10.12.2017
VOCÊ É MESMO UM CRISTÃO?
João 3.1-15
1Havia um fariseu chamado Nicodemos, líder religioso entre os judeus. 2Certa noite, veio falar com Jesus e disse: “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”. 3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”. 4“Como pode um homem velho nascer de novo?”, perguntou Nicodemos. “Acaso ele pode voltar ao ventre da mãe e nascer uma segunda vez?” 5Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: ninguém pode entrar no reino de Deus sem nascer da água e do Espírito. 6Os seres humanos podem gerar apenas vida humana, mas o Espírito dá à luz vida espiritual. 7Portanto, não se surpreenda quando eu digo: ‘É necessário nascer de novo’. 8O vento sopra onde quer. Assim como você ouve o vento, mas não é capaz de dizer de onde ele vem nem para onde vai, também é incapaz de explicar como as pessoas nascem do Espírito”. 9“Como pode ser isso?”, perguntou Nicodemos. 10Jesus respondeu: “Você é [o] mestre respeitado em Israel e não entende essas coisas? 11Eu lhe digo a verdade: falamos daquilo que sabemos e vimos e, no entanto, vocês não creem em nosso testemunho. 12Se vocês não creem em mim quando falo de coisas terrenas, como crerão se eu falar de coisas celestiais? 13Ninguém jamais subiu ao céu, exceto aquele que de lá desceu, o Filho do Homem. 14E, como Moisés, no deserto, levantou a serpente de bronze numa estaca, também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todo o que nele crer tenha a vida eterna.
Os tempos são outros
Houve um tempo em que quando alguém dizia ser crente você podia acreditar. Não é mais assim. Os tempos são outros. John MacArthur acertou em cheio ao afirmar que
Nem todos os que afirmam ser cristãos são realmente cristãos. Incrédulos fazem falsas profissões de fé em Cristo, e as pessoas que não são verdadeiramente cristãs podem ser enganadas ao pensarem que são cristãs.
Por quê? O que teria acontecido com a cristandade, especialmente com os círculos evangélicos do nosso país? Por que uma afirmação tão séria como esta (“Eu sou crente!” ou “Eu sou cristão!”) não pode mais ser tida como certa para grande parte daqueles que professam fé? A explicação de John MacArthur é esclarecedora. Ele escrever que
A graça barata e a pseudo fé de um evangelho distorcido estão arruinando a pureza da igreja. O amolecimento da mensagem do Novo Testamento trouxe consigo um inclusivismo apodrecido que, de fato, vê quase qualquer tipo de resposta positiva a Jesus como equivalente à fé salvadora. Os cristãos de hoje são suscetíveis a aceitar qualquer coisa como fé autêntica em Cristo, com excessão, é claro, de uma rejeição declarada a Jesus. O evangelicalismo moderno desenvolveu uma margem grande demais, abraçando até aqueles cuja doutrina é suspeita ou cujo comportamento indica um coração em rebelião declarada às coisas de Deus. [O Evangelho Segundo Jesus, ed. FIEL.]
Lamentável, mas é a mais pura verdade! Os tempos são outros. As coisas mudaram para pior, muito pior. Como saber se você é de fato um cristão ou um crente em Jesus Cristo? O texto de João que nós temos para hoje tem muito a nos ensinar.
Jesus sabe de todas as coisas
João está nos relatando a visita de Jesus a Jerusalém. É o comecinho do ministério público do Filho encarnado de Deus. A história desta visita à capital da fé de Israel é breve. Lemos que Jesus subiu à cidade santa para a festa da Páscoa e encontrou a casa de seu Pai em um estado de imundice espiritual lamentável (Jo 2.13-22). Acontece que, com o consentimento dos líderes religiosos, afinal eles tinham enormes interesses na participação dos lucros financeiros do templo, comerciantes e negociantes haviam se instalado no templo. Jesus, então, fez um chicote de cordas e os expulsou do pátio dos gentios, inaugurando sua série de confrontos com os líderes judeus.
Antes desse episódio, porém, Jesus esteve em uma festa de casamento lá em Caná da Galileia, onde realizou seu primeiro milagre, transformando água em vinho (Jo 2.1-12). Portanto, é bastante provável que, depois daquele primeiro sinal, o Senhor tenha realizado outros sinais que não estão registrados neste Evangelho (Jo 20.30 e 21.25). Observe como João concluiu o capítulo segundo (Jo 2.23-25):
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
Dentre esses “muitos” que “creram” em Jesus, somos informados à respeito de um “homem” em especial, alguém de destaque entre os judeus — mestre em Israel (v. 10), mas que vai ao encontro do Mestre. Seu nome é Nicodemos, o nosso personagem de hoje.
João insere o encontro de Jesus com Nicodemos neste ponto da narrativa para expandir a revelação que ele está fazendo sobre a onisciência de Jesus. Afinal, João havia acabado de dizer que “Jesus, porém, não confiava neles [nos muitos que creram], pois conhecia a todos. Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano [o homem] é de fato, pois ele conhecia a natureza humana” (Jo 2.24-25). Ora, dentre esses “humanos”, “havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos” (Jo 3.1). Perceberam a conexão?
A história de Nicodemos prova a divindade gloriosa de Jesus Cristo, revelando-o onisciente, ou seja, apresentando-o como o Deus que é sabedor ou conhecedor de todas as coisas — passadas, presentes e futuras; dentro e fora do coração dos seres humanos. João, portanto, quer lhe garantir que Jesus sabe se você é mesmo um cristão. As pessoas podem se impressionar com você, com o tamanho de sua fé, com a qualidade de cristão que você aparenta ser, mas o que de fato conta é o que Jesus vê no seu coração.
Veja o caso de Nicodemos. Jesus olhou para o coração daquele homem e lhe deu uma resposta (para muitos, deselegante) que demonstrou onisciência. Sem ao menos afirmar, negar, refutar ou mesmo reconhecer a declaração de Nicodemos de que Jesus era da parte de Deus, o Senhor confrontou Nicodemos, dizendo: “Nicodemos, vamos deixar as coisas bem claras, você não é um cristão! Eu conheço você!”. Observe (Jo 3.1-3):
1Havia um [homem] fariseu chamado Nicodemos, líder religioso entre os judeus. 2Certa noite, veio falar com Jesus e disse: “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”. 3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”.
Jesus é franco e direto ao ponto, sem perder, contudo, a graça; ele é cheio de graça (pois ouviu Nicodemos e lhe apresentou o caminho para a salvação), mas também é cheio de verdade (pois lhe disse ser necessário nascer de novo, senão Nicodemos não veria o reino de Deus). Jesus sabe de todas as coisas.
Você é mesmo um cristão?
Você é mesmo um cristão? Olhe comigo para este texto de João; busquemos juntos a resposta. Há três observações que faremos: para ser cristão você precisa nascer de novo; ser cristão é obra sobrenatural da graça de Deus; e o cristão demonstra os efeitos do novo nascimento.
1. Para ser cristão você precisa nascer de novo
Nicodemus não faria o tipo do bom irmão para dar seu testemunho em grandes encontros nas igrejas. Afinal, ele não era um ex-drogado, ex-bêbado, ex-ladrão, ex-traficante, ex-condenado, ex-assassino, ex-pervertido sexual… Nada disso! Nicodemos era o típico bom mocinho. Moço de igreja. Nasceu e cresceu na igreja. Nunca experimentou o mundo. Gente assim, bons mocinhos, geralmente, não têm bons testemunhos para dar; digo, eles não têm histórias poderosas de transformação para contar e impressionar; sempre foram certinhos; viveram a vida toda na igreja. Assim era Nicodemos.
Nicodemus era fariseu (Jo 3.1). Nós não costumamos valorizar o típico fariseu. Afinal, Jesus não se cansou de criticá-los por causa da hipocrisia. Não se esqueça, porém, que eles eram as pessoas mais respeitadas de seu tempo. Os problemas de Jesus com os fariseus decorriam de práticas e ensinamentos legalistas. Não se podia negar, no entanto, que eram todos bastante morais, viviam acima da média da ética de todo mundo e, por isso, desfrutavam de grande respeito em Israel. Assim era Nicodemos, um exemplo de homem.
Nicodemos era membro da elite governante de Israel (Jo 3.1). João nos diz que ele era “um dos principais do judeus” (ARA); “líder religioso entre os judeus” (NVT) ou “uma autoridade entre os judeus” (NVI). Certamente que era membro do Sinédrio, o mais alto órgão de governo da nação. Nicodemos, portanto, era membro da elite governante de Israel.
Nicodemos era mestre em Israel (Jo 3.10). Ao repreendê-lo no versículo 10, dizendo: “Você é ‘o’ mestre, respeitado em Israel, e não entende essas coisas?”, Jesus nos revela que Nicodemos era o grande mestre acadêmico. Afinal, há o artigo definido no original grego. Logo, de duas, uma: ou Nicodemos era o mestre ou ele estava entre os principais mestres fariseus. Ele era referência acadêmica naquela nação.
Nicodemos era alguém de cultura elevada (Jo 3.1). Como nós podemos afirmar isto? “Nicodemos” é um nome grego. Os judeus de classe alta geralmente devam aos seus filhos nomes judeus e gregos, demonstrando os dois mundos pelos quais eles transitavam. Adotar o nome grego, significava que Nicodemos teria se destacado pelo elevado conhecimento não apenas da lei dos judeus, mas também da filosofia dos gregos.
Nicodemos não era um homem qualquer. Ele tinha pedigree. Era religioso, ético, moral, culto, mestre e governante de respeito entre o seu povo. É difícil, se não impossível, encontrar uma figura semelhante a ele em nosso contexto nacional e até mundial. Afinal, quem dos nossos representantes combinaria política com excelência ética, moral e erudição acadêmica? Quem, no cenário atual, poderia se destacar com tamanha fé e piedade, a ponto de transitar entre os palácios do poder e qualquer igreja cristã; entre o mundo acadêmico e a esfera religiosa; entre a rotina do horário comercial e os cultos na igreja sem deixar qualquer mácula ou sombra de dúvida sobre seu caráter? Não há!
Se os religiosos de Israel tivessem que eleger um representante em Jerusalém, dificilmente haveria nome melhor que Nicodemos. Então, por que alguém como ele se arriscaria a perder o prestígio e a reputação indo se encontrar com Jesus? Note que ele vai ao encontro de Jesus na calada da noite. Seus seguidores jamais poderiam encontrá-lo naquela posição. Muito menos ouvir o que e como ele conversou com Jesus. Já pensou se Jesus fosse um delator com microfone escondido em algum lugar do corpo? Observe:
1Havia um fariseu chamado Nicodemos, líder religioso entre os judeus. 2Certa noite, veio falar com Jesus e disse: “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”.
Como assim? Você, Nicodemos! Chamando Jesus de Mestre (Rabi)? Afirmando que Deus mesmo o enviou? Reconhecendo os sinais e milagres de Jesus como algo da parte de Deus? Como assim? Imaginem o que não poderia acontecer com a carreira deste “mestre em Israel” (v. 10) por conta desse encontro escondido, fora da agenda oficial do Sinédrio?
O que ele estava querendo com Jesus?
Na verdade, inicialmente não nos parece que Nicodemos estivesse interessado em se converter à Cristo como Salvador e Senhor, mas em converter Cristo ao Sinédrio. Há pelo menos duas pistas no texto. Primeira pista, a argumentação de Nicodemos com Jesus. Segunda pista, a resposta de Jesus a Nicodemos.
A argumentação de Nicodemos
2[…] “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”.
Pode-se notar nesta fala que, na verdade, existe algo bem diferente de um simples interesse na pessoa de Jesus. Nicodemos parece estar numa missão. Suspeito que a intensão dele fosse cooptar Jesus. Primeiro, porque ele chega dizendo “Rabi”; ele se nivela a Jesus; ou melhor, eleva Jesus ao nível dele: “Rabi” em Israel. Segundo, porque ele pluraliza o verbo e o pronome: “todos nós sabemos que”. Todos nós quem? Ele e os demais do Sinédrio que consentiram com a ida de Nicodemos até Jesus. Nicodemos parece estar querendo impressionar Jesus com sua posição de influência. Terceiro, porque Nicodemos admite alguma aprovação de Deus sobre o ministério de ensino de Jesus por causa dos sinais realizados. Quem membro do Sinédrio, pois, não desejaria ter perto deles alguém assim?
