01.08.2018
VONTADE DE DEUS PRA QUÊ?
Colossenses 1.1
Eu, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus…
Vontade de Deus pra quê?
Cristãos professos e praticantes podem estranhar a pergunta. Mas ela não é assim tão sem lógica para todo mundo. Ela é mais comum do que imaginamos. Só que, geralmente, o questionamento pipoca na alma humana com outras caras, nas formas e cores mais variadas.
Sempre que os desejos pessoais mais caros do coração são de alguma forma barrados ou questionados a gente reage: Quem é você para me dizer o que eu devo fazer? Por que eu não posso fazer o que sinto vontade? Como assim, eu não devo ouvir a voz do coração? Vontade de Deus pra quê? Pra podar a minha felicidade? Pra se contrapor a tudo o que eu mais quero, e viver infeliz? Deus quer a minha infelicidade? E por aí vai…
Nada, porém, é mais libertador, mais encorajador, mais fortalecedor e, afinal prazeroso, do que a vontade de Deus para a vida de quem o teme e o segue com fé. Paulo, o apóstolo, disse que a vontade de Deus para a vida da gente é sempre “boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2). Por que, então, tantas vezes, ela parece ser um desmancha prazer?
A vontade do homem em si mesma, sem a graça regeneradora e transformadora do Espírito Santo, será sempre pelo prazer sem Deus; isto é, um prazer em si mesmo (vazio), um prazer apenas para si mesmo (desumanizador), uma prazer para aqui mesmo (inconsequente), e que por isso Hebreus chama de prazer transitório do pecado (11.25). Assim é que toda vez que topamos de cara com a graça de Deus na forma de sua vontade boa e agradável expressa para a vida da gente, o coração (incrédulo) grita: Assim não! Assim eu não quero! Assim não pode ser, pois o que eu sinto e percebo e desejo é outra coisa bem diferente disso. Deus não pode querer para mim o que vai me deixar infeliz!
Então… não é assim que a maioria pensa ou sente? Vontade de Deus pra quê? Importa é a minha vontade. E que Deus (só) me ajude! Porém, considere o que Paulo escreveu, introduzindo sua carta aos cristão da antiga cidade de Colossos, uma das principais do império Romano à época e atualmente na Turquia:
Eu, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus…
Apóstolo, eu?
Uma das razões pelas quais ignoramos certas declarações na Bíblia é a crença equivocada de que elas, simplesmente, não se aplicam mais a nós hoje. Por exemplo: quando Paulo introduz suas cartas, ele tipicamente se descreve na forma que acabamos de ler: apóstolode Jesus Cristo pela vontade de Deus(Cl 1.1; Ef 1.1; 2Tm 1.1; 1Co 1.1; Gl 1.1).
Eu não sou apóstolo e duvido que você seja ou que exista algum apóstolo hoje nos termos bíblicos (At 1.21-26; 1Co 9.1; 2Co 12.12). Apóstolos foram levantados por Deus, no início da igreja, dentre outras coisas, para dar o testemunho ocular da ressurreição de Cristo, receber a revelação do Novo Testamento (Jo 14.26), e interpretar e definir as doutrinas e os fundamentos da igreja (Ef 2.20; 1Ts 2.13). Isso já se deu e já se cumpriu.
Então, que relevância tem uma declaração como essa para você e para mim? Antes de responder, vamos considerar o que Paulo tinha em mente para si mesmo e para seus leitores ao se apresentar como “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus” (Cl 1.1).
Apóstolo de Jesus Cristo
“Eu, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo”. Paulo desejava que os crentes de Colossos soubessem que ele era realmente apóstolo, de fato e de direito. Por quê? Que necessidade é essa de autoafirmação? Muitos naquela época, em busca de prestígio e privilégios, estavam se autodenominando apóstolos. Por exemplo: sobre a igreja de Éfeso, em Apocalipse, lê-se o seguinte (Ap 2.2):
Sei de tudo que você faz [a igreja em Éfeso]. Vi seu trabalho árduo e sua perseverança, e sei que não tolera os perversos. Examinou as pretensões dos que se dizem apóstolos, mas não são, e descobriu que são mentirosos.
