03.02.2019
A VERDADE DÓI, MAS LIBERTA!
João 8.31-59
31Jesus disse aos judeus que creram nele: “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos. 32Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”. 33“Mas somos descendentes de Abraão”, disseram eles. “Nunca fomos escravos de ninguém. O que quer dizer com ‘Vocês serão libertos’?” 34Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: todo o que peca é escravo do pecado. 35O escravo não é membro permanente da família, mas o filho faz parte da família, para sempre. 36Portanto, se o Filho os libertar, vocês serão livres de fato. 37Sim, eu sei que vocês são descendentes de Abraão. E, no entanto, procuram me matar, pois não há lugar em seu coração para a minha mensagem. 38Eu lhes digo o que vi quando estava com meu Pai, mas vocês seguem o conselho do pai de vocês”. 39“Nosso pai é Abraão!”, declararam eles. Jesus respondeu: “Se vocês fossem, de fato, filhos de Abraão, seguiriam o exemplo dele. 40Em vez disso, procuram me matar porque eu lhes disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão nunca fez isso. 41Vocês estão imitando seu verdadeiro pai”. “Não somos filhos ilegítimos!”, retrucaram. “O próprio Deus é nosso verdadeiro Pai!” 42Jesus lhes disse: “Se Deus fosse seu Pai, vocês me amariam, porque eu venho até vocês da parte de Deus. Não estou aqui por minha própria conta, mas ele me enviou. 43Por que vocês não entendem o que eu digo? É porque nem sequer conseguem me ouvir! 44Pois são filhos de seu pai, o diabo, e gostam de fazer as coisas perversas que ele deseja. Ele foi assassino desde o princípio. Sempre odiou a verdade, pois não há verdade alguma nele. Quando ele mente, age de acordo com seu caráter, pois é mentiroso e pai da mentira. 45Portanto, quando eu digo a verdade, é natural que não creiam em mim! 46Qual de vocês pode me acusar de pecado? E, uma vez que lhes digo a verdade, por que não creem em mim?47Quem pertence a Deus ouve as palavras de Deus. Mas vocês não ouvem, pois não pertencem a Deus”. 48“Samaritano endemoninhado!”, responderam os líderes judeus. “Não temos dito desde o início que está possuído por demônio?” 49“Não tenho em mim demônio algum”, disse Jesus. “Pelo contrário, honro meu Pai, e vocês me desonram. 50Eu não procuro minha própria glória; há quem a procure para mim, e ele é o Juiz. 51Eu lhes digo a verdade: quem obedecer a meu ensino jamais morrerá!” 52Os líderes judeus disseram: “Agora sabemos que você está possuído por demônio. Até Abraão e os profetas morreram, mas você diz: ‘Quem obedecer a meu ensino jamais morrerá!’. 53Por acaso você é maior que nosso pai Abraão? Ele morreu, assim como os profetas. Quem você pensa que é?”. 54Jesus respondeu: “Se eu quisesse glória para mim mesmo, essa glória não contaria. Mas é meu Pai quem me glorifica. Vocês dizem: ‘Ele é nosso Deus’, 55mas nem o conhecem. Eu o conheço. Se eu dissesse que não o conheço, seria tão mentiroso quanto vocês! Mas eu o conheço e lhe obedeço. 56Seu pai Abraão exultou com a expectativa da minha vinda. Ele a viu e se alegrou”.
57Os líderes judeus disseram: “Você não tem nem cinquenta anos. Como pode dizer que viu Abraão?”. 58Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, EU SOU!”. 59Então apanharam pedras para atirar em Jesus, mas ele se ocultou deles e saiu do templo.
TRISTEZA QUE TRANSFORMA
Você já se deu conta de como nós somos propensos a mentir, omitir, aumentar, inventar, distorcer, dizer meias-verdades ou até mesmo fazer elogios descabidos para não sermos prejudicados nem ficarmos mau com as pessoas? O que prevalece, tanto na sociedade como na maioria de nossos relacionamentos, é a ética do politicamente correto. Para não perder o amigo — entristecendo-o, desagradando-o, provocando-o, ferindo-o, machucando-o ou ofendendo-o, a gente acaba comprometendo a verdade.
