26.01.2025
Hebreus 2.1-4 (NVT)
1Portanto, precisamos prestar muita atenção às verdades que temos ouvido, para não nos desviarmos delas. 2Pois a mensagem que foi transmitida por meio de anjos permaneceu firme, e toda transgressão e desobediência recebeu o castigo merecido. 3O que nos faz pensar que escaparemos se negligenciarmos essa grande salvação, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois transmitida a nós por aqueles que o ouviram falar? 4E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.
“E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas [ou prodígios] e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.” Com essas palavras, o autor de Hebreus conclui este bloco do livro que temos estudado já há três domingos; este é o quarto. Essa informação — “E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.” — constitui o último ponto do argumento desse escritor para demonstrar que a mensagem da “grande salvação” é verdadeira — e, portanto, jamais poderá ser negligenciada, sob pena de não escapar da condenação.
O autor apresenta os seguintes argumentos:
Portanto, temos, de fato, uma grande e verdadeira salvação. Negligenciá-la levará à perdição.
Diante do exposto, pergunto: se “sinais, maravilhas e diversos milagres”, além de “dons do Espírito Santo”, operados e distribuídos pela vontade de Deus, serviram para autenticar a mensagem do evangelho da grande salvação, podemos nós orar pedindo os mesmos sinais, prodígios, milagres e dons do Espírito Santo com o mesmo propósito de promover a salvação de pecadores?
Permitam-me trazer outro texto bíblico a este cenário. Antes, um pouco do contexto. Em Atos 4.23-28 nós lemos que, após serem ameaçados e, finalmente, libertos pelos líderes dos judeus, Pedro e João voltaram ao grupo de irmãos que estavam reunidos em oração e compartilharam tudo o que haviam testemunhado. Ao ouvirem o relato, todos os presentes elevaram suas vozes em louvor a Deus, reconhecendo-o como o Soberano Criador do universo.
Eles relembraram as palavras proféticas de Davi, que, inspirado pelo Espírito Santo, questionava a futilidade dos planos das nações e a oposição dos governantes contra o Senhor e seu Ungido. Reconheceram que essa profecia se cumprira em Jerusalém, onde Herodes, Pilatos, os gentios e o povo de Israel se uniram contra Jesus, o Santo Servo ungido por Deus. Ainda assim, destacaram que tudo o que aconteceu já estava previamente determinado pela vontade divina.
Então, toda a igreja primitiva, reunida em Jerusalém, ergueu a voz em oração, dizendo — Atos 4.29-30 (NVT):
29E agora, Senhor, ouve as ameaças deles e concede a teus servos coragem para anunciar tua palavra. 30Estende tua mão com poder para curar, e que sinais e maravilhas sejam realizados por meio do nome de teu santo Servo Jesus”.
31Depois dessa oração, o lugar onde estavam reunidos tremeu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo e pregavam corajosamente a palavra de Deus.
Pergunto novamente: à luz desses textos — Hebreus 2.4 e Atos 4.29-30 —, podemos nós orar pedindo os mesmos sinais, prodígios, milagres e dons do Espírito Santo com o mesmo propósito de promover a salvação de pecadores? Pense bem.
Podemos mesmo orar, pedindo (At 4.30): “[Senhor Deus,] Estende tua mão com poder para curar, e que sinais e maravilhas sejam realizados por meio do nome de teu santo Servo Jesus”? Ou podemos apenas orar pedindo o que foi solicitado anteriormente, na mesma oração (At 4.29): “Senhor, ouve as ameaças deles e concede a teus servos coragem para anunciar tua palavra”?
E aí? Devemos orar por intrepidez no testemunho e por sinais, prodígios e curas? Ou devemos orar apenas por intrepidez no testemunho?
Os sinais e prodígios foram especialmente designados por Deus para confirmar a autoridade dos apóstolos, de modo que, após os apóstolos cumprirem sua missão de prover à igreja o fundamento da revelação no Novo Testamento, os sinais e maravilhas cessaram? Ou não?
Vamos começar com duas definições para que saibamos do que estamos falando.
Sinais focam no significado do ato, apontando para algo maior.
Prodígios destacam a natureza impressionante e maravilhosa do ocorrido.
Milagres sublinham o poder divino que opera no ocorrido.
1. Sinais (σημεῖα – sēmeia)
Eventos que apontam para uma mensagem espiritual ou servem como prova da autoridade divina. Exemplo: A cura do coxo na porta do Templo (Atos 3.1-10). Pedro e João curaram um homem coxo de nascença. O evento não apenas demonstrou o poder de Deus, mas também confirmou a autoridade apostólica e deu oportunidade para a pregação do evangelho (Atos 3.11-26). Outro exemplo: A ressurreição de Dorcas (Tabita) por Pedro (Atos 9.36-42). Este ato foi um “sinal” que levou muitos em Jope a crerem no Senhor.
2. Prodígios (τέρατα – terata)
Eventos extraordinários que causam espanto e admiração. A ressurreição de Dorcas, além de ter sido um sinal, foi também um prodígio. Outro exemplo: A libertação de Pedro da prisão por um anjo (Atos 12.5-11). Um anjo apareceu, abriu as portas da prisão e libertou Pedro de maneira sobrenatural. O prodígio causou admiração e temor, especialmente entre os discípulos que oravam por ele. Mais um exemplo: A morte de Ananias e Safira (Atos 5.1-11). Essas mortes instantâneas, causadas pelo julgamento de Deus por mentirem ao Espírito Santo, foi um ato prodigioso que trouxe grande temor à igreja.
3. Milagres (δυνάμεις – dynameis)
Manifestações do poder divino sobre a natureza, doenças e até a morte. Exemplo: Muitos milagres de cura realizados pelas mãos dos apóstolos (Atos 5.12-16). Pessoas doentes e possuídas por espíritos malignos eram curadas, e até a sombra de Pedro era usada como meio de cura. Outro exemplo: Paulo ressuscitando Êutico (Atos 20.7-12). Quando Êutico caiu da janela e morreu, Paulo orou por ele e o trouxe de volta à vida.
Portanto,
Sinais apontam para algo maior, como a autoridade divina (ex.: cura do coxo).
Prodígios causam espanto e reverência (ex.: morte de Ananias e Safira).
Milagres manifestam o poder sobrenatural de Deus (ex.: ressurreição de Êutico).
Esses eventos, em conjunto, serviram para autenticar o ministério dos apóstolos e levar pessoas a crerem no evangelho.
Pois bem, o que pensam os cristão hoje a esse respeito?
Primeiro, há a teologia continuista. Esta se refere à visão de que os dons espirituais mencionados em 1Coríntios 12–14 ainda estão disponíveis e operantes, em alguma medida, nos dias de hoje. Isso é “continuismo”.
Segundo, há a teologia cessacionista. Esta defende que os dons sobrenaturais extraordinários, como falar em línguas, profecia, cura, discernimento de espíritos, entre outros, não são mais concedidos pelo Espírito e não devem ser buscados atualmente. Isso é o cessacionismo.
A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, por exemplo, esclarece com propriedade que não existe uma “segunda bênção” do Espírito Santo — compreendida como um batismo no Espírito após a conversão, sendo a conversão, segundo o movimento pentecostal, a “primeira bênção”. Ainda assim, os batista brasileiros parecem deixar aberta a possibilidade de algum continuísmo em relação aos dons do Espírito Santo, já que não veda explicitamente essa ideia na Declaração Doutrinária.
Os batistas brasileiros, de fato, negam corretamente que a “segunda bênção” do Espírito, acompanhada de sinais visíveis como o falar em línguas e o poder espiritual, seja uma prática bíblica. Contudo, também não afirmam de forma explícita que os dons do Espírito, os sinais, os prodígios e os milagres tenham cessado.
Observe:
Capítulo 3 — Deus
Parágrafo 3 — Deus Espírito Santo
O Espírito Santo, um em essência com o Pai e com o Filho, é pessoa divina.1 É o Espírito da verdade.2 Atuou na criação do mundo e inspirou os homens a escreverem as Sagradas Escrituras.3 Ele ilumina os homens e os capacita a compreenderem a verdade divina.4 No dia de Pentecostes, em cumprimento final da profecia e das promessas quanto à descida do Espírito Santo, ele se manifestou de maneira singular, quando os primeiros discípulos foram batizados no Espírito, passando a fazer parte do Corpo de Cristo que é a Igreja. Suas outras manifestações, constantes no livro Atos dos Apóstolos, confirmam a evidência de universalidade do dom do Espírito Santo a todos os que creem em Cristo.5 O recebimento do Espírito Santo sempre ocorre quando os pecadores se convertem a Jesus Cristo, que os integra, regenerados pelo Espírito, à igreja.6 Ele dá testemunho de Jesus Cristo e o glorifica.7 Convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo.8 Opera a regeneração do pecador perdido.9 Sela o crente para o dia da redenção final.10 Habita no crente.11 Guia-o em toda a verdade.12 Capacita-o a obedecer a vontade de Deus.13 Distribui dons aos filhos de Deus para a edificação do Corpo de Cristo e para o ministério da Igreja no mundo.14 Sua plenitude e seu fruto na vida do crente constituem condições para uma vida cristã vitoriosa e testemunhante.15
Portanto, nós, batistas, declaramos em nossa confissão de fé que o Espírito Santo “distribui dons aos filhos de Deus para a edificação do Corpo de Cristo e para o ministério da Igreja no mundo.” Negamos, contudo, a existência de uma “segunda bênção” do Espírito. Por outro lado, afirmamos a plenitude do Espírito: “Sua plenitude e seu fruto na vida do crente constituem condições para uma vida cristã vitoriosa e testemunhante.”
Explico.
O batismo no Espírito Santo é um ato único e inicial do Espírito, que ocorre no momento da conversão e incorpora o crente ao corpo de Cristo (1Co 12.13). No pentecostalismo, entretanto, esse batismo é entendido como uma experiência distinta e posterior à conversão, marcada pelo revestimento de poder para testemunhar e, sempre, acompanhada por manifestações como o falar em línguas (At 2).
Na visão não pentecostal (como a dos batistas), o propósito do batismo no Espírito Santo é unir o crente à família de Deus. Já na visão pentecostal, objetivo do batismo no Espírito Santo é capacitar o crente para o serviço, o ministério e o testemunho. Apesar dessas diferenças, ambos os grupos consideram o batismo no Espírito Santo um evento único na vida do crente.
A plenitude do Espírito, por sua vez (conforme creem os batistas), refere-se a uma condição contínua e repetida de submissão à direção do Espírito Santo. Trata-se de, movido pelo Espírito, dispor-se para que ele controle e capacite o crente a viver uma vida de santidade, obediência e poder para testemunhar de Cristo (Ef 5.18; At 1.8).
Na visão batista, o propósito da plenitude do Espírito é produzir o fruto do Espírito (Gl 5.22-23) e capacitar o crente para viver uma vida cristã plena, refletindo o caráter de Cristo. Por isso, a plenitude é um processo contínuo e deve ser buscada diariamente.
Tendo definido esses termos, examinemos as Escrituras. Busquemos compreender o que cada lado afirma: cessacionismo ou continuísmo? Os sinais, prodígios e milagres são para os dias de hoje ou já cessaram? E, caso não tenham cessado, qual seria a sua função na história da salvação? Seria correto orar por eles hoje? Se sim, como?
Sobre a minha posição, adianto que, quanto mais leio a Bíblia, estudo as diferentes posições, oro e pondero, mais me percebo em algum lugar no meio, cheio de incertezas. Por isso, o melhor que posso oferecer a você nesta manhã é compartilhar um pouco do que vejo tanto no cessacionismo quanto no continuísmo, o que em cada um dos lados me impele a equilibrar-me no centro, sem pender para qualquer um dos extremos.
Talvez, enquanto estudamos e oramos juntos, o Senhor nos conceda mais luz.
Continua na parte 2.
S.D.G. L.B.Peixoto
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