Em outras palavras, portanto, parece-nos que Nicodemos intencionava cooptar ou apadrinhar Jesus. Parece que, na verdade, tudo o que Nicodemos estava dizendo era mais ou menos o seguinte:
“Veja bem, nós sabemos que você é de Deus. Seus sinais só podem vir de Deus! Mas as coisas são bem diferentes em Jerusalém do que em Nazaré. Você vai precisar de bons padrinhos, conselheiros, jeitinhos, suporte e até recursos. Eu estou aqui porque nós podemos ajudá-lo nestes seus assuntos.”
Nós não podemos ser dogmáticos sobre a intensão de Nicodemos, pois Jesus o interrompeu abruptamente e ele não pôde prosseguir com a conversa inicial. Mas tem outra coisa, além de tudo o que já argumentamos: note quão diferente é esta atitude de Nicodemos diante de Jesus em relação aos outros que, como ele, também se aproximaram de Jesus; lemos nos Evangelhos sobre eles dizendo: “Tenha misericórdia de mim, pecador!” Nicodemos pode ter ido a Jesus com boa vontade, mas foi muito mais como um um padrinho ou padroeiro do que como um pecador em busca de perdão e salvação.
Em todo caso, como Jesus “não confiava neles, pois conhecia a todos. Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana” (Jo 2.24-25), o que Nicodemos estava dizendo ou pensando em dizer sugere uma atitude nada republicana ou nem um pouco humilde em relação ao nosso Senhor. A resposta de Jesus nos reforça o que estamos dizendo: Nicodemus tinha segundas intenções! Observe a segunda pista…
A resposta de Jesus a Nicodemos
2[…] “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”. 3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”.
Interessante que Jesus nem deixa Nicodemos prosseguir. Abruptamente ele interfere na conversa e diz a Nicodemos o que de fato importa, o que realmente precisa acontecer para que alguém se torne cristão. Não que Nicodemos estivesse interessado em se tornar cristão. Como dissemos, parece-nos que não. A missão de Nicodemos parecia ser outra. Jesus, no entanto, entra em missão; com graça e com verdade ele diz:
“Nicodemos, veja bem você o seguinte, se você realmente deseja ter alguma parte comigo, não será de acordo com os seus termos nem nos termos da sua religião e muito menos com os seus jeitinhos. Aliás, no estado em que você se encontra não dá. Você precisa nascer de novo. Do contrário, você continuará cego para o reino de Deus. Você continuará vivendo para a glória dos homens. Você continuará rebelde e condenado (Jo 3.18 e 36). Por isso é que eu te digo: você precisa nascer de novo. Não importa quão religioso, ético, moral, culto ou dedicado você seja. Boas intenções não salvam ninguém. Você precisa nascer de novo, senão você não verá o reino de Deus!”
Torna-se cristão quem nasce de novo. Se alguém não nascer de novo, essa pessoa continuará religiosa, poderá até viver de forma ética, moral e trabalhadora. Tal indivíduo poderá fazer muitas coisas boas para o bem comum; poderá inclusive tratar Jesus com honra. O problema, porém, é que, enquanto nós não nascemos de novo, nós não somos capazes de ver a Deus nem de provar de Deus; nós não nos relacionamos em amor com Deus; nós mantemos um coração orgulhoso, vaidoso, rebelde e ousado, como o de Nicodemos; mantemos um coração escravo de nosso servo-arbítrio (livre-arbítrio escravizado pelo pecado) — um coração que vive para si mesmo, em busca da glória dos homens. Se não nascermos de novo, nós poderemos até cultivar um verniz de piedade (religiosidade, espiritualidade), mas seguiremos existindo sem vida de verdade. Não passaremos de bonecos de cera. Continuaremos espiritualmente mortos e condenados.
Para ser cristão você precisa nascer de novo.