Por exemplo: nósrimos como se estivesse tudo bemcom a piada indecente que alguém conta na roda ou dispara no grupo do WhatsApp; nós dizemos: “Nossa, você não mudou nada!” (quando, na verdade, a pessoa envelheceu, está mais gorda, os cabelos ficaram brandos); nós não exortamos em amoro amigo que escolheu trilhar um caminho de morte ou resolveu falar mau de alguém perto da gente; nós fazemos de contaque está tudo bem ou que não sabemos de nada quando a coisa aperta na família; etc. Por essas e outras é que se percebe que o que move as pessoas, geralmente, é a ética do politicamente correto.
Sabemos que a verdade dói e pode nos colocar em situações difíceis e até nos fazer perder amigos ou privilégios. Mas se a verdade não doer, produzindo em nós arrependimento, fé, esperança e transformação, de que terá valido nosso testemunho cristão, mesmo que mantendo amigos e privilégios? Paulo, o apóstolo, tem uma palavra boa sobre isto. Escrevendo aos coríntios, na sua segunda carta, ele anotou (2Co 7.8-10):
8Não me arrependo de ter enviado aquela carta severa, embora a princípio tenha lamentado a dor que ela lhes causou, ainda que por algum tempo.9Agora, porém, alegro-me por tê-la enviado, não pela tristeza que causou, mas porque a dor os levou ao arrependimento. Foi o tipo de tristeza que Deus espera de seu povo, portanto não lhes causamos mal algum. 10Porque a tristeza que é da vontade de Deus conduz ao arrependimento e resulta em salvação. Não é uma tristeza que causa remorso. Mas a tristeza do mundo resulta em morte.
Percebeu? Somos chamados para, se preciso for, causar um tipo de tristeza dolorosa que produza arrependimento e gere transformação. Tudo isso com graça e verdade. Confrontando o pecado e comunicando o caminho, a verdade e a vida que há em Jesus.
Outra coisa. É desse tipo de amigo que eu e você precisamos. Amigos que só dizem o que queremos ou gostamos de ouvir, pessoas que, se preciso for, não nos “entristecem” nem nos “causam” dor, exortando-nos e guiando-nos, graciosamente, pelo caminho do arrependimento e da confissão do pecado a Deus e da transformação pela Palavra empoderada pelo Espírito Santo… gente assim pode até servir como colega, mas não poderá ser o tipo de amigoque precisamos por perto, perto da gente e do coração.
E ainda. Igrejas ou pastores que não levam a sério a exortação, o estímulo e o encorajamento pela palavra de Deus centrada no evangelho de Cristo — no púlpito, nos pequenos grupos e nas conversas entre irmãos — não são o melhor que devemos procurar para a nossa vida. Dessa forma, é lamentável quando alguém, ao ser de alguma forma confrontado, exortado e encorajado a mudar, afasta-se ou decide sair e mudar de igreja, simplesmente porque não gostou e não quer ser contrariado.
Todos nós, eu e você, precisamos de irmãos, amigos e igreja que ajam nos moldes do que Paulo escreveu aos gálatas (Gl 6.1-3):
1Irmãos, se alguém for vencido por algum pecado, vocês que são guiados pelo Espírito devem, com mansidão, ajudá-lo a voltar ao caminho certo[restaurá-lo; remendá-lo; costurá-lo]. E cada um cuide para não ser tentado. 2Ajudem a levar os fardos uns dos outros e obedeçam, desse modo, à lei de Cristo[a lei de Cristo = amor que se traduz em ajuda e socorro ao próximo, ao irmão]. 3Se vocês se consideram importantes demais para ajudar os outros, estão apenas enganando a si mesmos.
Ao buscarmos ajudar o irmão, devemos agir de acordo com as diretrizes do que o apóstolo Paulo escreveu ao seu discípulo Timóteo (2Tm 2.23-26):
23Digo mais uma vez: não se envolva em discussões tolas e ignorantes que só servem para gerar brigas. 24O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente. 25Instrua com mansidão aqueles que se opõem, na esperança de que Deus os leve ao arrependimento e, assim, conheçam a verdade. 26Então voltarão ao perfeito juízo e escaparão da armadilha do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer.
