09.02.2025
Hebreus 2.1-4 (NVT)
1Portanto, precisamos prestar muita atenção às verdades que temos ouvido, para não nos desviarmos delas. 2Pois a mensagem que foi transmitida por meio de anjos permaneceu firme, e toda transgressão e desobediência recebeu o castigo merecido. 3O que nos faz pensar que escaparemos se negligenciarmos essa grande salvação, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois transmitida a nós por aqueles que o ouviram falar? 4E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.
Pela terceira semana, mergulhamos no tema “Sinais, Prodígios e Milagres”. Fazemos isso porque a carta aos Hebreus nos levou a essa reflexão. Ao estudar esse livro, logo no início do capítulo 2, encontramos o versículo 4: “E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.”
Diante da relevância e controvérsia do assunto, escolhemos abordá-lo com profundidade, sem pressa, buscando esclarecer o verdadeiro significado de sinais, prodígios, milagres e dons do Espírito Santo.
Primeiro, definimos os termos e mostramos que a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira admite certa continuidade dos dons do Espírito, incluindo sinais, prodígios e milagres. Isso fica claro no capítulo 3, parágrafo 3, da seção “Deus Espírito Santo”.
No entanto, os batistas brasileiros, firmados na Bíblia, não endossam a doutrina da “segunda bênção”, nem o batismo no Espírito Santo como uma experiência posterior à conversão, acompanhada pelo falar em línguas e por manifestações de poder espiritual.
Na semana passada, analisamos os argumentos de cessacionistas e continuístas, mostrando que há base bíblica para crer que Deus pode continuar operando sinais, prodígios e dons do Espírito Santo, segundo a sua vontade, mesmo após a morte dos apóstolos e a formação do cânon do Novo Testamento.
Hoje, na terceira parte de nossa reflexão, veremos como sinais e prodígios impulsionaram o crescimento da igreja primitiva, sua importância nos dias atuais e seu papel até o fim dos tempos.
Há duas semanas, meditamos sobre a oração de Atos 4.29-30 e concluímos que deveríamos orar da mesma forma. O mundo enfrenta imensas necessidades, especialmente quanto às enfermidades da mente e do corpo, e, muitas vezes, a igreja não responde à altura. Por isso, deveríamos desejar com a mesma intensidade aquilo que os primeiros cristãos ansiavam. Diante de forte oposição, eles clamaram a Deus nestes termos:
Atos 4.29-30 (NVT)
29E agora, Senhor, ouve as ameaças deles e concede a teus servos coragem para anunciar tua palavra. 30Estende tua mão com poder para curar, e que sinais e maravilhas sejam realizados por meio do nome de teu santo Servo Jesus”.
Os discípulos da igreja primitiva suplicaram por coragem no testemunho, clamaram para que a mão de Deus trouxesse cura e rogaram por sinais e prodígios. Não estavam apenas receptivos a essas manifestações — ansiavam por elas. Oraram com fervor para que se realizassem.
E aqui surge a pergunta: por que desejavam tanto que Deus operasse sinais e prodígios? Por que clamavam para que o Senhor estendesse sua mão e curasse?
John Piper observa que essa geração teve a evidência mais clara e convincente da ressurreição como nenhuma outra desde então. Centenas de testemunhas oculares do Cristo ressurreto estavam em Jerusalém. Ainda assim, eles clamaram por sinais e prodígios, embora fossem a geração que menos precisava de autenticação sobrenatural em comparação com as que vieram depois.
Além disso, mesmo na ausência de sinais, sua pregação foi a mais ungida da história. Basta ler sobre as mensagens de Pedro, Estêvão, Filipe e Paulo para ver o impacto transformador da palavra de Deus nos primórdios da igreja.
Então, por que essa geração, que conviveu com testemunhas da ressurreição e presenciou uma pregação tão extraordinária, ansiava tanto por ver Deus estender a mão, curar e realizar sinais e prodígios? Essa questão histórica é crucial, pois desmonta uma das principais objeções ao clamor pelo poder de Deus em curas, sinais e prodígios. Voltaremos a esse ponto em breve.
