02.10.2022
[Atos 17.22-34] 22Então Paulo se levantou diante do conselho e assim se dirigiu a seus membros: “Homens de Atenas, vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, 23pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo. 24“Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens 25e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade. 26De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. 27“Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós. 28Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: ‘Somos descendência dele’. 29E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos. 30“No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. 31Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos”. 32Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: “Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião”. 33Então Paulo se retirou do conselho, 34mas alguns se juntaram a ele e creram. Entre eles estavam Dionísio, membro do conselho, uma mulher chamada Dâmaris, e alguns outros.
É provável que você acredite em Deus. Primeiro, porque, segundo estatísticas, 97% dos brasileiros afirmam acreditar totalmente em Deus. Inda mais impressionante: mesmo entre os que não têm religião, 81% acreditam na existência de Deus. Segundo, se você está aqui neste culto, as chances são de que você acredita em Deus. Afinal, você está na casa de Deus, a reunião dos santos, a igreja de Cristo reunida para culto e adoração. Portanto, é provável que você acredite em Deus, e afirme acreditar totalmente em Deus.
A questão, portanto, passa a ser esta: você, de fato, vive como alguém que acredita em Deus? ou: você é do tipo ateu prático? ou: você é daqueles que crê em Deus e professa crer em Deus, mas vive como se Deus não existisse? ou: você acredita em Deus, mas, intimamente, não conhece a Deus? — Tem muita gente que confessa o nome de Deus, mas vive como se não o conhecesse ou se ele não existisse. — É esse o seu caso? Crê, mas não vive como se Deus existisse? Crê, mas não conhece Deus?
SEM DEUS NO MUNDO, a tendência é de se viver como viviam os atenienses que ouviram Paulo: [1.] CRIANDO E NUTRINDO ÍDOLOS — Atos 17.16: “Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, ficou muito indignado ao ver ídolos por toda a cidade.”; [2.] ALIMENTANDO-SE DE NOVIDADES, movendo-se por ondas ou ventos de ideias e de doutrinas — Atos 17.21: “(Convém explicar que os atenienses, bem como os estrangeiros que viviam em Atenas, pareciam não fazer outra coisa senão discutir as últimas novidades.)”; [3.] SUSTENTANDO-SE DE RELIGIOSIDADE que não promove o conhecimento genuíno de Deus — Atos 17.23: “pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo.”; [4.] VALENDO-SE DE FILOSOFIAS VÃS ou de ideologias de todos os tipos — Atos 17.18 — “Paulo também debateu com alguns dos filósofos epicureus e estoicos.”
Central para A FILOSOFIA EPICURISTA era o ensino de que o prazer e a evitação da dor são o objetivo principal do homem. Esses filósofos eram materialistas que, embora não negassem a existência dos deuses, criam que eles não intervêm nos assuntos dos homens. Eles ensinavam que, na morte, o corpo e a alma (ambos compostos de átomos) se desintegram; não há vida após a morte; morreu, acabou.
OS FILÓSOFOS ESTÓICOS, por outro lado, viam o autodomínio como a maior virtude da vida. Eles criam que essa capacidade de autocontrole vem de se ser indiferente tanto ao prazer quanto à dor, buscando se chegar ao ponto em que não se sente nada. Em contraste com o ateísmo prático dos epicuristas, os estóicos eram panteístas. O panteísmo é a crença de que absolutamente tudo e todos compõem um Deus abrangente e imanente (ou contido na natureza), portanto, o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. Sendo assim, os adeptos dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, em forma humana ou criador de todas as coisas. Em essência, na prática, se tudo é Deus e Deus é tudo, não há, de fato Deus. Assim criam os estóicos.
Ao que tudo indica, Nelson Mandela (1918—2013) era um estóico prático. Quando liderava a juventude que resistia ao segregacionismo, ao Apartheide, na África do Sul, Mandela acabou como réu em um julgamento por traição. Foragido, tornou-se depois o prisioneiro mais famoso do mundo e, finalmente, o político mais aclamado em vida. Atribui-se a ele a refundação de seu país como uma sociedade multiétnica.
Mandela passou 27 anos na prisão, cumprindo pena de trabalho forçado. Ele contou que em seus dias mais difíceis durante a prisão na Ilha Robben (África do Sul), o que o sustentou foram os versos do poema “Invictus” de autoria do poeta vitoriano inglês William Ernest Henley (1849–1903). Mandela testemunhou que sempre que começava a perder suas forças relia o poema em busca de conforto e companhia para enfrentar toda a dor que sofreu. Eis uma tradução livre de Invictus:
Invicto
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por minh’alma inconquistável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Não importa quão estreita a fenda – eu não declino,
Nem quão pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.