Esse é o tipo de crente, irmão, amigo, pastor e igreja que precisamos ser. As pessoas e o mundo ao nosso redor estão, desesperadamente, precisando de gente que não seja politicamente correta, mas que, cheia de graça e verdade, viva para dizer a verdade de Deus, no poder do Espírito de Deus, fundamentada na palavra de Deus. Mesmo que gere tristeza, afinal, como disse Paulo, “a tristeza que é da vontade de Deus conduz ao arrependimento e resulta em salvação” (2Co 7.10).
CRENTES SÃO OS QUE CRESCEM NA GRAÇA
Veja o caso de Jesus no texto de João que lemos no início.
Depois de um longo debate, de um desgastante e perigoso debate com os fariseus — o que quase lhe custou a liberdade e a vida (Jo 8.20), Jesus obteve, aparentemente, algum êxito. João 8.30 relata que “Muitos que o ouviram dizer essas coisas creramnele”.
É provável que muitos de nós pararia por aí, dizendo: “Ótimo! Veja quantas decisões por Cristo! Quantas mãos levantadas! Quanta gente respondendo ao apelo do pastor! Quantos batismos!”. Aliás, é assim que muitos crentes e igrejas se comportam: Houve alguma profissão de fé, então, pronto. Foi batizado, então, acabou. Missão cumprida. Glória a Deus! Jesus, porém, não vê assim. Ouça o nosso texto (Jo 8.30-31):
30Muitos que o ouviram dizer essas coisas creram nele. 31Jesus disse aos judeus que creramnele: “Vocês são verdadeiramentemeus discípulos sepermanecerem fiéis a meus ensinamentos. 32Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
Aprendemos com Jesus que decisões e profissões públicas de fé, seguidas de batismos, são importantes, mas não são tudo. Aliás, ouça o que ele realmente disse na grande comissão registrada por Mateus (28.19-20):
19Portanto, vão e façam discípulosde todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20Ensinem esses novos discípulos a obedecerema todas as ordens que eu lhes dei.
Verdadeiros discípulos, crentes de verdade, são os que ouviram o evangelho, creram em Jesus para a salvação — somente em Jesus, na vida e na obra de Jesus. Em seguida, professaram publicamente sua fé em Cristo e foram batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas não pararam por aí. Esses homens e mulheres de Deus, se são verdadeiramente discípulos de Jesus, irão muito além da profissão de fé e do batismo. Permanecerão na Palavra. Permanecerão fieis aos ensinamentos de Jesus. Prosseguirão aprendendo, vivendo e obedecendo a todas as coisas que o Senhor nos ordenou em sua Palavra.
Portanto, crente, não se contente apenas com sua profissão de fé e batismo, saiba que não basta ter seu nome no rol de membros da igreja e um dia ter sido assíduo e participado em muitas coisas na igreja (geralmente, quando tudo lhe era conveniente ou seus pais conseguiam trazê-lo), pois por mais importantes que essas coisas sejam (e são), o Senhor a todos nós traz uma séria advertência. Ouçam-no mais uma vez (Jo 8.31-32):
31Jesus disse aos judeus que creramnele: “Vocês são verdadeiramentemeus discípulos sepermaneceremfiéis a meus ensinamentos.32Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
Crentes são aqueles que crescem na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pe 3.18). E na medida em que crescem, eles vão sendo libertos da escravidão do mundo, da inclinação pecaminosa do coração e também do diabo. Crentes são os que crescem na graça. É Jesus quem está dizendo isto. A verdade dói, mas liberta.
FÉ QUE NÃO É FÉ SALVADORA
Graças a Deus que Jesus Cristo não é politicamente correto. Graças a Deus que o Senhor se guia pela verdade, doa a quem doer. Sim, ele, Jesus, é cheio de graça, mas também é cheio de verdade. Em Jesus, graça e verdade andam de mãos dadas. São indissolúveis. Deve ser assim também conosco.
Neste texto de João (8.31-59), Jesus está tratando de um dos problemas mais comuns de todos os tempos, mas que em nossos dias, assim como era com os fariseus, parece ter se tornado uma praga: fé que não é fé salvadora. E se Jesus fosse politicamente correto, teria deixado aqueles religiosos cheios de fé, mas sem fé salvadora, mortos e perdidos para sempre em seus pecados, e nós também prosseguiríamos condenados.