Para entender a paixão dos primeiros cristãos por ver Deus curar e operar sinais e prodígios, precisamos recorrer a mais textos bíblicos. Eles nos ajudarão a responder a certas perguntas. Por exemplo: Por que, apesar dos perigos e abusos que enfrentavam, a igreja primitiva ansiava tanto por essas manifestações? O que os levava a clamar com fervor: “[Senhor Deus,] estende tua mão com poder para curar, e que sinais e maravilhas sejam realizados por meio do nome de teu santo Servo Jesus.” (At 4.30)?
Abra em Atos 5 e leia o versículo 12 (NVT). Leia. — “Os apóstolos realizavam muitos sinais e maravilhas entre o povo. Todos se reuniam regularmente no templo, na parte conhecida como Pórtico de Salomão.” — O pronome indefinido “todos”, aqui empregado por Lucas, diz respeito à congregação inteira da igreja em Jerusalém. Podemos inferir isso a partir do paralelo encontrado em Atos 2.43-44 (NVT), que declara: “Havia em todos eles um profundo temor, e os apóstolos realizavam muitos sinais e maravilhas. Os que criam se reuniam num só lugar e compartilhavam tudo que possuíam.”
Pois bem…
Atos 5.12-13 descreve dois resultados da manifestação de sinais e prodígios.
Primeiro, o povo de Jerusalém — quem era de fora da congregação — ficou profundamente impressionado com os apóstolos e com a igreja. Você se lembra de que Ananias e Safira haviam morrido por conspirarem para testar o Espírito do Senhor, mentindo por causa do dinheiro da venda de uma propriedade (At 5.1-11)?
Além disso, sinais e prodígios estavam sendo realizados pelas mãos dos apóstolos (At 5.12). E Lucas registra a reação, Atos 5.12-13 (NVT):
Todos se reuniam regularmente no templo, na parte conhecida como Pórtico de Salomão. Quando se reuniam ali, ninguém mais tinha coragem de juntar-se a eles, embora o povo os tivesse em alta consideração.
Mas isso não foi tudo.
Em meio a todo esse temor, admiração e espanto, muitos estavam vindo à fé em Jesus. Atos 5.14 (NVT) declara: “Cada vez mais pessoas, multidões de homens e mulheres, criam no Senhor.”
Portanto, pode-se afirmar que Lucas deseja evidenciar a conexão entre os sinais e prodígios realizados pelos apóstolos no versículo 12 e as multidões sendo acrescentadas ao Senhor no versículo 14.
Por essas razões — 1) a alta consideração que o povo tinha pela igreja e 2) o crescente número de conversões —, é plausível concluir que esses eram os principais motivos pelos quais a igreja orava tão intensamente para que sinais e prodígios fossem manifestados, especialmente para que mais pessoas se convertessem a Cristo.
Sinais, prodígios e milagres, portanto, não eram um fim em si mesmos, nem uma graça buscada para ser esbanjada em seus prazeres sem Deus (cf. Tg 4.3), mas instrumentos divinos que conduziam pessoas à fé salvadora em Cristo.
É verdade que, em meio a todas as nobres intenções da igreja primitiva, havia também pessoas de má fé, buscando apenas a cura para seus males físicos, desejando os sinais, mas não o Salvador. Foi assim até durante o ministério do Senhor Jesus (cf. Jo 6.26). E, no tempo dos apóstolos, havia aqueles que almejavam tais poderes para obter fama e riqueza, como no caso de Simão, o mago (cf. At 8.18-21). Além disso, é inegável que o diabo também opera sinais, prodígios e milagres (cf. 2Ts 2.3-4; Ap 13.11-18).
Entretanto, nada disso impediu o Senhor de operar sinais, prodígios e milagres com o propósito supremo de exaltar o seu nome, sobretudo na salvação de pecadores.
Mateus 7.21-23 (NVT)
21“Nem todos que me chamam: ‘Senhor! Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas aqueles que, de fato, fazem a vontade de meu Pai, que está no céu. 22No dia do juízo, muitos me dirão: ‘Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em teu nome e não realizamos muitos milagres em teu nome?’. 23Eu, porém, responderei: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que desobedecem à lei!’.”