Percebeu? Havia muitos mentirosos que se diziam apóstolos. Seria Paulo mais um deles? Claro que não! Paulo era “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus” (Cl 1.1).
Quanta relevância nessas palavras, pois ainda hoje muitos estão se dizendo apóstolos ou que são da sucessão apostólica. Isso, porém, não existe. A Igreja Católica, por exemplo, não só afirma que o Papa é o vigário ou substituto de Cristo, como também faz outra reivindicação: a da sucessão apostólica. Mas não é só a Igreja Católica. Outro erro que ainda persiste: grupos evangélicos também reivindicam ter os seus apóstolos.
A bem da verdade, desde que o Cânon bíblico se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Por quê? Pela própria natureza do apostolado. Não se esqueça de que o ensino apostólico era pleno de autoridade. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do Antigo Testamento. Por isso, tendo recebido as Escrituras do Novo Testamento — O Cânon do NT, já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos (nem de profetas). Quando o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha a Bíblia completa. Uma vez completo o Cânon, os apóstolos não mais existem.
Temos hoje a Bíblia. Ela é a nossa autoridade. Temos pastores-mestres.
Pela vontade de Deus
Paulo era “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus”. Ele não só obteve autoridade como apóstolo “pela vontade de Deus”, como também se tornou um cristão “pela vontade de Deus”. Essa expressão — “pela vontade de Deus”— resume toda a sua perspectiva teológica. Tudo o que ele era e fazia era “pela vontade de Deus” (Rm 15.32).
A vontade de Deuso alcançou e o arrancou do vazio destruidor do farisaísmo ao qual ele era tão devoto (At 9; Fl 3.4-6); a vontade de Deus o salvou da condenação e o santificou para Deus (2Tm 1.9); a vontade de Deus lhe conferiu novo rumo e direção na vida, pois agora ele era “apóstolo de Jesus Cristo”e vivia como um “enviado para anunciar a vida que ele [Deus] prometeu por meio da fé em Cristo Jesus” (2Tm 1.1).
Faremos, pois, muito bem se nos propusermos a buscar a vontade de Deus para a nossa vida na revelação inspirada por Deus através de seus apóstolos e profetas, conforme hoje a temos nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Se não for na Bíblia, buscaremos a vontade de alguém noutro lugar, noutra pessoa, dentro ou fora da gente.
E nós com isso?
O que a expressão: “apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus” (Cl 1.1) tem a ver com você e comigo? Tudo! Aqui está o porquê. Não é simplesmente a autoridade apostólica de Paulo no primeiro século, mas todas as coisas em todas as áreas da nossa vida, a cada momento no século XXI e para sempre que devem ser atribuídas à “vontade de Deus” ou realizadas por causa da “vontade de Deus”. O próprio Paulo deixou isso claro em Efésios 1.11, quando ele descreveu Deus como aquele que tem um plano e“faz [com] que tudo ocorra de acordo com sua vontade”.
Você notou: “tudo”! Não apenas o ministério de Paulo, mas também a sua e a minha vocação neste mundo. Paulo era um apóstolo “pela vontade de Deus”, enquanto alguns de nós são professores “pela vontade de Deus”. Outras são donas de casa “pela vontade de Deus”, enquanto muitos são enfermeiros, médicos, advogados, operários, vendedores, empresários, investidores, atletas ou mesmo pastores e missionários “pela vontade de Deus”. A vontade de Deus se estende à nossa vida, vocação e carreira da mesma forma que foi com Paulo. A vontade de Deus para nós pode não envolver a mesma autoridade espiritual que a do apóstolo, mas não é de jeito nenhum em expressão menor do que foi na capacitação e no chamado de Deus para Paulo, Pedro, João ou qualquer pessoa a quem atribuímos grandeza.
Você parou para refletir sobre o fato de que você é quem é “pela vontade de Deus”, assim como o que você faz, onde você mora, quanto você ganha e tem, o que quer que você realize? Tudo é “pela vontade de Deus”. Agora, é claro que não estamos dizendo que nossos atos pecaminosos, atitudes rebeldes, falhas de caráter, tentações e falha em obedecer às Escrituras sejam “pela vontade de Deus”. Não, não, não, nada disso!