Pois bem, este é o espírito estóico: é a capacidade de se cultivar, venha o que vier, o autocontrole; é a capacidade de se tomar as rédeas da vida nas própria mãos e cantar, como cantou Frank Sinatra, “Eu fiz do meu jeito” – “I did it my way”; ou, segundo o poeta, “Eu sou o senhor de meu destino; eu sou o capitão de minha alma.” Gente, como é duro viver assim, sem Deus no mundo, tomando as rédeas da vida nas próprias mãos, tentando manter inquebrável a própria alma, a cabeça ereta, o coração sem medo, o controle da própria vida – tudo isso sozinho! Como é difícil viver sem Deus no mundo!
Não é apenas duro viver sem Deus no mundo, é degradante. A vida sem Deus, como bem escreveu G. K. Chesterton (1874—1936), faz você acreditar em qualquer coisa e viver de qualquer jeito. Eis o que disse o pensador inglês:
Muitas vezes se supõe que quando as pessoas param de acreditar em Deus, elas não acreditam em nada. Infelizmente, é pior do que isso. Quando eles param de acreditar em Deus, eles acreditam em qualquer coisa!
Foi isso o que Paulo viu quando chegou a Atenas. Um bando de gente acreditando em qualquer coisa, idolatrando qualquer coisa, correndo atrás de qualquer novidade e apegando-se ao que fosse mais conveniente. Talvez seja esse o seu caso. Se for, você precisa ouvir o sermão que chocou os atenienses.
Paul Washer, que é missionário e um dos grandes pregadores batistas (batista reformado!) nos Estados Unidos, salvo engano, ficou conhecido no Brasil pela sua “pregação chocante”. Só que bem antes dele, Paulo, em Atenas, pregou um sermão que chocou os atenienses. E era necessário! — O que Paulo pregou? Como ele pregou? O que se aprende do sermão chocante de Paulo em Atenas? Quais foram os resultados?
Paulo foi conduzido a pregar
Atos 17.16-21 16Enquanto Paulo esperava por eles [Silas e Timóteo] em Atenas, [o que Paulo sentiu:] ficou muito indignado [o que Paulo viu:] ao ver ídolos por toda a cidade. 17[o que Paulo fez:] Por isso, ia à sinagoga debater com os judeus e com os gentios tementes a Deus e falava diariamente na praça pública a todos que ali estavam. 18Paulo também debateu com alguns dos filósofos epicureus e estoicos. Quando lhes falou de Jesus e da ressurreição, eles perguntaram: “O que esse tagarela está querendo dizer?”. Outros disseram: “Parece estar falando de deuses estrangeiros”. 19Então levaram Paulo ao conselho da cidade [ao Areópago] e disseram: “Pode nos dizer que novo ensino é esse? 20Você diz coisas um tanto estranhas, e queremos saber o que significam”. 21(Convém explicar que os atenienses, bem como os estrangeiros que viviam em Atenas, pareciam não fazer outra coisa senão discutir as últimas novidades.)
Como muitos em nossa época, os atenienses adoravam “as últimas novidades” (v. 21). O problema é que eles não precisavam de novas ideias; eles precisavam de nova vida! Desde sempre, as pessoas adoram saber das últimas notícias, ouvir novas músicas, ver novos filmes, comprar os mais novos estilos de roupas e fazer novas descobertas. — E desfrutar de coisas novas não é necessariamente errado. — O problema, no entanto, é que essas coisas não são a salvação e algumas coisas vitais são imutáveis.
O EVANGELHO É UMA MENSAGEM ANTIGA E IMUTÁVEL; ele não pode ser editado, expandido ou atualizado. Li, por exemplo, sobre um homem da Universidade de Manchester que obteve seu doutorado em Novo Testamento com a tese de que Jesus foi o fundador de um culto no qual as pessoas adoravam a imagem do órgão reprodutor masculino feito de cogumelos. Absurdo! Aparentemente, o doutorando achou uma boa ideia dar uma nova reviravolta no evangelho. Entretanto, sobre isso, R. C. Sproul comentou sabiamente: “Isso é novidade, mas também é ridículo”. O novo ignorou o verdadeiro. Portanto, tome cuidado ao enfatizar demais as novidades. Lembre-se de que o evangelho é a antiga, a velha e a única história que tem o poder de dar nova vida às pessoas. Se o mudarmos, nós destruímos o evangelho – e será vã, inútil a nossa fé (cf. 1Co 15.1-3).