No texto, Jesus fala de um tipo de discípulo que não éverdadeiramente discípulo. Havia gente assim que o seguia, tanto naquela multidão, que disse ter crido nele (Jo 8.30) como no corpo apostólico, onde todos foram escolhidos pelo próprio Jesus para servirem na missão de espalhar o evangelho (Judas Iscariotes, o filho da perdição — Jo 17.12).
Portanto, veja, não é discípulo porque alguém tenha professado publicamente a fé, tenha sido batizado, tenha se integrado à igreja e até tenha servido em posição de liderança ou de destaque (Judas Iscariotes era o tesoureiro dos apóstolos – Jo 13.29). Deixemos Jesus, mais uma vez, nos dizer quem são os verdadeirosdiscípulos (Jo 8.31-32):
31Jesus disse aos judeus que creramnele: “Vocês são verdadeiramentemeus discípulos sepermaneceremfiéis a meus ensinamentos.32Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
Como é importante que o Evangelho de João nos traga com destaque essa preocupação recorrente de Jesus com aqueles que dizem ter fé, mas não fé salvadora! O Senhor Jesus já havia demonstrado sua preocupação com as falsas expressões de fé (os falsos crentes) lá atrás, antes da história do encontro dele com Nicodemus (Jo 3). Ouça o que temos no final do capítulo 2 (Jo 2.23-25):
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
Fé salvadora é a que abraça Jesus como águaque satisfaz a sede da alma, ou pãoque mata a fome do coração, ou como a única verdadepara ser crida e vivida, ou como luzpara o caminho (em vez de buscar a luz do coração, da cultura e da aclamação das pessoas). Fé que não é fé salvadora crê em Jesus e segue Jesus, mas apenaspor causa da esperança de algum benefício terreno — coerência, amizade, realização pessoal (da mesma forma que qualquer ONG ou entidade filantrópica poderia promover), enriquecimento, saúde, melhoria de vida, etc. Diferenciando entre fé e fé salvadora, Jesus disse assim (Jo 6):
26Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: vocês querem estar comigonão porque entenderam os sinais [os sinais apontam para a minha divindade], mas porque lhes dei alimento. […] 35Jesus respondeu: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome. Quem crê em mim nunca mais terá sede. 36Mas vocês não creram em mim, embora me tenham visto.
Fé salvadora é a que abraça Jesus como Senhor, Salvador e o único capaz de nos saciar (água e pão), dirigir (caminho), orientar (verdade) e nos fazer viver (vida). E a prova de que alguém tenha abraçado a fé salvadora, de que se é verdadeiramente discípulo, é que a pessoa permanece na palavra de Deus, cresce no seu conhecimento da palavra de Deus e vai se libertando progressivamente dos pecados, tornando-se parecido, cada vez mais parecido com Jesus Cristo. Não é este o caso dos falsos discípulos.
A FONTE E O FRUTO DA FÉ QUE NÃO É FÉ SALVADORA
A fonte da fé salvadora nós já destacamos: Jesus Cristo, a palavra de Deus que nos aponta para Jesus Cristo. Vimos também que essa fé salvadora nos transforma, nos liberta do pecado e de nós mesmos, tornando-nos em pessoas que (a exemplo de Jesus) amam e se entregam pelo próximo, visando a glória de Deus. Veremos, agora, o fruto da fé que não é fé salvadora e a fonte de onde ela bebe para sobreviver.
Vejamos, primeiro, o fruto da fé que não é fé salvadora.
Ao longo do capítulo 8 de João, os fariseus foram crescendo em maldade. Esse, portanto, é o fruto da fé que não é fé salvadora: a pessoa cresce e se aperfeiçoa em maldade. O fruto da fé salvadora é o amor e as boas obras. O fruto da fé que não é salvadora é orgulho e ódio em rampante escalada. Observe.
Primeiro, os falsos crentes tentaram invalidar a mensagemde Jesus (foi o que vimos na semana passada). Ouça o que eles disseram (v. 13):
Os fariseus disseram: “Você faz essas declarações a respeito de si mesmo! Seu testemunho não é válido”.
Depois, eles partiram para a ofensa pessoal. Jesus afirmou uma coisa e eles partiram para a difamação(vs. 18-19):
18Eu sou uma testemunha, e meu Pai, que me enviou, é a outra”. 19“Onde está seu Pai?”, perguntaram eles.
Não conseguindo calar Jesus, eles armaram para prendê-lo, mas tiveram seus planos frustrados pela providência soberana de Deus (v. 20):
Jesus fez essas declarações enquanto ensinava na parte do templo onde eram colocadas as ofertas. No entanto, não foi preso, pois ainda não havia chegado sua hora.
Jesus, em amor, cheio de graça e verdade, não se intimidou, mas prosseguiu anunciando a mensagem de Deus. Os falsos crentes, por sua vez, procuravam contradizê-lo, zombavam, blasfemavam, insultavam e o tratavam sarcasticamente (vs. 22, 25, 48, 53 e 57):
22Os judeus perguntaram: “Será que ele está planejando cometer suicídio? A que ele se refere quando diz: ‘Não podem ir para onde eu vou’?”. […] 25“Quem é você?”, perguntaram eles. […] 48“Samaritano endemoninhado!”, responderam os líderes judeus. “Não temos dito desde o início que está possuído por demônio?” […] 53Por acaso você é maior que nosso pai Abraão? Ele morreu, assim como os profetas. Quem você pensa que é?”. […] 57Os líderes judeus disseram: “Você não tem nem cinquenta anos. Como pode dizer que viu Abraão?”.
Por fim, não conseguindo calar o Senhor, partiram para a violência (v. 59):
Então apanharam pedras para atirar em Jesus, mas ele se ocultou deles e saiu do templo.
Esse é o fruto de vida daqueles que dizem ter fé, mas uma fé que não é a fé salvadora. Em vez de contrição, arrependimento e confissão de pecado; em vez de crescer em graça, amor, boas obras e novidade de vida, crescem na arte da maldade: desqualificando os outros, difamando, ofendendo, levantando falso testemunho, zombando, blasfemando e até agindo com violência (seja física ou verbal). É pelo fruto que nós conheceremos se alguém tem fé salvadora, se alguém é verdadeiramente discípulo de Jesus, se a pessoa é crente de verdade.
Mateus, relatando um dos incidentes no qual Jesus ouviu a blasfêmia dos fariseus, registrou o seguinte trecho da mensagem do Senhor (Mt 12.33-35):
33“Uma árvore é identificada por seus frutos. Se a árvore é boa, os frutos serão bons. Se a árvore é ruim, os frutos serão ruins. 34Raça de víboras! Como poderiam homens maus como vocês dizero que é bom e correto? Pois a boca fala do que o coração está cheio. 35A pessoa boa tira coisas boas do tesouro de um coração bom, e a pessoa má tira coisas más do tesouro de um coração mau.
É pelo fruto que conhecemos se a fé é fé salvadora ou falsa fé. Palavras, posturas e postsrevelam mais do nosso coração do que gostaríamos de admitir. São frutos..
Pois bem, se o fruto da fé fingida dos fariseus era o que acabamos de examinar, a pergunta agora é: Em que fonte eles bebiam?De que eles alimentavam a fé que não é fé salvadora? É o que passaremos a examinar.
Autojustificação – a fé que não é fé salvadora bebe do eu
A primeira ferida que Jesus toca é muito dolorosa. É a ferida da autojustificação. Os fariseus se alimentavam de autojustificação: autojustificação étnica, religiosa e moral.
Cuidado, muito cuidado neste ponto! Não pense que este era e é um problema apenas de judeus. Este é um problema de todo e qualquer ser humano cuja fé não é fé salvadora (e aqui os fariseus servem como ótimo exemplo): a pessoa se autojustifica, lançando mão de algum privilégio, seja ele étnico(raça superior), religioso(cumpridor de seus votos, penitências ou deveres) ou moral(padrão superior de conduta).
Ouçam as palavras do autojustificador (Jo 8.33-38):
33“Mas somos descendentes de Abraão”, disseram eles. “Nunca fomos escravos de ninguém. O que quer dizer com ‘Vocês serão libertos’?” 34Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: todo o que peca é escravo do pecado. 35O escravo não é membro permanente da família, mas o filho faz parte da família, para sempre. 36Portanto, se o Filho os libertar, vocês serão livres de fato. 37Sim, eu sei que vocês são descendentes de Abraão. E, no entanto, procuram me matar, pois não há lugar em seu coração para a minha mensagem. 38Eu lhes digo o que vi quando estava com meu Pai, mas vocês seguem o conselho do pai de vocês”.
O que torna alguém um filho de Abraão não é a etnia, a religiosidade ou mesmo a moralidade, mas fé, fé somente, fé no Filho de Deus.
Romanos 2.28-29 |28Pois ser judeu exteriormente ou ser circuncidado não torna ninguém judeu de fato. 29Judeu verdadeiro é quem o é no íntimo, e circuncisão verdadeira é a do coração, feita pelo Espírito, e não pela letra da lei, recebendo assim a aprovação de Deus, e não das pessoas.
Gálatas 3.5-7 |5Volto a perguntar: acaso aquele que lhes deu o Espírito e realizou milagres entre vocês agiu assim porque vocês obedeceram à lei ou porque creramna mensagem que ouviram? 6Da mesma forma, “Abraão creu em Deus, e assim foi considerado justo”. 7Logo, os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que creem.
Cristo é quem nos justifica. Não é a circuncisão, o batismo ou qualquer outro sinal ou ritual religioso. É pela fé somente que nós nos apropriamos da obra de Cristo (fé que é dom de Deus). É pela fé que nós somos justificados e recebemos perdão e salvação. Mas a fé que não é fé salvadora se alimenta de autojustificação e não da obra de Cristo.
Escravidão – a fé que não é fé salvadora bebe do diabo
O fariseus se achavam livres, viam-se como filhos de Deus, descendentes legítimos de Abraão. Mas na verdade eles eram escravos, eram filhos do diabo e estavam condenados à perdição eterna no inferno. A seguir, ouviremos as duras verdades de Jesus. E lembrem-se: A verdade dói, mas liberta!
Porém, antes que alguém queira nos acusar de anti-semitas ou acusar o Evangelho de João, especialmente este capítulo 8, de anti-semita — por chamar os judeus fariseus de filhos do diabo (leremos a seguir), lembre-se de algo muito importante. Paulo ensina claramente que todo mundo, todo e qualquer descrente, qualquer pessoa que ainda não creu em Jesus, está sob a influência do diabo. Aos coríntios, ele falou assim (2Co 4.4):
O deus deste mundo cegou a mente dos que não creem, para que não consigamver a luz das boas-novas, não entendendo esta mensagem a respeito da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.
Aos efésios, ele pegou ainda mais pesado, e afirmou o que segue (Ef 2.1-3):
1Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, 2nos quais costumavam viver, como o resto do mundo, obedecendo ao comandante dos poderes do mundo invisível. Ele é o espírito que opera no coração dos que se recusam a obedecer. 3Todos nós [judeus e gentios] vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais.
O Novo Testamento como um todo, não apenas o Evangelho de João, vê na contínua resistência que as pessoas fazem a Jesus, seja a pessoa um judeus ou um gentio, uma condição de morte e cegueira espiritual, fruto do pecado e da obra de Satanás. O ser humano sem Cristo é escravo, escravo do mundo, da carne e do diabo.
O que produz em nós essa escravidão?
A escravidão do pecado e do diabo e do mundo, que a todos seduz e escraviza, impede o descrente de amar Jesus (Jo 8.42), de ouvir e entender a palavra de Deus que aponta para e revela Jesus (Jo 8.43 e 46-47), de viver e praticar o amor encarnado em Jesus (v. 44) e de crer em Jesus para a salvação (v. 45). Ouçam (Jo 8.39-47):
39“Nosso pai é Abraão!”, declararam eles. Jesus respondeu: “Se vocês fossem, de fato, filhos de Abraão, seguiriam o exemplo dele [crer de uma forma que produza amor]. 40Em vez disso, procuram me matar porque eu lhes disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão nunca fez isso. 41Vocês estão imitando seu verdadeiro pai”. “Não somos filhos ilegítimos!”, retrucaram. “O próprio Deus é nosso verdadeiro Pai!” 42Jesus lhes disse: “Se Deus fosse seu Pai, vocês me amariam, porque eu venho até vocês da parte de Deus. Não estou aqui por minha própria conta, mas ele me enviou. 43Por que vocês não entendem o que eu digo? É porque nem sequer conseguem me ouvir! 44Pois são filhos de seu pai, o diabo, e gostam de fazer as coisas perversas que ele deseja. Ele foi assassino desde o princípio. Sempre odiou a verdade, pois não há verdade alguma nele. Quando ele mente, age de acordo com seu caráter, pois é mentiroso e pai da mentira. 45Portanto, quando eu digo a verdade, é natural que não creiam em mim! 46Qual de vocês pode me acusar de pecado? E, uma vez que lhes digo a verdade, por que não creem em mim?47Quem pertence a Deus ouve as palavras de Deus. Mas vocês não ouvem, pois não pertencem a Deus”.
Vimos a autojustificação, a escravidãoe agora veremos outro problema, outra fonte da fé que não é fé salvadora: a destruição.
Destruição – a fé que não é fé salvadora bebe do ódio
Em vez de se arrependerem, confessarem seu pecado e buscarem poder para viver em novidade de vida, os fariseus, cheios de si e escravos do diabo, agiram com ódio, procurando a destruição de Jesus. Ouçam:
48“Samaritano endemoninhado!”, responderam os líderes judeus. “Não temos dito desde o início que está possuído por demônio?” 49“Não tenho em mim demônio algum”, disse Jesus. “Pelo contrário, honro meu Pai, e vocês me desonram. 50Eu não procuro minha própria glória; há quem a procure para mim, e ele é o Juiz. 51Eu lhes digo a verdade: quem obedecer a meu ensino jamais morrerá!” 52Os líderes judeus disseram: “Agora sabemos que você está possuído por demônio. Até Abraão e os profetas morreram, mas você diz: ‘Quem obedecer a meu ensino jamais morrerá!’. 53Por acaso você é maior que nosso pai Abraão? Ele morreu, assim como os profetas. Quem você pensa que é?”. 54Jesus respondeu: “Se eu quisesse glória para mim mesmo, essa glória não contaria. Mas é meu Pai quem me glorifica. Vocês dizem: ‘Ele é nosso Deus’, 55mas nem o conhecem. Eu o conheço. Se eu dissesse que não o conheço, seria tão mentiroso quanto vocês! Mas eu o conheço e lhe obedeço. 56Seu pai Abraão exultou com a expectativa da minha vinda. Ele a viu e se alegrou”. 57Os líderes judeus disseram: “Você não tem nem cinquenta anos. Como pode dizer que viu Abraão?”. 58Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, EU SOU!”. 59Então apanharam pedras para atirar em Jesus, mas ele se ocultou deles e saiu do templo.
A VERDADE DÓI, MAS LIBERTA!
Deus permitindo, voltaremos a esse texto de João em três outras ocasiões. Ainda precisamos estudar 1- o significado de “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos”(Jo 8.31), 2- o significado de “conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”(Jo 8.30-36) e 3- o significado de “quem obedecer a meu ensino jamais morrerá”(Jo 8.51).
Hoje pararemos por aqui. Tivemos uma visão geral de João 8.31-59. Vimos que a verdade dói, mas liberta. Afirmamos que o problema da humanidade sem Cristo é que ela está morta em seus pecados, é escrava do príncipe das trevas e se alimenta de autojustificativas (étnica, religiosa e moral). E todos nós assistimos, passivos, as pessoas destruírem ou se autodestruirem com palavras, posturas e perseguições.
O caos impera. E nós vamos tentando viver como dá. Falamos em tolerância. Pregamos a tolerância. Lamentável, no entanto, é que aqueles que mais pregam tolerância são os que mais agem com intolerância, ódio e perseguição.
Precisamos da verdade, da verdade que liberta. Precisamos de Jesus. Precisamos do tipo de discípulosque o evangelho de Jesus produz: gente cheia de fé, esperança e amor; gente que fala a verdade em amor; gente que sabe que a verdade dói, mas liberta; gente que crê, vive e prega o evangelho de Jesus Cristo.
Chega de autojustificação. Clame por libertação. Abandone as armas da destruição. Arrependa-se. Venha para Jesus. Permaneça em Jesus. Conheça a verdade. E a verdade te libertará. A verdade dói, mas liberta!
S.D.G.L. B.Peixoto
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