17.04.2022
[1Coríntios 15] 58Portanto, meus amados irmãos, sejam fortes e firmes. Trabalhem sempre para o Senhor com entusiasmo, pois vocês sabem que nada do que fazem para o Senhor é inútil.
Não sei você, mas olhando ao redor, eu chego à conclusão de que não há muito espaço para a esperança; as pessoas parecem não estar vivendo com entusiasmo. A sensação é de que apenas e tão somente se luta para sobreviver: cada um cuidando da própria vida; todo mundo se sentindo fraco e frágil. Será mesmo que há alguma esperança para você?
Paulo, nesse versículo que acabamos de ler, atesta que é sim possível ser forte e firme, vivendo para o Senhor e servindo ao Senhor com entusiasmo, mantendo a certeza de que não será em vão ou inútil [vazio] no final. Portanto, é disso que hoje à noite eu quero tratar com você: quero te dar a razão para viver; quero te apresentar a esperança, a única esperança que será capaz de te fortalecer, firmar e fazer trabalhar com entusiasmo, tendo a certeza no final de que não foi em vão viver para o Senhor e servi-lo.
O versículo que lemos começa com uma conjunção: “Portanto”.
A boa gramática traz que essa conjunção conclusiva – “portanto”– introduz uma uma frase que contém a conclusão de um raciocínio ou exposição de motivos anterior; traz a ideia de “consequentemente”, “por isso”, “assim sendo” ou “desse modo”. Esse “portanto”, portanto, conecta a esperança, a força, a firmeza e o entusiasmo de viver com o que foi tratado anteriormente. E o tema tratado ao longo deste capítulo inteiro foi a ressurreição de Jesus Cristo.Trocando em miúdos: a ressurreição de Jesus é a fonte de entusiasmo ou de esperança para viver (e morrer).
Já que hoje é o domingo de Páscoa, o domingo da ressurreição, achei por bem ler e comentar este capítulo da palavra de Deus – e, ao final, tecer algumas aplicações.
Tenho plena certeza de que capítulos da Bíblia não competem por importância, mas nenhum capítulo é mais importante do que 1Coríntios 15. Este capítulo define o evangelho pelo qual somos salvos, demonstra a historicidade da ressurreição do Senhor Jesus Cristo e destaca a certeza da ressurreição dos mortos em Cristo Jesus. Portanto, 1Coríntios 15 oferece a explicação mais completa na Bíblia sobre a ressurreição do corpo e a esperança viva que todos os crentes possuem.
A nota de comentário da Bíblia de Estudo NAA destaca como manchete para 1Coríntios 15 a seguinte frase: a inutilidade da fé, no caso de os mortos não ressuscitarem. E complementa:
Muitas pessoas no antigo mundo greco-romano acreditavam que a morte extinguia a vida completamente ou levava a uma existência permanente, sombria e imaterial no mundo dos mortos. O conceito de uma existência física e corpórea após a morte era conhecido principalmente de fábulas populares e considerado ridículo pelas pessoas cultas da época. [Qualquer semelhança como os nossos dias não é mera coincidência.] Paulo trata [portanto,] da negação (v. 12) e da confusão dos coríntios (v. 35) sobre a ressurreição futura e corporal dos cristãos. Estes assuntos foram provavelmente levantados na carta que os coríntios haviam escrito para Paulo (cf. 1Co 7.1).
Paulo, portanto, está tratando da negação, da incredulidade de alguns da própria igreja: 1Coríntios 15.12 — “Pois bem, se proclamamos que Cristo ressuscitou dos mortos, por que alguns de vocês afirmam não haver ressurreição dos mortos?” De fato, os coríntios criam na ressurreição de Jesus: versículo 11 — “Logo, não faz diferença se eu prego ou se eles pregam, pois todos nós anunciamos a mesma mensagem na qual vocês já creram (i.e., morte e ressurreição de Jesus, cf. vs. 3-4).” O que eles não criam – e já citamos – era na ressurreição corporal dos cristãos. Daí que – na sequência do texto, versículos 12-19 – Paulo enfatizará quatro vezes que aqueles que negam a ressurreição física e corporal dos crentes também negam a ressurreição corporal de Cristo, mesmo que afirmem que a de Cristo é verdadeira.
Pois bem, de que modo Paulo constrói seu argumento na defesa da ressurreição de Cristo e dos cristãos? Ele o faz da seguinte maneira (e aqui nós seguiremos, com algumas adaptações, a divisão do texto bíblico oferecido pela Bíblia de Estudo da Fé Reformada (editora Fiel):
A batida do coração do evangelho é a morte e ressurreição de Jesus. Dito de outra forma: o que faz pulsar o evangelho é a morte e ressurreição de Jesus Cristo. É tanto que para tratar da ressurreição Paulo não começa de outro modo, senão pelo evangelho. Portanto, note os seguintes: o processo, o objetivo e o conteúdo do evangelho apostólico:
O processo do evangelho
1Coríntios 15.1 Agora, irmãos, quero lembrá-los das boas-novas [do evangelho] que lhes anunciei anteriormente. Vocês as receberam e nelas permanecem firmes.
O objetivo do evangelho
1Coríntios 15.2 São essas boas-novas que os salvam, se continuarem a crer na mensagem como lhes anunciei; do contrário, sua fé é inútil [eikon: imagem falsa].
NOTE: salvação evangélica envolve: crer (v. 1), perseverar (v. 1) e manter-se na verdade do evangelho (v. 2).
O conteúdo do evangelho
1Coríntios 15.3-4 3Eu lhes transmiti o que era mais importante e o que também me foi transmitido: Cristo morreu por nossos pecados, como dizem as Escrituras. 4 Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras.
Paulo passará a demonstrar que a ressurreição de Jesus poderia ser atestada por um grande número de pessoas, todas elas bastante confiáveis, e a maioria delas ainda estavam vivas para serem consultadas; e esse grande número de testemunhas comprovava que não poderia ter se tratado de alguma alucinação de uma minoria fanática:
1Coríntios 15.5-7 5Apareceu a Pedro e, mais tarde, aos Doze. 6Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda está viva, embora alguns já tenham adormecido. 7Mais tarde, apareceu a Tiago e, posteriormente, a todos os apóstolos.
Mas Jesus também apareceu a alguém em especial; e pela linguagem de Paulo, dá para perceber que o apóstolo está combatendo alguma crítica irônica daqueles coríntios que o tinham em baixa estima (cf. 2.1: onde se lê que havia crítica por ele não ter usado de palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o evangelho). Então Paulo argumenta:
1Coríntios 15.8-9 8Por último, apareceu também a mim, como se eu tivesse nascido fora de tempo. 9Pois sou o mais insignificante dos apóstolos. Aliás, nem sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.
No entanto, senhores coríntios:
1Coríntios 15.10-11 10O que agora sou, porém, deve-se inteiramente à graça que Deus derramou sobre mim, e que não foi inútil. Trabalhei com mais dedicação que qualquer outro apóstolo e, no entanto, não fui eu, mas Deus que, em sua graça, operou por meu intermédio. 11Logo, não faz diferença se eu prego ou se eles pregam, pois todos nós anunciamos a mesma mensagem na qual vocês já creram.
Paulo tinha recebido da graça de Deus; ele próprio também foi testemunha do Cristo ressuscitado; ele, portanto, tinha autoridade apostólica quando esse mesmo Cristo vivo (em pessoa) o comissionou para pregar aos gentios; mas nem por isso Paulo se deixava envaidecer, pois sabia que era tudo obra da graça de Deus na vida dele; a autoridade não estava nele ou nos demais apóstolos em si, mas na mensagem que eles pregavam e na qual os coríntios já tinham crido.
S.D.G. L.B.Peixoto
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