. Esses salmos também são salmos de adoração.
Pois bem, o Salmo 98 é mais um que nos ensina sobre adoração, apontando-nos em particular para a vinda de Jesus. O Salmo 98 é aquele no qual se baseia o famoso hino de Isaac Watts, escrito em 1719, mas que amamos cantar ainda hoje (400 anos depois) no Natal: “Cantai Que o Salvador Chegou!” POR FAVOR, SAIBAM: ESTE NÃO É APENAS UM HINO DE NATAL; ele é um hino de Natal (estrofes 1 e 2), é um hino de Páscoa (estrofe 3) e é também um hino de Advento, pois além de ter cantar a respeito do PRIMEIRO ADVENTO ou a primeira vinda de Cristo (Natal e Páscoa nas estrofes de 1 a 3), ele canta também a respeito do SEGUNDO ADVENTO ou a segunda vinda de Cristo (na estrofe 4). As quatro estrofes do hino são, com efeito, uma paráfrase do Salmo 98 todo; claro, com seu cumprimento na primeira vinda, obra e segunda vinda de Cristo.
ESTE SALMO SE DIVIDE EM TRÊS PARTES; cada qual iniciando com um imperativo de louvor. A primeira parte começa no versículo 1 — “Cantem ao SENHOR”. A segunda parte começa no versículo 4 — “Aclamem ao SENHOR”. E a terceira parte começa no versículo 7 — “Deem gritos de louvor”.
Cantem ao Deus Salvador
OS VERSÍCULOS 1-3 nos convocam a cantar “um cântico novo” ao Senhor. Isso não significa necessariamente cantar uma melodia nova ou cantar uma nova criação musical para o SENHOR, embora isso seja uma coisa perfeitamente boa a se fazer. Antes, este é um chamado para se louvar a Deus por suas obras especiais de salvação. Tanto que, em seu estudo deste salmo, John Stott deu a esta primeira parte do salmo o seguinte título “Deus o Salvador”. Com efeito, estes versículos fornecem seis razões pelas quais devemos cantar este novo cântico ao SENHOR. Ouça-as:
Salmo 98.1-3 1Cantem ao SENHOR um cântico novo, pois ele [1.] fez maravilhas; sua mão direita e seu braço santo [2.] conquistaram a vitória! 2O SENHOR [3.] anunciou seu poder de salvar e [4.] revelou sua justiça às nações. [5.] 3Lembrou-se de seu amor e fidelidade a Israel; os confins da terra [6.] viram a vitória de nosso Deus.
Essencialmente, o povo de Deus é instado a cantar a salvação, a redenção, a libertação do SENHOR. Então, quando você olha para o Novo Testamento, você descobre que, em Cristo, nós somos salvos/libertos de CINCO COISAS em particular.
Esse Deus Salvador – o qual nos salva de sua própria ira, salva-nos do pecado, da morte, do diabo e de nós mesmos – esse Deus Salvador nos insta a cantar:
Salmo 98.1-3 1Cantem ao SENHOR um cântico novo, pois ele [1.] fez maravilhas; sua mão direita e seu braço santo [2.] conquistaram a vitória! 2O SENHOR [3.] anunciou seu poder de salvar e [4.] revelou sua justiça às nações. [5.] 3Lembrou-se de seu amor e fidelidade a Israel; os confins da terra [6.] viram a vitória de nosso Deus.
Aclamem ao Deus Rei
OS VERSÍCULOS 4-6 são um chamado a toda a terra para se unir aos louvores do povo de Deus. É um chamado universal de louvor. Afinal, Deus é Rei. Portanto,
Salmo 98.4-6 4Aclamem ao SENHOR todos os habitantes da terra; louvem-no em alta voz com alegres cânticos! 5Cantem louvores ao SENHOR com a harpa, com a harpa e com cânticos harmoniosos, 6com trombetas e ao som de cornetas; exultem e cantem diante do SENHOR, o Rei!
NOTE: Implícito a esse chamado estão três coisas fundamentais para a vida dos habitantes da terra. PRIMEIRO, versículo 4: alegria no Deus Rei. SEGUNDO, versículo 5: vida harmoniosa e melódica para Deus (a música reflete a sua gente!). TERCEIRO, versículo 6: trombetas e cornetas eram tocadas na entronização do rei; ou seja, o mundo deve entronizar Deus como Rei. Só que ele tem sido banido deste mundo. Somos as testemunhas. Cabe a nós anunciá-lo como Alegria dos homens, o Padrão para a vida e o Soberano sobre tudo e sobre todos. Deus é o Rei.
Deem gritos de louvor ao Deus Juiz
Finalmente, OS VERSÍCULOS 7-9 prosseguem com o chamado universal de louvor a Deus, incluindo até mesmo os rios, os mares e todos os seres vivos – porque, no final, Deus vindicará cada pecado, inclusive os cometidos contra a criação. Lembre-se de que a criação geme, como em dores de parto, e nós também gememos, aguardando por esse dia glorioso (Rm 8.22-25). Ouça o chamado do salmista:
Salmo 98.7-9 7Deem gritos de louvor [rujam] o mar e tudo que nele há, e também a terra e todos os seres vivos. 8Os rios batam palmas, e os montes cantem de alegria 9diante do SENHOR, pois ele vem julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e as nações, com imparcialidade.
