04.10.2020
[Salmo 81] Ao regente do coral: salmo de Asafe, para ser acompanhado com instrumento de cordas. 1Cantem louvores a Deus, nossa força! Aclamem ao Deus de Jacó. 2Cantem! Façam soar o tamborim, a doce lira e a harpa. 3Toquem a trombeta na lua nova e na lua cheia, para convocar a nossa festa. 4Pois assim exigem os estatutos de Israel; esse é o decreto do Deus de Jacó. 5Ele o ordenou como lei para Israel, quando atacou o Egito para nos libertar. Ouvi uma voz desconhecida dizer: 6“Agora removerei o peso de seus ombros e libertarei suas mãos das tarefas pesadas. 7Vocês clamaram a mim em sua aflição, e eu os salvei; da nuvem de tempestade lhes respondi e pus vocês à prova quando não havia água em Meribá. Interlúdio 8“Ó meu povo, ouça minhas advertências; quem dera você me escutasse, ó Israel! 9Jamais tenha em seu meio outro deus; não se curve diante de deus estrangeiro. 10Pois fui eu, o SENHOR, seu Deus, que o tirei da terra do Egito. Abra bem a boca, e a encherei de coisas boas. 11“Meu povo, no entanto, não quis ouvir; Israel não me obedeceu. 12Por isso, deixei que seguissem seus desejos teimosos e vivessem de acordo com suas próprias ideias. 13Ah, se meu povo me escutasse; quem dera Israel andasse em meus caminhos! 14Então eu derrotaria seus inimigos sem demora; minhas mãos cairiam sobre seus adversários. 15Os que odeiam o SENHOR se encolheriam diante dele, condenados para sempre. 16Vocês, porém, eu alimentaria com trigo da melhor qualidade e os saciaria com mel silvestre tirado da rocha”.
Em que pese o imperativo do Novo Testamento (Hb 10.25): “não deixemos de nos reunir”, a cada dia fica mais óbvio que os cristãos não têm em alta estima o ato de congregar.
O ministério Ligonier, fundado por R. C. Sproul em Orlando, nos EUA, publicou um estudo em 2014 com apontamentos assustadores: 52% declararam que o culto em casa é um substituto válido para o culto na igreja; a maioria não achava que o ministério do púlpito – a pregação da Bíblia – tem autoridade para a vida cristã; e 91% responderam que a igreja não tem autoridade para validar profissões de fé cristãs – apesar de tudo o que Jesus Cristo mesmo disse sobre a igreja se reunir para decidir a respeito de ligar ou desligar membros, dependendo dos frutos de vida (cf. Mt 18.15-20).
Mais recentemente, em 2018, o Centro de Pesquisas Pew (Pew Research Center) divulgou que quase metade dos evangélicos que não costumam frequentar os cultos públicos da igreja (46%) argumentaram que eles praticam sua fé de outras maneiras. A segunda razão mais comum que os evangélicos dão para não frequentarem os cultos é que eles não encontraram uma igreja da qual gostem (33%). Um entre cada cinco evangélicos (20%) diz que não gosta dos sermões, e pouco mais de um em dez (11%) dizem que não se sentem bem-vindos nos cultos. Cerca de um entre cada quatro (26%) cita razões logísticas para não irem aos cultos, tal como não terem tempo ou estarem com problemas de saúde.
Se já era preocupante, a situação ficou pior este ano, com a pandemia. A suspensão dos cultos públicos como medida de prevenção ou proteção à COVID-19, fez com que muitos pastores, bem-intencionados, apresentasse uma justificativa “teológica” que, julgo, contribuiu ainda mais para o desprezo das reuniões da igreja. Disseram: “A igreja não é o templo.” “A igreja não precisa de templo.” Etc. Com efeito, uma igreja não é um edifício que pode ser aberto e fechado. Por outro lado, uma igreja também não é um evento para ser assistido por transmissão on-line. Uma igreja é uma comunidade que se reúne regularmente em algum local específico – “à igreja que se reúne em sua casa” (Fm 2).
Atenção: não estou tecendo juízo de valor quanto às medidas sanitárias. Nalgum momento elas foram e são importantes. Ponto final.