2. Ser cristão é obra sobrenatural da graça de Deus
Ser cristão não é resultado de algo que nós fazemos, mas fruto de tudo o que Deus fez por nós (fora de nós — em Cristo), em nós (santificando-nos pelo Espírito Santo) e através de nós (empoderando-nos para levarmos a mensagem do evangelho da glória e da graça de Deus aos demais pecadores). Saiba, pois, que o próprio Deus, em Cristo, é o Autor e o Consumidor da fé do cristão (Hb 12.2); ele é quem efetua no cristão tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fl 2.13); ele que começa boa obra no cristão e haverá de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus (Fl 1.6); afinal, “dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).
A obra sobrenatural da graça de Deus, tornando alguém cristão, começa com o novo nascimento. Nascer de novo (Jo 3.3) significa nascer do alto. Ou seja: é algo que do alto é feito por nós e dentro de nós. É o milagre da graça regenerando o coração do pecador. Regenerar significa gerar de novo; fazer reviver; ressuscitar; tornar pedra em carne.
Jesus mesmo, respondendo às indagações de Nicodemos, explica porque ser cristão é obra sobrenatural da graça de Deus: porque é algo que vem do alto em nosso favor, nós mesmos não conseguimos fazer por nós mesmos.
Observe o argumento de Jesus. Aprendemos com ele que em seu estado natural, o ser humano: 1não passa de carne sem vida (não deseja a Deus; está espiritualmente morto), 2não possui entendimento espiritual (não compreende as coisas de Deus; está cego) e 3não pode se achegar a Deus (está condenado pelo pecado; moralmente separado).
3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”. 4“Como pode um homem velho nascer de novo?”, perguntou Nicodemos. “Acaso ele pode voltar ao ventre da mãe e nascer uma segunda vez?” 5Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: ninguém pode entrar no reino de Deus sem nascer da água e do Espírito. 6Os seres humanos podem gerar apenas vida humana, mas o Espírito dá à luz vida espiritual. 7Portanto, não se surpreenda quando eu digo: ‘É necessário nascer de novo’. 8O vento sopra onde quer. Assim como você ouve o vento, mas não é capaz de dizer de onde ele vem nem para onde vai, também é incapaz de explicar como as pessoas nascem do Espírito”. 9“Como pode ser isso?”, perguntou Nicodemos. 10 Jesus respondeu: “Você é [o] mestre respeitado em Israel e não entende essas coisas? 11Eu lhe digo a verdade: falamos daquilo que sabemos e vimos e, no entanto, vocês não creem em nosso testemunho. 12Se vocês não creem em mim quando falo de coisas terrenas, como crerão se eu falar de coisas celestiais? 13Ninguém jamais subiu ao céu, exceto aquele que de lá desceu, o Filho do Homem. 14E, como Moisés, no deserto, levantou a serpente de bronze numa estaca, também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todo o que nele crer tenha a vida eterna.
Jesus não somente ensina que nós não conseguimos, por nós mesmos, nos tornar cristãos; ele também revela como se dá, em nós, o milagre do novo nascimento.
Ser cristão, portanto, é obra sobrenatural de Deus.
Sim, conforme os batistas sempre creram e atestaram em suas confissões de fé ou declarações doutrinárias, entendemos pela Bíblia que
o arrependimento e a fé são deveres sagrados, e também graças inseparáveis, operadas em nossas almas pelo Espírito regenerador de Deus; pelo que sendo profundamente convencidos de nossa culpa, perigo e incapacidade, e do caminho da salvação por Cristo, nós retornamos para Deus com contrição, confissão e súplica por misericórdia não fingidas; ao mesmo tempo recebendo genuinamente o Senhor Jesus Cristo como nosso profeta, sacerdote e Rei, e confiando nele somente como único e todo-suficiente salvador.
(Art. 8 de New Hampshire ou “Declaração de Fé das Igrejas Batistas do Brasil” até o ano de 1985)
Para ser cristão você precisa nascer de novo e ser cristão é obra sobrenatural de Deus, mas tem mais; o cristão demonstra os efeitos do novo nascimento. É o que passaremos a ver.