O julgamento que está em vista aqui é especialmente o reinar ou o governar de Deus no mundo – sobre tudo e todos; não é tanto o julgamento de Deus sobre os ímpios, embora isso esteja obviamente relacionado ao reinado de Deus sobre a terra. O julgamento que está em vista aqui é a esperança de todo crente, tanto no Antigo como no Novo Testamento, de que Deus no final vencerá, reinará e governará este mundo. E é esse tema que é retomado na maravilhosa paráfrase deste salmo no hino de Isaac Watts: “Cantai que o Salvador chegou. Acolha a Terra o Rei. Ó vós, nações, a ele só contentes vos rendei…” E então, nas estrofes 2 e 3, Watts conta da vinda e da salvação de Jesus para, na última estrofe, celebrar o reino eterno de Deus sobre este mundo inteiro (estrofe 4): “Cristo governa com amor. Os povos provarão que é justo e bom o Salvador e lhe obedecerão… Sim, todos lhe obedecerão.”
A COMPREENSÃO CRISTÃ DA CRIAÇÃO E DO REINADO DE DEUS sobre a criação, a visão cristã da criação e da redenção ou restauração que Deus fará de todas as coisas é radicalmente diferente da maneira como o mundo vê a natureza.
O mundo sempre comente um dos dois erros mais comuns no que diz respeito ao cosmos: [1.] ou diviniza a natureza, adorando-a, razão pela qual algumas pessoas pensam que é pior prejudicar o meio ambiente, por exemplo, cultivando vacas no pasto, do que abortar bebês; [2.] ou o mundo considera que a natureza está evoluindo para a perfeição, acompanhada pela raça humana, que também está evoluindo.
O PRIMEIRO ERRO. Talvez alguém aqui tenha assistido aquela poderosa imagem televisiva de Carl Sagan na série Cosmos – na qual havia uma exibição do céu noturno em todo o seu esplendor estrelado, com uma voz em tons quase místicos pregando: “O cosmos é tudo o que é [existe], que já foi [existiu] ou que sempre será [existirá].” E complementava em um daqueles episódios:
Nossa contemplação do Cosmos nos comove – provoca calafrios, nos deixa sem voz, causa uma sensação de vertigem, como uma memória remota de estarmos caindo de uma grande altura. Sabemos que estamos nos aproximando do maior de todos os mistérios.
Carl Sagan é a imagem do homem incrédulo, de pé na ponta dos pés, olhando para os céus distantes até onde seus telescópios permitem e, com adoração, declarando com arrogância cega: “O mundo é tudo o que existe”.
Paulo, na Bíblia, nos dá uma imagem bastante diferente. Ele também contempla algo brilhante ao longe. Mas não é o homem que está na ponta dos pés olhando para longe – para o Cosmos. Ao contrário, é o cosmos, a própria criação, incluindo Paulo e os crentes, e o que a criação está almejando intensamente, ao olhar para além de si mesma, é o “dia em que desfrutaremos nossos direitos de adoção, incluindo a redenção de nosso corpo” (Rm 8.23), que ela própria, a criação toda, compartilhará ao ser também redimida. — A criação quer louvar a Deus, e vai!, de acordo com o ensino de Paulo e o Salmo 98.
MAS O MUNDO COMETE OUTRO ERRO que não é totalmente diferente do primeiro. No primeiro, o mundo diviniza a criação, o cosmo. No segundo, o mundo vê na natureza algum tipo de princípio aperfeiçoador, que é quase como dizer: “O mundo ainda não é Deus, mas está a caminho de ser tão perfeito como tal”. Em termos cósmicos, esse é o princípio da evolução. Em termos humanos, é o princípio da perfeição inevitável: “a cada dia, em todos os sentidos, estamos ficando cada vez melhores”. Em outras palavras, posso não ser Deus ainda, mas serei, com o tempo. Claro, muito tempo se passou – milhares de milhões de anos, de acordo com os evolucionistas – e o homem continua sendo tão diferente de Deus como sempre foi – e sempre será.
A perspectiva do cristão é muito mais equilibrada e mais madura do que isso ou qualquer coisa que o mundo possa conceber como verdade. A doutrina cristã da criação tem três partes:
Salmo 98.7-9 7Deem gritos de louvor [rujam] o mar e tudo que nele há, e também a terra e todos os seres vivos. 8Os rios batam palmas, e os montes cantem de alegria 9diante do SENHOR, pois ele vem julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e as nações, com imparcialidade.
Quero terminar oferecendo quatro aplicações baseadas em nosso estudo do Salmo 98.
S.D.G. L.B.Peixoto
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