Por exemplo, se a Escritura, nas palavras do próprio Paulo, declara que “a vontade de Deus é que vocês vivam em santidade; por isso, mantenham-se afastados de todo pecado sexual”(1Ts 4.3), então não ousemos dizer que a imoralidade sexual (ou qualquer outra violação da palavra de Deus) é “pela vontade de Deus”. É obra do pecado, não da “vontade de Deus”.
Vontade de Deus pra quê?
Pois bem, de tudo o que vimos, vontade de Deus pra quê? Três coisas.
Primeiro, a vontade de Deus para nós em Cristo Jesus é que todos sejam salvos e conheçam a verdade(1Tm 2.4). Essa é a sua boa, agradável e perfeita vontade para seus filhos. Para isto, Deus Pai enviou Jesus Cristo(o substituto pelos nossos pecados; o único caminho ou meio para a nossa salvação); levantou apóstolos e profetas inspiradospelo Santo Espírito e que nos legaram as Escrituras; envia homens e mulheres de fé para anunciaro evangelho da glória e da graça de Deus em Cristo Jesus; envio o Espírito para regenerar e aplicar a salvação ao pecador. A verdade de Deus para nós em Cristo Jesus é libertadora (Jo 8.32). E ela pode ser conhecida nas Escrituras. Essa é a vontade de Deus. Não fosse “pela vontade de Deus”, ninguém o buscaria para a salvação.
Segundo, saber que minha vida, realizações, esforços, dons, talentos, recursos e oportunidades, tudo o que sou e tudo o que tenho é “pela vontade de Deus”, traz à minha vida um elemento de segurança. A segurança está na percepção de que minha vida não pode se estender para além da graça de Deus nem se encolher para aquém dela; ou seja: a vontade de Deus para minha vida me dá a garantia de que o Senhor transforma, redime todas as coisas para a sua glória e o meu bem. Afinal, se tudo é “pela vontade de Deus”, então eu posso celebrar a sua presença na minha vida e a sua mão em tudo o que eu procuro fazer em obediência à sua Palavra. A “vontade” de Deus abrange e permeia e infunde tudo o que você e eu seremos, faremos, diremos ou pensaremos.
Essa experiência com a segurança trazida “pela vontade de Deus” para a nossa vida se estende, especialmente, aos tempos de provações e dificuldades. Sofrer por causa da justiça é também “pela vontade de Deus”. De fato, Paulo declara que “vocês receberam”(isto é, foi-lhes dado graciosamente) “o privilégio não apenas de crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”(Fp 1.29). Saber que tais experiências dolorosas e, por vezes, desesperadoras, não são casuais ou acidentais, mas são orquestradas “pela vontade de Deus”, só nos sustenta na hora do teste ou da prova.
Terceiro, saber que Deus está fazendo todas as coisas acontecerem “de acordo com sua vontade” (Ef 1.11) confere dignidadenão apenas ao apostolado de Paulo, mas também à nossa vida e vocação. Deus valoriza quem somos e o que fazemos, porque é fruto da vontade dele trabalhar e orquestrar todas as coisas para a glória e louvor da sua graça em Cristo Jesus em nós e através de nós. Não há trabalho de segunda categoria ou ministério inferior ou vida e esforço sem sentido quando tudo é “pela vontade de Deus”.
Ficamos impressionados quando pensamos, por exemplo, que uma jovem mãe, em algum lugar, neste momento troca a fralda do filho “pela vontade de Deus”; ao mesmo tempo que eu estou aqui pregando essa mensagem “pela vontade de Deus” e que você está aí me ouvindo “pela vontade de Deus” e que todos nós estamos, simultaneamente, respirando “pela vontade de Deus”.
Então, jamais ouse pensar que, por você não ser apóstolo ou pastor ou uma figura pública com poder e prestígio, você é um produto menor da vontade de Deus. Não existe categorias de quantidade ou de qualidade para a vontade de Deus. Simplesmente existe a vontade de Deus. Portanto, regozije-se de que tudo é “pela vontade de Deus”. A sua salvaçãoé “pela vontade de Deus”, sua segurançaestá na “vontade de Deus” e a dignidadede tudo o que você é e faz lhe é conferida “pela vontade de Deus”.
S.D.G. L.B.Peixoto
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