3. O cristão demonstra os efeitos do novo nascimento
João relata algo muito interessante da fala de Jesus: “Você não sabe explicar, mas consegue notar as diferenças na sua vida e também na vida de quem também nasceu de novo!”. Disse assim o Senhor (Jo 3.8):
8O vento sopra onde quer. Assim como você ouve o vento, mas não é capaz de dizer de onde ele vem nem para onde vai, também é incapaz de explicar como as pessoas nascem do Espírito”.
Ou seja: quem nasceu de novo é capaz de ouvir e de sentir a palavra e as coisas de Deus, mesmo quando não as souber explicar. O fato, porém, é que o cristão sente e demonstra os efeitos do novo nascimento. A vida desse cristão será caracterizada por arrependimento, fé e novidade de vida. Que tipo de novidade? Deixemos o próprio João, escrevendo lá na sua primeira carta, nos descrever alguns dos efeitos do novo nascimento.
1Jo 2.29 | Porque sabemos que ele é justo, também sabemos que todo o que pratica a justiça é nascido de Deus.
1Jo 3.9 | Aquele que é nascido de Deus não vive no pecado, pois a vida de Deus está nele. Logo, não pode continuar a pecar, pois é nascido de Deus.
1Jo 4.7-8 | 7Amados, continuemos a amar uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus. 8Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
1Jo 5.1, 4 e 18 | 1Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus. […] 4Pois todo aquele que é nascido de Deus vence este mundo, e obtemos essa vitória pela fé. […] 18Sabemos que os nascidos de Deus não vivem no pecado, pois o Filho de Deus os protege e o maligno não os toca.
O cristão demonstra os efeitos do novo nascimento.
Você é mesmo um cristão?
Você é mesmo um cristão? Depois de tudo o que vimos, minha oração é que você tenha compreendido que para ser cristão você precisa nascer de novo; que ser cristão é obra sobrenatural da graça de Deus; e que o cristão demonstra em sua maneira de viver os efeitos do novo nascimento — i.e., arrependimento, fé e frutos de justiça, amor e santidade.
Nicodemos começou mal, mas terminou muito bem. Ele foi alvo da graça de Deus e recebeu o novo nascimento. Arrependeu-se. Creu e viveu uma nova vida. Foi ele e José de Arimateia que cuidaram de dar um sepultamento digno a Jesus (cf. Jo 19.38-42). Que diferença! Aquele que foi a Jesus durante a noite, agora andava com ele à luz do dia.
Permitam-me concluir fazendo três aplicações muito importantes:
1 — Examine seu coração e seu comportamento
Visto que a religião ou a religiosidade é um verniz muito comum para não ter que se preocupar com o novo nascimento (Mt 7.21), cada um de nós, inclusive os membros da igreja, deve examinar a si mesmo para ver se realmente nascemos de Deus (2Co 13.5). O Novo Testamento oferece muitos testes que podemos aplicar a nós mesmos. Aqui estão alguns, extraídos dos princípios que já vimos lá na primeira carta de João:
Examine seu coração e seu comportamento. Não se esconda atrás do verniz da religiosidade. Não seja como Nicodemos foi, lá no início da caminhada dele.
2 — Humilhe-se aos pés de Jesus Cristo
Após os testes, a segunda aplicação a fazer é debruçarmo-nos aos pés do Senhor, pois todos nós, de uma forma ou de outra, pecamos. Portanto, confesse seu pecado, seja ele qual for; arrependa-se; coloque sua fé em Jesus.
3 — Clame pelo Espírito Santo
Deus precisa soprar o Espírito em sua vida, no seu coração. Se ele não iniciar uma obra da graça em sua vida, você continuará vivendo religiosamente, mas sem salvação. Clame pelo sopro do Espírito em sua vida; clame por salvação: 1admita para Deus que a salvação é obra sobrenatural da graça em nossas vidas; 2peça a ele que te faça nascer de novo; 3suplique a ele que te dê o poder de ser feito filho de Deus e, assim, possa viver em novidade de vida. Você é mesmo um cristão? Arrependa-se. Creia. Viva uma nova vida.
S.D.G. L.B.Peixoto
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