Paulo foi conduzido a pregar sua “novidade”, mas ele anunciou o velho, imutável, bom e poderoso evangelho de Jesus Cristo. — Como ele o fez? Como Paulo o pregou?
Paulo estabeleceu contato na pregação
Atos 17.22-23 22Então Paulo se levantou diante do conselho e assim se dirigiu a seus membros: “Homens de Atenas, vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, 23pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo.
PREGANDO AOS JUDEUS, os quais conheciam a Bíblia, Paulo sempre começava com a Bíblia, com os temas da teologia bíblica que eram muito comuns aos judeus. Só que, PREGANDO AOS GENTIOS, àqueles que não conheciam Deus nem a Bíblia, Paulo estabelecia outro tipo de contato: o apóstolo buscava algo que fosse de algum modo caro aos seus ouvintes. No caso em tela, o que saltou aos olhos de Paulo foi a religiosidade dos atenienses. Não é que Paulo estivesse os bajulando ou mesmo afirmando a religiosidade cultivada em Atenas, mas que em face de uma cidade inundada de altares a deuses e ídolos, certamente que lá havia pessoas interessadas em religião.
Paulo partiu deste tema: religiosidade. Paulo estabeleceu um ponto de contato. Paulo identificou o interesse religioso dos atenienses. E pregou a partir deste ponto: versículo 23 — “enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo.” Foi esse o ponto de contato de Paulo para anunciar o Deus que eles desconheciam. — Ora, Deus até poderia ser para eles desconhecido, mas Deus não é incognoscível, Deus não se esconde das pessoas para que não possa ser por elas conhecido; Deus se faz conhecido; Deus se revela:
Romanos 1.19-20 19Sabem a verdade a respeito de Deus, pois ele a tornou evidente. 20Por meio de tudo que ele fez desde a criação do mundo, podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Portanto, não têm desculpa alguma.
Paulo [1.]. foi conduzido a pregar e [2.] estabeleceu contato na pregação para chegar ao ponto de apresentar aos seus ouvintes o conhecimento de Deus. Como é importante para o cristão, nesta era praticamente pós-cristã, absolutamente iletrada no que diz respeito à Bíblia… como é importante para o cristão saber fazer a interpretação da cultura e estabelecer pontos de contato para a pregação do evangelho!
Meu povo, uma coisa é pregar para quem, de algum modo já conhece a Bíblia, outra coisa é pregar para quem não conhece a Bíblia. Paulo em Atenas pregou para quem não conhecia a Bíblia, e por isso procurou algum ponto de contato para a exposição do evangelho da glória e da graça de Deus em Cristo.
Seria interessante especular o que Paulo poderia ter pregado nas universidades modernas. Podemos, por exemplo, imaginá-lo dizendo algo mais ou menos assim [como bem contextualizou o Dr. Derek Thomas]:
Homens e mulheres da universidade, vejo que em todos os sentidos vocês são muito religiosos. Enquanto caminhava pela universidade, observei cuidadosamente seus objetos de adoração. Eu vi seu altar chamado ginásio onde muitos de vocês adoram a divindade dos esportes. Eu vi o prédio da ciência onde muitos depositam sua fé para a salvação da humanidade. Encontrei um altar para as belas artes onde a expressão artística e a performance parecem reinar supremas sem subserviência a qualquer poder maior. Eu andei pelo campus universitário e observei seus pôsteres de deusas do sexo e pirâmides de latas de cerveja sob a fumaça de seus incensos de maconha e de tabaco. No entanto, enquanto caminhava com alguns de vocês e via o vazio em seus olhos e sentia a dor no seu coração, percebi que no seu íntimo há outro altar, um altar “Ao Deus Desconhecido” que vocês suspeitam existir e estar lá nalgum lugar. Você tem a sensação de que há algo mais do que esses deuses humanistas e auto-indulgentes. Esse Deus por quem você anseia como alguém desconhecido, é quem almejo anunciar a você.
Paulo estabeleceu contato na pregação, somente então comunicou sua mensagem. É o que passaremos a examinar a seguir.
S.D.G. L.B.Peixoto
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