Ademais, graças a Deus, muitos crentes, pastores e líderes puderam se voltar para as mais variadas formas de tecnologia como meio para encorajar uns aos outros na Bíblia durante esta época incomum. Podemos orar uns pelos outros ao telefone (ou pelo WhatsApp). Podemos realizar reuniões administrativas ou estudos bíblicos virtuais. Os pastores podem gravar e postar aulas ou mensagens para os membros sob os seus cuidados. Atendimentos pastorais podem ser feitos por meio de ligações telefônicas ou vídeos-chamadas. Sou grato, de fato, muito grato ao SENHOR por podermos ministrar uns aos outros dessas maneiras enquanto estamos dispersos por causa da pandemia.
Outra coisa importante a se dizer: meu objetivo não é fazer alguma contribuição ao debate sobre se igrejas devem transmitir “cultos” ao vivo ou enviar material pré-gravado ou coisas assim durante este tempo estranho (e mesmo noutros tempos). Eu simplesmente quero nos lembrar de que uma igreja nunca é menos do que uma reunião, uma assembleia, com efeito, uma ekklēsia – um corpo de pessoas que se reúne sob convocação. Embora muitas congregações não possam se reunir agora, reunir-se é a essência de uma igreja. Congregar não é apenas uma coisa boa de se fazer (uma opção ao culto particular ou familiar); congregar faz parte do que é uma igreja.
É claro que, assim como marido e mulher ainda são casados quando o marido é, por exemplo, destacado para uma missão militar de 6 meses, uma igreja ainda é uma igreja mesmo quando não pode se reunir. Mas essas circunstâncias, felizmente, são historicamente anormais para as congregações locais. E como aquele casal anseia, contando os dias e as horas para se reunirem novamente, minha esperança é que Deus use esta época em que igrejas não podem se reunir (ou não podem se reunir normalmente) para nos fazer ansiar pelas doçuras gloriosas da reunião dos crentes. Talvez, em sua providência misteriosa, um dos propósitos de Deus para este tempo seja nos ajudar a valorizar a realidade de que uma igreja é uma reunião, é uma congregação reunida em assembleia.
Sim, cada um de nós crentes, é o templo do Espírito Santo (1Co 3.16-17) – e, portanto, deve guardar o próprio corpo em santidade –, mas é nos reunindo que nós somos igreja:
Efésios 2.21-22 (NAA) | 21Nele [Cristo], todo o edifício, bem-ajustado, cresce para ser um santuário dedicado ao Senhor. 22Nele também vocês estão sendo edificados, junto com os outros, para serem morada de Deus no Espírito.
Todas as epístolas do Novo Testamento presumem que os cristãos são membros de igrejas locais. Elas foram escritas às igrejas locais (salvo as Pastorais, que foram escritas para pastores que cuidavam de igrejas locais). As cartas dos apóstolos nos ensinam como nos darmos bem com os outros membros, como encorajar os fracos dentro da igreja, como nos conduzir na igreja e o que fazer com os pecadores não arrependidos na igreja. Elas nos ordenam a nos submetermos aos nossos presbíteros ou pastores. Orientam-nos a nos reunir para decidir sobre assuntos de membresia. Todas essas coisas são impossíveis para quem não é membro de uma igreja local. Para referências, leia atentamente, por exemplo, 1 e 2 Coríntios, Tiago, Efésios, 1 e 2 Timóteo e 1 Pedro.
O que se requer dos membros de uma igreja local é que eles se reúnam com regularidade (em culto): “quando vocês se reúnem como [na] igreja [assembleia, ekklēsia]” (1Co 11.18). De fato, o significado pleno de igreja é a reunião dos crentes no culto, os membros da igreja reunidos para cultuar ao Deus Trino. É tanto que Paulo, instruindo a igreja que se reunia em Corinto, escreveu que é na reunião dos crentes que está a igreja. 1Coríntios 14.19, 23, 28 (NAA):
19Contudo, na igreja prefiro falar cinco palavras com o meu entendimento, para instruir os outros, do que falar dez mil palavras em línguas. […] 23Assim, se toda a igreja se reunir no mesmo lugar e todos se puserem a falar em línguas, no caso de entrarem pessoas não instruídas ou não crentes, será que não vão dizer que vocês estão loucos? […] 28Mas, não havendo quem interprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.