OBSERVE: O erro ou a má-fé de alguns jamais anularão o dom da graça de Deus.
Aliás, pessoas mal-intencionadas sempre perverteram (ainda pervertem e perverterão) o verdadeiro significado da graça divina — basta observar a doutrina da hipergraça, uma heresia contemporânea, que contradiz o ensino bíblico sobre a graça. Ah, um de seus principais proponentes no Brasil é pastor de uma grande igreja aqui em Goiânia!
O que faremos? Pararemos de pregar a graça de Deus?
Meu povo, as cartas de Paulo já alertavam repetidamente contra o abuso desse ensino, quando a graça é distorcida para justificar o pecado. Esse problema se manifesta de diversas formas no Novo Testamento. E, hoje, ressurge com a corrupção do caráter de Deus (ao enfatizar apenas o amor e a graça, ignorando sua santidade e justiça); reaparece com a licenciosidade, a falsa liberdade, a negação da necessidade de arrependimento e a promoção de uma falsa segurança, resultando, assim, na completa distorção do evangelho (cf. Rm 3.8; 6.1-2; 2Co 6.1; Gl 5.13; 2Tm 3.1-5; Tt 2.11-12; Hb 10.26-27; 1Jo 1.8-9; Jd 4).
Ora, se até a graça de Deus foi pervertida, não aconteceria o mesmo com seus sinais, prodígios e milagres?
Indago mais uma vez: se perverteram a graça de Deus, deixaremos de pregá-la? Buscaremos revestir o evangelho de legalismo? Transformaremos a mensagem da cruz em um mero manual de usos e costumes moralistas? Certamente não!
E se não deixamos de pregar a graça de Deus, conforme a revelação das Escrituras, ainda que haja distorções, por que, então, deveríamos deixar de pregar e buscar sinais, prodígios e milagres, desde que de forma bíblica e com propósitos bíblicos?
O princípio não é o mesmo? Obviamente que sim!
Graças a Deus, porque, mesmo quando somos infiéis, ele permanece fiel, “pois não pode negar a si mesmo” (cf. 2Tm 2.13). Ele é fiel para salvar todos os que se arrependem e creem para a salvação (cf. Jo 3.16) e igualmente fiel para julgar aqueles que rejeitam ou corrompem a graça generosamente estendida — em todas as suas expressões — até mesmo aos piores tipos de pecadores (cf. Jo 3.18).
Deus julgará os perversos, e nós prosseguiremos anunciando sua graça livre e soberana, buscando, por todos os meios bíblicos disponíveis, conduzir mais pecadores ao conhecimento da graça salvadora de Deus, revelada em Jesus Cristo.
Charles H. Spurgeon
Charles Spurgeon, muito provavelmente, era cessacionista. No entanto, ele próprio, em certas ocasiões, agia com base em fortes impressões subjetivas, como se fossem mensagens revelatórias especiais do Espírito Santo.
Em um artigo publicado na Sword and Trowel, em outubro de 1865, Charles Spurgeon escreveu:
Nosso caminho pessoal tem sido frequentemente direcionado contra nossos próprios planos e além de nossa compreensão, por impulsos singularmente poderosos e por providências irresistíveis.
Seria perverso zombar da doutrina de que Deus, ocasionalmente, concede aos seus servos uma manifestação especial e perceptível de Sua vontade, além da capacitação do Espírito Santo e do ensino sagrado da Palavra inspirada.
Não adotamos as peculiaridades dos Quakers, mas, nesse ponto, estamos plenamente de acordo com eles.
[…] A mão invisível pode, às vezes, ser sentida com certeza pelos santos. O misterioso poder que guiou os profetas de antigamente pode, até hoje, envolver de forma sensível aqueles que reverenciam a Deus. Falamos com prudência, mas não podemos dizer menos que isso.
Diante dessas palavras de Spurgeon, devemos valorizar ainda mais a exortação do apóstolo Paulo: “Que o amor seja seu maior objetivo! Contudo, desejem também os dons espirituais, especialmente a capacidade de profetizar.” (1Coríntios 14.1).
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto