05.03.2023
[Gênesis 1.1—2.4] 1No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas. 3Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. 4E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. 5Deus chamou a luz de “dia” e a escuridão de “noite”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia. 6Então Deus disse: “Haja um espaço entre as águas, para separar as águas dos céus das águas da terra”. 7E assim aconteceu. Deus criou [fez] um espaço para separar as águas da terra das águas dos céus. 8Deus chamou o espaço de “céu”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o segundo dia. 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom. 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 13A noite passou e veio a manhã, encerrando o terceiro dia. 14Então Deus disse: “Haja luzes no céu para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos. 15Que essas luzes brilhem no céu para iluminar a terra”. E assim aconteceu. 16Deus criou [fez] duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite, e criou [fez] também as estrelas. 17Deus colocou essas luzes no céu para iluminar a terra, 18para governar o dia e a noite e para separar a luz da escuridão. E Deus viu que isso era bom. 19A noite passou e veio a manhã, encerrando o quarto dia. 20então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos, e voem as aves no céu acima da terra”. 21Assim, Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22Então Deus os abençoou: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. 23A noite passou e veio a manhã, encerrando o quinto dia. 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou [fez] grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia. 2.1Desse modo, completou-se a criação dos céus e da terra e de tudo que neles há. 2No sétimo dia, Deus havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho. 3Deus abençoou o sétimo dia e o declarou santo, pois foi o dia em que ele descansou de toda a sua obra de criação. 4Esse é o relato da criação dos céus e da terra.
O texto que acabamos de ler é nada menos que a história primeira de todas as histórias — é a história das histórias —, é o relato inspirado por Deus mesmo que traz a revelação mesma de quem criou e de como foram criadas todas as coisas; o que temos aqui não é uma narrativa mítica ou poética, mas a história (na forma de prosa) da admirável criação de Deus. E Moisés, nesta tarefa, inspirado pelo Espírito Santo, foi perfeito; seu cuidado está evidente no arranjo majestoso, na simetria perfeita e no trabalho final – de habilidade tão fina – de sua escrita.
Certamente que não pretendeu fazer um relato exaustivo da criação. É apenas uma página! Também não se dedicou a compor um tratado científico ou acadêmico. Isso não teria sido possível nem praticável. O que Moisés fez foi estampar, não uma fotografia em altíssima resolução da criação, mas uma espécie de impasto ou pinceladas grossas e texturizadas, deixando um efeito escultural da criação de Deus na superfície de sua tela. A narrativa se desenvolve em seis dias ou períodos, culminando com o sétimo, que foi o de descanso do Criador; ou seja: o segundo dia seguiu-se após o primeiro, e assim até ao sétimo – demonstrando desse modo a realidade cronológica da Criação.
Outro fato importante sobre esta história primeva: certamente que os primeiro leitores não a leram ou a ouviram como um mito (o mito dos hebreus). Uma que, como já fora demonstrado, o texto está na forma de prosa, portanto, tratado como histórico. E outra que este documento é também de natureza polêmica – ou seja: visa, dentre outros, a combater mitologias pagãs das nações ou dos povos vizinhos. Com efeito, já foi observado por estudiosos do texto bíblico que cada dia da criação ataca um dos deuses nos panteões pagãos da época e declara que eles não são de fato deuses.
No primeiro dia, os deuses das trevas e da luz são desmascarados. No segundo dia, são destronados os deuses do céu e do mar. No terceiro dia, os deuses da terra e os deuses da vegetação são contestados. No quarto dia, o sol, a lua, os astros e as estrelas são descartados. Os dias cinco e seis dispensam as ideias de divindade dentro do reino animal. Finalmente, fica claro que os seres humanos ou a humanidade não são divinos, ao mesmo tempo em que ensina que todos, do menor ao maior, são feitos à imagem de Deus. Desse modo, a realidade bíblica – a história da Criação, a admirável criação de Deus – substituiu o mito.
Portanto, Gênesis 1 é história, a história literal do que Deus fez quando criou os céus e a terra. Ele os criou em seis dias (e descansou no sétimo); dias de Deus, dias que podem ser medidos como dias de trabalho de Deus, os quais não são necessariamente idênticos aos nossos, mas análogos. De tudo o que já estudamos nas teorias da criação (as quais terminamos de examinar na semana passada), podemos dizer que estes não se tratam de dias solares como os nossos, mas de dias de Deus (os quais poderiam sim ter levado longos milhares de anos e de eras).
Dentre outros, dissemos ser eras e não dias pelos seguintes: Primeiro que não dá para dizer que os três primeiros dias foram dias solares; afinal, o sol e a lua só apareceram no quarto dia (Gn 1.14-19). Segundo porque a palavra “dia”, aqui mesmo em Gênesis 1.5, também é usada para significar outra coisa que não dias de 24 hora: “Deus chamou a luz de ‘dia’ e a escuridão de ‘noite’”. E terceiro porque o sétimo dia não teve fim; deve-se notar que a frase comum a todos os dias: “A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro… sexto dia” não aparece no sétimo dia; o que se lê no sétimo é o seguinte:
Gênesis 2.1-4 1Desse modo, completou-se a criação dos céus e da terra e de tudo que neles há. 2No sétimo dia, Deus havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho. 3Deus abençoou o sétimo dia e o declarou santo, pois foi o dia em que ele descansou de toda a sua obra de criação. 4Esse é o relato da criação dos céus e da terra.
Com efeito, Deus ainda está no sétimo dia, o dia de descanso. E tem sido assim desde a conclusão do sexto dia da criação do mundo. Significativamente, Jesus disse o seguinte: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17, ARA); e o escritor de Hebreus baseou todo o seu argumento sobre o povo de Deus entrando no descanso de Deus pela fé em Cristo no fato de que Deus ainda está descansando, embora também esteja trabalhando (Hb 4.3-11; Sl 95.11).
A estrutura que Moisés montou para contar como Deus criou o mundo foi a seguinte: Gênesis 1.1 é o cabeçalho, e resume a criação que será descrita em maiores detalhes no restante do primeiro capítulo; Gênesis 1.2-31 é uma expansão do que foi dito em Gênesis 1.1 (é o processo da Criação que pode ter levado milhares e milhares de anos); Gênesis 1.28-30 (o sexto dia) resume a criação do ser humano (que é bem mais jovem do que o universo e a Terra; é do período neolítico: apenas entre 7.000 e 2.500 a.C.), e essa criação do ser humano será descrita com maiores detalhes, será amplificada no capítulo 2; portanto, Gênesis 2.4-25 é uma expansão do que foi dito em Gênesis 1.28-31 (o sexto dia), e serve para destacar o cuidado do Criador com a criatura humana.
Pois bem, sigamos com a visão panorâmica da criação (criacionismo progressivo).
CRIAÇÃO INICIAL (1.1-2). O primeiro versículo de Gênesis nos diz que “Deus criou os céus e a terra”. Não nos diz como Deus criou os céus ou a terra, nem quando; mas que ele CRIOU. Portanto, até poderia ser permitido ver essa afirmação bíblica em termos da teoria predominante do “big bang” (ou dê a isto o nome que desejar); desde que não se tome a matéria como eternamente pré-existente nem que fora entregue a si mesma, mas que fora criada por Deus no princípio e dirigida por ele. Desse modo se teria a criação de tempo, espaço e matéria: Gênesis 1.1 – “No princípio — tempo—, Deus criou os céus — espaço — e a terra — matéria.” Ou seja, pode-se dizer que o universo teve um começo definido na ordem de 13,8 bilhões de anos atrás. Nesse ponto inicial, toda a matéria do universo fora criada e reunida pelo próprio Deus, e pelo Espírito começou a se mover para fora em uma expansão repentina e rápida. Os cientistas estimam que quase todos os elementos teriam sido formados no final da primeira meia hora. À medida que a matéria se expandia, formavam-se galáxias, sistemas solares e corpos de satélites. Nesse período inicial, a Terra estaria bastante quente. A maior parte da água estaria na atmosfera. Consequentemente, teria havido uma pesada camada de nuvens que teria envolto a terra em escuridão impenetrável. À medida que a Terra esfriava, parte da cobertura de nuvens se condensava e caía como chuva, formando assim os oceanos. Os criacionistas progressivos sustentam que esse estado de coisas está bem refletido em Gênesis 1.2, que diz: “A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas”.
O PRIMEIRO DIA (1.3-4). Após Gênesis 1.1-2, o ponto focal da narrativa da criação é a Terra. Portanto, a declaração de Deus em Gênesis 1.3 (“Haja luz”) refere-se ao aparecimento da luz na Terra. Isto significaria que as nuvens que cobriam a Terra já haviam se diluído o suficiente para que a luz do Sol, que brilhava o tempo todo, penetrasse na superfície da Terra. À medida que a Terra girava, já haveria períodos de noite e dia, embora o sol e outros corpos celestes não fossem visíveis. Este é chamado o primeiro dia da criação porque foi o primeiro evento significativo na preparação da terra para habitação do ser humano. Eis o relato de Moisés:
Gênesis 1.3-4 3Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. 4E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. 5Deus chamou a luz de “dia” e a escuridão de “noite”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia.
O SEGUNDO DIA (1.6-8). Neste dia, o processo de resfriamento continuou com o afinamento adicional das nuvens e a separação entre elas e as águas que agora jaziam na terra. Os versículos que narram o segundo dia falam de “firmamento”, “expansão”, ou “espaço” entre “as águas dos céus” e “as águas da terra”. O que é distinto sobre o segundo dia não é tanto a existência da cobertura de nuvens ou a existência das águas que cobriram a terra; estas já existiam. O novo elemento é o aparecimento do firmamento ou da atmosfera, o que chamamos de céu. Isso separou as duas águas que antes estavam juntas. Curiosamente, o pensamento científico atual também vê o desenvolvimento da atmosfera e dos oceanos como um evento bastante recente na história da Terra. Ouça:
Gênesis 1.6-8 6Então Deus disse: “Haja um espaço entre as águas, para separar as águas dos céus das águas da terra”. 7E assim aconteceu. Deus criou um espaço para separar as águas da terra das águas dos céus. 8Deus chamou o espaço de “céu”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o segundo dia.
O TERCEIRO DIA (1.9-13). Este período marca a separação entre as grandes massas de terra e os oceanos, subsequentemente: o aparecimento da vegetação na terra. Presumivelmente, a terra surgiu como resultado de erupções vulcânicas e o ressecamento da crosta terrestre. O salmista descreve assim este processo:
Salmos 104.5-9 5Firmaste o mundo sobre seus alicerces, para que jamais seja abalado. 6Vestiste a terra com torrentes de água, com água que cobriu até os montes. 7Por tua ordem, as águas fugiram; ao som de teu trovão, saíram correndo. 8Montes se ergueram e vales afundaram, ao nível que tu decretaste. 9Estabeleceste um limite para as águas, para que nunca mais cobrissem a terra.
Esses versículos sugerem que a terra apareceu gradualmente, à medida que era drenada a água de sobre a sua cobertura. Este é o relato de Moisés a respeito da primeira parte do terceiro dia:
Gênesis 1.9-10 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom.
Deus, o SENHOR, o grande Lavrador, o Criador, havia então preparado a Terra para a plantação: “E Deus viu que isso era bom”. Moisés continua com os atos do Criador durante o terceiro dia, narrando agora a lavoura de Deus:
Gênesis 1.11-12 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom.
A menção das plantas, particularmente “plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes” (v. 11), cria alguns problemas com a paleobotânica (ciência que estuda os fósseis vegetais). Tanto quanto se sabe, apenas plantas e microorganismos muito simples existiam no início – a saber: ervas marinhas, algas e bactérias – e estes, sobretudo as plantas, estão associados aos oceanos e não à terra. Plantas mais complexas apareceram apenas mais tarde, segundo os achados fósseis. As plantas com sementes mencionadas no Gênesis são encontradas pela primeira vez no período Devoniano (cerca de 400 milhões de anos atrás). As primeiras árvores aparecem no período da Pensilvânia (ou seja, cerca de 320 milhões de anos atrás).
Outra coisa, o relato de Gênesis parece dizer que as plantas (terceiro dia) surgiram antes dos animais (quinto e sexto dia), mas o registro fóssil revela que plantas e animais surgiram simultaneamente. E então, como conciliar essas dificuldades? Pode ser impossível neste estágio do conhecimento humano se dar uma resposta definitiva, mas duas coisas podem ser observadas.
PRIMEIRO, os atos criadores de Deus contidos em Gênesis 1.11 — “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. — não ocorreram necessariamente de uma só vez. Eles podem ter ocorrido progressivamente, durante um período bastante longo (incluindo os dias subsequentes ao terceiro), e neste período e progressivamente as gramíneas podem ter sido criadas primeiro, seguidas de ervas e de árvores frutíferas.
SEGUNDO, a maior parte do registro geológico é derivada de rochas marinhas. Portanto, não fornece necessariamente uma imagem precisa do que pode ou não pode ter existido na terra neste período que a Bíblia chama de “terceiro dia”. Não se espera realmente encontrar fósseis de grandes plantas terrestres em tais leitos – os das rochas marinhas. Com o passar do tempo, pode ser que a ciência encontre luz adicional para melhor se compreender esse período específico do desenvolvimento da Terra. O que se sabe com certeza é que o Deus Criador conduziu com sábia, bondosa e soberana providência esse processo como um todo, produzindo em abundância:
Gênesis 1.9-13 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom. 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 13A noite passou e veio a manhã, encerrando o terceiro dia.
O QUARTO DIA (1.14-19). A luz já alcançava a Terra desde o primeiro dia da criação; foi por meio dessa influência solar que a vegetação criada no terceiro dia pôde ser produzia e prosperar. A questão é que agora, no quarto dia, seguindo o comando de Deus, o céu clareou o suficiente para que os corpos celestes se tornassem visíveis. Não é dito que estes foram criados no quarto dia; eles foram criados na obra criadora inicial de Deus mencionada em Gênesis 1.1. Mas agora, além de iluminar e aquecer (o que já vinha fazendo), sol e lua passaram a funcionar como reguladores do dia e da noite:
Gênesis 1.14-19 14Então Deus disse: “Haja luzes no céu para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos. 15Que essas luzes brilhem no céu para iluminar a terra”. E assim aconteceu. 16Deus criou [fez] duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite, e criou [fez] também as estrelas. 17Deus colocou essas luzes no céu para iluminar a terra, 18para governar o dia e a noite e para separar a luz da escuridão. E Deus viu que isso era bom. 19A noite passou e veio a manhã, encerrando o quarto dia.
O QUINTO DIA (1.20-23). No quinto dia Deus começou a criar seres viventes. O verbo “criar” (bara’) é usado aqui pela primeira vez desde o versículo 1, provavelmente indicando um novo ato de Deus, sem relação com o que havia sido feito anteriormente. Anteriormente, diz-se que Deus “separou”, “fez” e “formou” várias coisas. Diz-se que a própria terra “produziu” vegetação. Mas não é assim com os pássaros e as criaturas marinhas do quinto dia! Estes foram “criados” por Deus e agora começaram a encher a terra que havia sido preparada para recebê-los. Eis o relato de Moisés:
Gênesis 1.20-23 20Então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos, e voem as aves no céu acima da terra”. 21Assim, Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22Então Deus os abençoou: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. 23A noite passou e veio a manhã, encerrando o quinto dia.
Aqui no quinto dia também surgem alguns conflitos entre o relato bíblico e o registro fóssil, mas eles não são esmagadores. James M. Boice, citando Young escreveu:
O fato de muitos animais marinhos invertebrados, como corais e trilobitas, aparecerem no registro fóssil antes das plantas terrestres sugere uma contradição entre o Gênesis e a geologia. Devemos, no entanto, ter em mente a incompletude do registro fóssil dos vegetais e a nossa falta de conhecimento quanto aos limites exatos das categorias descritas nos versículos 20-22 [o quinto dia]. É importante salientar que os principais grupos em vista aqui [no Gênesis], isto é, pássaros, a maioria dos peixes, répteis nadadores como crocodilos ou os extintos mosassauros, répteis voadores como pterodáctilos, focas e baleias, aparecem mais tarde do que a maioria das plantas terrestres no registro fóssil. Em geral, esse é o caso. As aves aparecem pela primeira vez no período Jurássico [entre 195 e 136 milhões de anos atrás], os peixes são bem desenvolvidos a partir do Ordoviciano [entre 500 e 440 milhões de anos atrás], mas proliferam no Terciário [entre 65 e 2,6 milhões de anos atrás], os complexos répteis marinhos e aéreos são Mesozóicos [entre 251 e 66 milhões de anos] e os grandes mamíferos nadadores são Terciários [entre 65 e 2,6 milhões de anos].
Ou seja, Young, como a maioria dos outros criacionistas progressivos, permite alguma sobreposição dos dias da criação. Não havendo, portanto, contradição entre a Bíblia e os achados fósseis.
O SEXTO DIA (1.26-31). Foi aqui no sexto dia que Deus criou os animais terrestres (1.24-25), divididos em três categorias gerais: gado (isto é, animais domesticáveis), criaturas que andam ou rastejam no solo (a referência é a animais como esquilos, coelhos, marmotas e outros pequenos animais do tipo, incluindo, obviamente, os répteis), e animais selvagens (isto é, animais não domesticáveis). É claro que muitas subcategorias de cada uma das três espécies aqui mencionadas estão envolvidas – porque se diz que cada uma se reproduziu de acordo com “suas espécies” (plural, vs. 24-25).
Também no sexto dia, Deus criou o ser humano (1.26-28); foi por último, mas não o menos importante; de fato, era o ápice da criação. Ora, uma vez que se relata que Deus criou separadamente cada uma das categorias de animais, e ainda: conforme as suas espécies, e somente então, separadamente, e ainda: o ser humano criado à imagem e à semelhança do Criador, a possibilidade de macroevolução no reino animal (ou seja: de primatas até ao ponto de se chegar ao ser humano) está absolutamente descartada, segundo as Escrituras Sagradas. Isso não quer dizer que não haja razões para se descartar algum tipo de desenvolvimento ou adaptação ou diferenciação dentro das próprias espécies de animais e mesmo na raça humana (ou seja: microevolução), como, por exemplo, o suposto desenvolvimento da raça dos cavalos, diferentes cores de pele e de altura, etc. Com efeito, a linguagem dos versículos de Gênesis sugere uma pausa entre a criação dos animais e a criação do homem, e pode também ter havido outras pausas (de longos milhares de anos até se chagar ao momento em que Deus mesmo criou Adão e Eva). Veja [note as categorias e as pausas de Deus]:
Gênesis 1.24—2.1 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou [fez] grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom.
26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”.
29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu.
31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
2.1Desse modo, completou-se a criação dos céus e da terra e de tudo que neles há.
A visão dos criacionistas progressivos sobre a criação de Deus é de fato provisória (jamais definitiva, obviamente), pois nem todas as evidências científicas estão disponíveis e até mesmo as que estão disponíveis poderão ser revistas à luz de novas descobertas que vão surgindo. Mas, em termos gerais, é isso que sustenta o ponto de vista da criação progressiva de Deus. Parece sim haver aqui uma harmonia razoável entre a revelação do Gênesis e os registros da geologia e outras disciplinas científicas até o momento.
Agora… Vamos dar um passo atrás e contemplar alguma coisa da perfeição do Criador e o seu propósito último. R. Kent Hughes nos traz alguns detalhes impressionantes:
ARRANJO E CORRESPONDÊNCIA. Uma leitura rápida de Gênesis 1 revela que os seis dias da criação estão perfeitamente divididos, de modo que os primeiros três dias descrevem a preparação da terra e os últimos três, seu preenchimento. No dia 1, a luz; e no dia 4, os luminares do céu. No dia 2, o espaço acima e as águas em baixo; e no dia 5, pássaros e peixes. No dia 3, terra e plantas; e no dia 6, animais e o homem, e alimentação. Tudo perfeitamente arranjado e correspondente. Tanto que os dois conjuntos de dias (1-2-3 e 4-5-6) são a resposta direta e o remédio para a declaração inicial de que a terra era “sem forma e vazia”. A falta de forma da terra foi tratada na sua preparação nos 1-2-3 (luz, espaço, terra), e seu vazio foi preenchido nos dias 4-5-6 (luminares, pássaros e peixes, animais e seres humanos). Foi exatamente assim que aconteceu (foi assim mesmo que tudo veio à existência), e Moisés se esforçou para garantir que seus leitores não perdessem de vista o arranjo e a correspondência de Deus – preparando e preenchendo a terra.
ESTE PRINCÍPIO SE APLICA A NÓS: arranjo e correspondência, preparo e preenchimento, tempo determinado para todas as coisas; e correspondência.
PERFEIÇÃO E SIMETRIA. A estrutura dos dias da criação é baseada em um sistema de harmonia numérica, valendo-se do número sete. Umberto Cassuto, falecido professor da Universidade Hebraica, escreveu que “a obra do Criador, que é marcada pela perfeição absoluta e pela ordem sistemática sem falhas, é distribuída ao longo de sete dias: seis dias de trabalho e um sétimo dia reservado para o gozo da tarefa concluída.” E então ele fez as seguintes observações: As palavras “Deus” (Elohim), “céus” (samayim) e “terra” (eretz), que são os três substantivos do versículo inicial: “No princípio, Deus criou os céus. e a terra”, são repetidos — Deus, céus, terra — no relato da criação em múltiplos de sete, deste modo: “Deus” ocorre 35 vezes (5 x 7), “céus” aparece 21 vezes (3 x 7) e “terra” também 21 vezes (3 x 7). Além disso, no original hebraico, o primeiro verso tem 7 palavras e o segundo, 14 palavras. O sétimo parágrafo (o sétimo dia) tem três sentenças, cada uma com sete palavras, e contém no meio a frase “o sétimo dia”. Cassuto concluiu: “Essa simetria numérica é como se fosse o fio de ouro que une todas as partes da seção e serve como uma prova convincente de sua unidade.” Gênesis 1, portanto, é um texto notável quanto ao seu arranjo, suas correspondências e simetrias e sua perfeição literário-numérica.
CRISTO E A CRIAÇÃO. Inda mais impressionante que arranjo e correspondência, perfeição e simetria, é o modo como o relato da Criação aponta pra o Cristo redentor.
João 1.1-5 1No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2Ele existia no princípio com Deus. 3Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado. 4Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. 5A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la.
Nada foi criado sem Cristo! Paulo também atesta esta verdade: “Para nós, porém, há somente um Deus, o Pai, por meio de quem todas as coisas foram criadas e para quem vivemos. E há somente um Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem todas as coisas foram criadas e por meio de quem recebemos vida.” (1Co 8.6). Todas as coisas vieram, ao mesmo tempo, de Deus Pai e de Deus Filho, o Senhor Jesus Cristo. E novamente Paulo diz de Jesus o seguinte: “Pois, por meio dele [Cristo], todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como na terra, todas as coisas que podemos ver e as que não podemos, como os tronos, reinos, governantes e as autoridades do mundo invisível. Tudo foi criado por meio dele e para ele.” (Cl 1.16). Cristo, o Criador.
Cristo não é apenas a luz, o Criador e o Filho de Deus – ele é o Salvador do mundo. O mesmo que criou as constelações em expansão no universo, que comanda cada célula de seu corpo, que sustenta cada átomo deste mundo, ele mesmo se fez carne, viveu sem pecado e morreu na cruz como substituto de pecadores. Ele pode te salvar. Ele pode trazer uma gênese para sua vida. Foi isso que ele veio fazer!
Se você nunca entendeu isso, perceba que há esperança para você. Existe um poder criador que pode recriar sua vida, regenerar sua alma. Há vida eterna que transformará a meia-noite de sua vida em aurora, luz do dia, vida e primavera.
Esse é o nosso Deus. Ele dá forma. Ele reordena a vida. Ele salva pecadores Ele fará isso por você, se você for a ele com arrependimento e fé.
S.D.G. L.B.Peixoto
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