No Novo Testamento, mesmo as grandes igrejas se reuniram como um só corpo na época da Igreja Primitiva. Por exemplo: é sabido que milhares de crentes pertenciam à congregação em Jerusalém (At 2.41; 4.4), mas “todos se reuniam regularmente no templo, na parte conhecida como Pórtico de Salomão” (At 5.12). A Fé e Mensagem Batista dos Batistas do Sul dos EUA, no Artigo VI, A Igreja, assim definiu:
A igreja do Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento é uma congregação local autônoma de crentes batizados, associados pelo pacto de fé e comunhão do evangelho; observando as duas ordenanças de Cristo, governada por Suas leis, exercitando os dons, direitos e privilégios investidos neles por Sua Palavra e buscando estender o evangelho aos confins da terra.
Eles fazem tudo isso e se mobilizam para o cumprimento da Grande Comissão, reunindo-se no espaço e no tempo. Ora, uma igreja é mais do que uma reunião, é claro! Ela se reúne, depois se espalha e se reúne novamente. Seus membros continuam a fazer parte da igreja durante a semana, enquanto servem e representam a Cristo em casa, locais de trabalho e vizinhanças. Mas uma igreja nunca é menos do que uma reunião.
Pense, por exemplo, no Supremo Tribunal Federal. Os onze ministros que compõem a Corte Suprema da nação, em certo sentido, são pessoas comuns como você e eu. Claro, todos eles são indivíduos, autoridades influentes, por conta própria. Entretanto, no sentido mais profundo, eles são quem são quando se reúnem em assembleia.
Quando os juízes da Suprema Corte se reúnem como um Tribunal para fazerem julgamentos formais, eles assumem uma identidade conjunta singular. Juntos, eles exercem uma autoridade muito maior do que a soma de suas partes. Assim, advogados introduzem suas falas, endereçando-as não aos juízes, mas ao Tribunal ou ao presidente que dirige o Tribunal. O Supremo Tribunal Federal é uma instituição corporativa, que depende de seus onze membros se reunindo no espaço e no tempo.
Por analogia, Deus projetou a igreja local como um povo que se reúne em assembleia. Não funciona de outra maneira. O que torna a assembleia, a reunião da igreja uma parte tão importante da identidade de uma igreja é que, em primeiro lugar, a assembleia ou reunião da igreja torna a igreja visível para si mesma; em segundo lugar, torna-a visível para o mundo ao redor. Uma igreja, veja bem, não é apenas uma reunião dominical, mas ela não é menos do que essa reunião. Com efeito, é essa reunião que a define como igreja. Portanto, “não deixemos de nos reunir”, “não deixemos de nos congregar”.
O Salmo 81 compartilha dessa preocupação: a congregação dos santos, pelas exigências dos estatutos de Israel, ordenada como lei, deve se reunir para adorar o Deus que os libertou. Convoca o povo a celebrar os festivais prescritos, mas os lembra de que a adoração só é válida quando oferecida em espírito de fé e gratidão. Versículos 1-5 (notem o plural):
1Cantem louvores a Deus, nossa força! Aclamem ao Deus de Jacó. 2Cantem! Façam soar o tamborim, a doce lira e a harpa. 3Toquem a trombeta na lua nova e na lua cheia, para convocar a nossa festa. 4Pois assim exigem os estatutos de Israel; esse é o decreto do Deus de Jacó. 5Ele o ordenou como lei para Israel, quando atacou o Egito para nos libertar.
Este era um salmo para ser cantado na Festa das Cabanas, ou Festa dos Tabernáculos – era a Festa da Última Colheita (finais de setembro, inícios de outubro). É um salmo de louvor e adoração ao Deus libertador.
O povo era chamado – na época da colheita, no período da bonança – para festejar com a perpétua lembrança da libertação do Egito que Deus os proporcionou com tanto poder, a proteção amorosa no deserto, a maneira graciosa como ele proveu tudo de que precisavam, o fato de que ele mesmo foi a maior bênção do povo. Aquela era para ser uma ocasião de adoração. Outra coisa: aquela se tornou a época do ano que marcava o adeus ao ano velho e o início do ano novo em Israel, e talvez fosse a mais esperada das grandes festas no período após o cativeiro.
Neste Salmo, tão claramente um salmo de adoração, onde, como já vimos, o povo de Deus está reunido na época da colheita para lembrar de sua provisão para eles no deserto e dar a ele a glória devida ao seu nome, encontramos cinco importantes considerações para o culto cristão.
Deus permitindo, hoje à note, passemos a cada uma dessas partes do salmo e veremos como ele fala tão diretamente a nós hoje.
S.D.G. L.B.Peixoto
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